Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O Lugar Onde Tudo Termina (EUA, 2013)

Eu indico
The Place Beyond the Pines (EUA, 2013)

Luke (Ryan Gosling) é um motociclista que pilota dentro de globos da morte para um circo itinerante. Quando descobre que sua ex-namorada, Romina (Eva Mendes), teve um filho seu, ele tenta se reaproximar dela. Sua intenção é mostrar-se um pai capaz de sustentar o filho e, para isso, Luke decide participar de uma série de roubos a bancos. Ao realizar sozinho um assalto, ele é perseguido pela polícia e acaba sendo confrontado por Avery Cross (Bradley Cooper), um policial que cumpria sua rotina fazendo a ronda diária. Dirigido por Derek Cianfrance.

Schenectady, Nova York:
Este filme tem como ponto forte as reviravoltas, com destaque para a mudança de foco nos personagens principais, os quais entram e saem da trama nos deixando sempre sem saber quem será posto em evidência, contudo, claramente todos eles possuem uma ligação e a história se mantêm firme em sua proposta. Esta proposta é simples: reflexos de reencontros entre pessoas que compartilharam algum momento marcante. Com um clima bem misterioso, não entendemos sua mensagem principal logo de cara; na verdade, pela segunda metade do filme as coisas vão sendo relevadas.
Ryan Gosling representa um personagem confuso, propenso a violência, mas não necessariamente perverso. Outros personagens até enxergam seu lado bom, antes que o espectador caia na armadilha de julgar o mesmo somente pelo lado ruim. Diante de um filho recém-nascido, ele acaba perdendo o controle, como se fosse um motoqueiro que comete um erro fatal no globo da morte (profissão na qual ele atua). Bradley Cooper, então, já é um personagem com família estabeleciaa, senso de justiça, mas que passará por uma grande atribulação, principalmente interna. Não existem somente os dois, outros personagens tomam seu caminho na vida e percebemos como decisões repentinas podem mudar tanto o rumo de cada um, quanto o de outras pessoas que nem imaginavam existir. Muitas vezes, a pressão de determinada situação nos leva a cometer ações nas quais a consequência só aparece muito tempo depois. É sustentando esse mistério - a ser revelado em momentos oportunos - que o filme agrada, mostrando por exemplo, através de um dos personagens, o remorso, que atinge seu ponto insuportável após um certo tempo. Mas também vemos uma solução através do perdão e das atitudes escolhidas para os dias vindouros, principalmente a questão de perdoar a si mesmo.
É bem interessante como o personagem de Bradley Cooper entra em cena como se fosse um coadjuvante qualquer, um personagem passageiro, mas na verdade se torna um dos pontos centrais da trama. Dessa forma, todo um significado que não se perde com essas mudanças e reviravoltas culmina de alguma forma para o fechamento da trama. Na cena da perseguição, onde o mesmo surge, nem vemos o seu rosto, pois a perspectiva se mantém, um bom tempo, em primeira pessoa, nos passando melhor a sensação que ele está tendo. Não somente uma ótima atuação, mas também o recurso da filmagem ajuda o espectador a ter sensações mais intensas.
Parece que Ryan Gosling pilotou de fato a moto, numa das cenas, já que não foram encontrados dublês que aceitassem fazê-la. Esta mesma teve que ser rodada mais de 20 vezes, na qual ele passa entre carros antes que haja uma colisão envolvendo mais de 30 automóveis.
É um filme contínuo e sem retorno, saltando no tempo quando precisa e nos mostrando os personagens aos poucos, inclusive a forma como alguns deles terão um maior conhecimento a respeito de outros. O título original, “The Places Beyond the Pines” (O lugar além dos pinheiros), veio do nome da cidade de Schenectady, no estado de Nova York, onde se passa a história. Na linguagem dos índios mohawk, Schenectady significa “atrás da planície dos pinheiros”.
O diretor Derek Cianfrance e os produtores Lynette Howell, Alex Orlovsky e Jamie Patricof refazem a parceria com o ator Ryan Gosling, após o filme “Namorados Para Sempre” (Blue Valentine, 2010), o primeiro filme postado neste blog:

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Fontes:

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Isolados (Brasil, 2014)

Eu indico
Isolados (Brasil, 2014)

O psiquiatra Lauro (Bruno Gagliasso) e sua namorada, Renata (Regiane Alves), decidem passar férias em uma casa isolada na serra, porém o que parecia ser uma época de paz e sossego, acaba se tornando um pesadelo, quando uma sequência de ataques violentos na região se aproxima cada vez mais do casal. Dirigido por Tomas Portella.

