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Artigas: La Redota (Uruguai, 2011) |
Em 1884, o governo uruguaio dá ao
retratista compatriota Juan Manuel Blanes (1830 – 1901) a missão de retratar
José Artigas (1764 – 1850). Motivos políticos à parte, a tarefa era grandiosa.
Para os uruguaios, el libertador Artigas foi mais que o rosto de um homem
corajoso. Pelos ideais cultivados e feitos realizados, o homem se confunde com
a identidade uruguaia e o mais primitivo dos anseios humanos: liberdade.
El libertador Artigas:
Carregado de um bom material histórico e político, a trama já fica
interessante quando inicia pela tarefa do pintor em reconstruir a imagem de um herói.
A tarefa é difícil, pois o material disponível para produzir a pintura são
anotações de 70 anos atrás, feitas por Guzmán Larra (Rodolfo Sancho), um espião
espanhol enviado para se infiltrar entre os revolucionários e matar Artigas
(Jorge Esmoris). Com isso temos duas narrativas, em momentos diferentes, onde esses
dois homens tentam encontrar Artigas, líder da marcha histórica conhecida como La Redota, quando o líder
fugiu com milhares de seguidores e deu início ao movimento nacionalista do
Uruguai. Com histórias separadas pelo tempo, Blanes e Larra se encontram na
busca pelo herói da independência do país.
Muito boa a idéia de mostrar um herói que realmente existiu, este quase
desconhecido pelos brasileiros, herói nacional do Uruguai, José Artigas.
Percebemos um grande feito da equipe de produção do filme, em resgatar muito
conteúdo histórico para agregar à trama.
Na primeira parte da narrativa, vemos os defeitos de Artigas, através das
sensações de Larra, e somos meio que influenciados a sentir certa aversão a ele.
Junto com o espião, e também com o pintor, separados pelo tempo, vamos
transformando nossa percepção através dos fatos, das ações que vamos
acompanhando deste revolucionário, que liderou guerrilhas formadas por pessoas
do povo (gaúchos, índios, negros), buscando tratar a todos com igualdade, como
uma única grande família. Sitiados entre a violência dos inimigos e o
esquecimento, os revolucionários vivem entre farrapos e com pouca comida. A
perseverança e a comunhão de esperança daquela pobre gente intriga Larra. Mais
o que mais o intriga é o Artigas, que é apenas um homem, mas exerce uma
influência sobre o seu povo que é difícil de explicar. Ele também é falível e por vezes
ingênuo, como demonstra numa cena em que confia cegamente na deserção de um dos
seus homens. Para tristeza do governo uruguaio e surpresa de Blanes, é pela
força do povo que Artigas emerge, como o centro de uma força que já não se pode
deter.
Também existe uma crítica à força da imagem e seu uso na história. Como os
registros históricos ambíguos são apresentados para as gerações posteriores. A
história é reescrita e também é repintada.
Produzido para a televisão espanhola como parte da série Os Libertadores,
Artigas: La Redota
é o segundo longa-metragem de César Charlone, e faz parte de um conjunto de
filmes sul-americanos, onde um deles será sobre Tiradentes (retratado pelo
cineasta Marcelo Gomes). Sua estréia como diretor se deu com O Banheiro do Papa
(2007), que lhe rendeu uma série de prêmios. Ele também cuidou da fotografia em
Cidade de Deus (2002), O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio sobre a Cegueira
(2008).
No Festival de Gramado 2012:
Tive oportunidade de conhecer Gramado este ano, na semana do 40º Festival
de Cinema de Gramado, sendo que este foi o primeiro filme que assisti nas 5
noites em que pude ficar. Artigas: La
Redota levou quase todos os prêmios na mostra de longas
estrangeiros (concorreram filmes do Uruguai, Chile, Argentina e Cuba), mas não
posso deixar de indicar outros filmes e também curtas selecionados no Festival
2012, excelentes e que tive oportunidade de ver na minha curta passagem por lá:
- Menino do Cinco (2012) – BA: curta bahiano que foi o mais premiado no
festival, onde um garoto finalmente encontra um amigo, mas ele não pode ser
seu. Sensacional e com um final impactante;
- Super Nada (2012) – SP: filme
que gostei muito, sobre um ator que sonha em ser grande, na cidade de São Paulo.
Seu ídolo e exemplo é Zeca, comediante de TV que, embora velho e decadente,
ainda mora no coração de toda uma geração. Seus caminhos se cruzam e a sorte de
Guto parece mudar;
- Meta (2012) – SP: curta interessantíssimo. Federico vive em um filme
que ele mesmo dirige, mas será isso suficiente para conquistar a garota de seus
sonhos?
- Colegas (2012) – SP: filme que pode chamar bastante atenção quando
entrar em cartaz. Um Road movie onde três jovens com síndrome de
Down resolvem se aventurar e fugir, buscando realizar três sonhos;
- Vinci (2012) – Cuba: filme sobre Leonardo Da Vinci, quando aos 24 anos
ficou preso num calabouço com mais dois prisioneiros, e usou sua arte para
sobreviver;
- A Mão que Afaga (2011) – SP: curta que mostra uma operadora de
telemarketing que planeja a festa de aniversário de 9 anos de seu único filho,
Lucas, com poucas chances de dar certo;
- Casa Afogada (2011) – RS: curta sobre um homem que vive recluso em uma
casa sobre palafitas. Subitamente as águas tornam-se revoltas e ele precisa
lutar para manter sua casa, suas memórias, seu último refúgio;
- Linear (2012) – SP: curta com animação, sobre a linha ser um ponto que
saiu caminhando;
- O Que Se Move (2012) – SP:
filme onde três núcleos familiares, em três diferentes situações, precisam
lidar com mudanças súbitas em suas vidas, envolvendo alguma perda ou um
reencontro há muito esperado;
Infelizmente não puder ficar para assistir ao filme O Som ao Redor (2012)
– PE, que está recebendo prêmios em outros festivais e tem uma proposta bem interessante.
Este recebeu boa parte das premiações em Gramado, juntamente com o filme
Colegas.