Suspense nacional de qualidade:
Historicamente, o cinema nacional deixa a desejar no gênero suspense. Talvez por conta disso é que este filme tenha se destacado quando apareceu na 42ª edição do Festival de Gramado, abrindo a programação do evento. Outrossim, estamos num ano onde o suspense e o terror não passaram muito bem pelas salas de cinema, já que as produções lançadas em 2014 foram muito fracas; dessa forma, este filme pode ser considerado a melhor opção. Sendo um filme nacional, ajuda a mudar uma imagem de que este gênero, por aqui, nunca foi destaque.
De fato, mesmo comparando com produções internacionais, este filme brasileiro é um bom suspense. O diretor Tomas Portella soube introduzir rapidamente, nas sequências iniciais, toda a atmosfera misteriosa necessária para demonstrar o que viria pela frente, e isso é suspense de verdade, suspense psicológico. O cenário das florestas de Teresópolis ajuda a contextualizar a problemática pela qual a região passa quando assassinos insanos entram em ação. A cena inicial já é forte o suficiente para ganhar a atenção do público amante do gênero. O mistério vai sendo relevado aos poucos, as informações sobre os assassinos, os quais o diretor insiste em esconder os rostos, surgem a partir de depoimentos de personagens secundários. A fotografia usa as sombras das árvores e casas do vilarejo, mais ainda do casarão onde o casal Bruno Gagliasso e Regiane Alves vão ficar, isolados, com o objetivo de melhorar a relação. A casa, cheia de buracos nas paredes com vidros e luzes coloridas, pouca iluminação, ajuda a aumentar a tensão e o suspense. Podemos também nos preparar para um final interessante e, para muitos, surpreendente. A ameaça que vem do lado de fora da casa, rodeada pela mata com seus barulhos sempre curiosos e sinistros, vai marcar os melhores momentos do filme.
Este também é o último trabalho do grande ator José Wilker, no cinema. Ele faleceu em abril deste ano de 2014. No final do filme, uma frase “in memorian”, escrita por Wilker, é apresentada. Na verdade ela faz parte de uma matéria escrita por ele, em 2001, que contém um dos melhores depoimentos sobre o cinema que eu já li. Então, reproduzindo:

“Orson Welles, provavelmente mentindo, afirma que na verdade: 'um filme, além de morto, não está nem muito fresco. Vem numa luta. Fazer um filme leva tempo. O filme que estreia na semana que vem é do ano passado'. É um fato. Mas nós, que nos sentamos no escuro para seu velório, sempre o ressuscitamos. E quando isso acontece, que bela eternidade ele nos dá para o que sobrar do dia. Experimente. Pegue uma lanterna, uma lente e projete um fotograma na parede. O resto é the end.”
(José Wilker).

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Fontes:

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Gloria (Chile, 2013)

Eu indico
Gloria (Chile, 2013)

Gloria (Paulina García) é uma mulher de 58 anos, cujos filhos já saíram de casa há algum tempo. Como se recusa a ficar sozinha em casa às noites, ela tem o hábito de ir a bailes dedicados à terceira idade. Lá ela conhece vários homens, com os quais costuma se empolgar e, tempos depois, se decepcionar. A situação muda quando conhece Rodolfo (Sergio Hernández), um ex-oficial da Marinha que é sete anos mais velho do que ela. Gloria se apaixona por ele e passa até mesmo a aspirar um relacionamento permanente. Dirigido por Sebastián Lelio.

Viva cada momento:
Santiago do Chile. Uma cidade linda, mesmo assim com habitantes que procuram vencer a solidão que vem junto com o cotidiano. Uma situação bem comum nos dias de hoje, que leva muitas pessoas, principalmente mulheres mais velhas, a se entregar à solidão. Gloria, interpretada por Paulina García – que recebeu o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim em 2013, por este papel –, poderia ser mais uma mulher assim, já que está desquitada e com quase 60 anos. Contudo, ela nos surpreende com suas atitudes e forma de vida. Mantendo uma rotina que divide o trabalho e as baladas com naturalidade e responsabilidade, acompanhamos a personagem ouvindo rádio e cantando sozinha, indo em festas, dançando e arrumando companhias.
O filme mostra que existe sensualidade em uma personagem assim, contrastando com a tipologia hollywoodiana de personagens femininos sensuais. Inclusive, temos belas cenas de nudez entre casais mais velhos. Além disso, sua afirmação como mulher, superando o comportamento comum, está um pouco alinhada com a realidade do Chile que, em 2014, voltou a ser governado por uma mulher, Michelle Bachelet.
Ao conhecer um homem recém-separado, o envolvimento entre os dois ocorre rápido. Porém, com o tempo, percebendo que ele possui amarras do relacionamento anterior, sustentando e mimando as filhas que vivem exageradamente dele, Glória mais uma vez não se entrega ao comportamento comum e se reafirma. Mesmo sendo uma mulher mais velha em busca do amor no Chile, ela é incomum quando nos mostra suas decisões e desventuras, controlando seu próprio destino. Ainda assim, se mostra uma mulher sensível e apaixonada pela filha, como pode ser visto na cena do aeroporto.
Para os brasileiros, fica fácil identificar, em cenas distintas, duas músicas nacionais famosas: "Águas de Março", de Tom Jobim, cantada numa roda de amigos (em português mesmo) e “Lança perfume”, de Rita Lee, que surge em um clube para solteiros. O diretor Sebastián Lelio comentou que a música de Tom Jobim serviu de forte inspiração para a história, ambos combinam prazeres e dores de uma forma agradável e podemos, com uma certa atenção, perceber isso durante o filme.
Produzido por Pablo Larraín, diretor de “No”, filme excelente que representou o Chile no Oscar de 2013, o filme mostra que ter 60 anos não significa o fim da vida produtiva ou emocional. Gloria captou isso e controlou seu próprio destino, vivendo intensamente cada momento. Ela merece, inclusive, uma canção com o seu nome, a música "Gloria", escrita e interpretada por Umberto Tozzi, mais uma na trilha sonora do filme.

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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Boyhood - Da Infância à Juventude (EUA, 2014)

Favoritos
Boyhood (EUA, 2014)

O filme conta a história de um casal de pais divorciados (Ethan Hawke e Patricia Arquette) que tenta criar seu filho Mason (Ellar Coltrane). A narrativa percorre a vida do menino durante um período de doze anos, da infância à juventude, e analisa sua relação com os pais conforme ele vai amadurecendo. Dirigido por Richard Linklater.

Mason dos 6 aos 18:
A inevitável passagem do tempo... passagem esta, carregada de momentos fortes (bons ou ruins) e até alguns extraordinários, vividos por poucos. Experiências que marcam o amadurecimento, o crescimento humano. Filmado durante 12 anos (começou em 2002), este filme é um retrato dessas experiências, da infância até a juventude, focada na vida de um garoto. O diretor Richard Linklater manteve os mesmos atores durante os 12 anos de produção, cada ano reunia a todos e filmava um pouco mais.
Assim, naturalidade e uma pequena sensação de documentário marcam o filme. Mas a naturalidade não veio somente disso, os atores foram excelentes, com destaque para os conhecidos Patricia Arquette e Ethan Hawke, assim como o protagonista (ator novato) Ellar Coltrane e a sua irmã no filme, a atriz Lorelei Linklater, todos extraordinários na interpretação, parecendo mesmo uma família de verdade.
O filme abre com uma música do Coldplay (“Yellow”) e contém outras trilhas bacanas. As músicas em si ajudam o espectador a se situar no tempo – para quem está preocupado com isso – junto com muitos elementos da narrativa mencionando fatos históricos nos EUA, como a candidatura de Obama. Outros, criativamente, nos situam mais facilmente: o sucesso da série Harry Potter e qual livro está sendo adaptado para os cinemas, os diálogos entre garotos que dizem quais os 3 melhores filmes do ano (“Trovão Tropical”, “Batman” e “Segurando as Pontas”, todos de 2008), um clipe de Lady Gaga e até o advento das redes sociais. Numa conversa surge a possibilidade de um novo filme de "Guerra nas Estrelas", o que dá mais uma pista. Para quem conseguir prestar atenção, o momento atual do filme é revelado constantemente. A trama só corre para a frente, o tempo vai passando e vamos percebendo, também, pela mudança física dos personagens, juntamente com o seu amadurecimento. O mais importante, contudo, é admirar como as mudanças na família são naturais, não assustam muito, sendo cheias de momentos simples e singelos. Acostumamos com as diferenças na relação dos garotos com o pai, regada de diversões, e com a mãe, com quem eles moram e com quem menos se divertem, já que ela é uma batalhadora na vida profissional para sustentar os filhos e recordista em relacionamentos que não dão certo.
Momentos comuns, simples, como descobertas da infância, tédio da adolescência, o primeiro amor, os conflitos em família, as mudanças de escola e até os cortes de cabelo. Diálogos inteligentes e realistas, que já é marca do diretor se lembrarmos de outros filmes dele, como Antes do Amanhecer (“Before Sunrise”, 1995), na verdade parte de uma trilogia que tem o Ethan Hawke discutindo a relação. Amigos de longa data, Richard Linklater e Ethan Hawke cresceram com pais divorciados que trabalhavam no ramo de seguros, que parece ser a carreira que o personagem de Ethan Hawke assume neste filme.
Do ponto de vista cinematográfico, é raro, mas não totalmente original, se lembrarmos do filme russo “Anna dos 6 aos 18”, um documentário de 1994, onde o diretor Nikita Mikhalkov fez uma série de perguntas a sua própria filha, de 1979, quando ela tinha seis anos, até 1991, apresentando assim um interessante panorama dos jovens que cresceram durante a derrocada da União Soviética. Por sinal, Lorelei Linklater, que interpreta Samantha, é a própria filha de Richard Linklater (e quase desistiu no meio das filmagens). Tanto ela, quanto Ellar Coltrane estão formidáveis, principalmente este último que, se não cumprisse bem seu papel, poderia levar o resultado do filme por água abaixo, já que o foco é no seu personagem.
Sem mudar o elenco, com sua fotografia e montagem impecáveis e criativo na forma de nos mostrar a passagem do tempo e transformações dos personagens, este é um forte candidato ao próximo Oscar. Sua maratona de 2 horas e 45 minutos é regada de sensações.

O tempo, as atitudes, a magia e as mudanças – SPOILER:
Em um momento, a mãe (Patricia Arquette) aconselha um imigrante que trabalha numa obra de encanamento de sua casa (porque ele se mostra inteligente, mesmo sem falar bem a língua local); futuramente, ele vira um dos gerentes de uma grande restaurante, e agradece a ela pelo conselho que o fez seguir o caminho dos estudos.
Em outra passagem, a existência de magia no mundo é questionada pelo protagonista, quando criança. O garoto, mais velho, recebe um conselho de sua professora, antes de entrar na faculdade, quando ele se mostra empolgado e aterrorizado. A professora fala: “Será bom. Loucamente bom. Gostei muito mais da faculdade do que da escola. Você encontrará sua turma na faculdade, sabia? Você ficará bem. Tem um bom coração, só precisa segui-lo. Boa sorte. Não esqueça de passar fio dental.”. Na faculdade, ele chega encontrando sua turma, fazendo amigos e conhecendo uma garota que combina com ele. Na troca de sorriso entre os dois, um momento mágico, uma perspectiva de que, de fato, tudo vai ficar bem e será loucamente bom. A magia ainda existe nos momentos simples e singelos.

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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Maze Runner - Correr ou Morrer (EUA, 2014)

Eu indico
The Maze Runner (EUA, 2014)

Ao acordar dentro de um escuro elevador em movimento, Thomas (Dylan O'Brien) chega à “Clareira”, se vendo rodeado por garotos que o acolhem. O local é um espaço aberto cercado por muros gigantescos. Assim como Thomas, nenhum deles sabe como foi parar ali, nem por quê. Sabem apenas que todas as manhãs as portas de pedra do Labirinto que os cerca se abrem, e, à noite, se fecham. E que a cada trinta dias um novo garoto é entregue pelo elevador. Dirigido por Wes Ball e roteiro de Noah Oppenheim.

O corredor do labirinto:
Existem livros que nos fazem esperar ansiosamente pela sua adaptação para o cinema. Neste caso, este filme me fez querer ler o livro, ou melhor, toda a saga Maze Runner, escrita por James Dashner, composta por quatro livros: “Correr ou morrer” (2010), “Prova de fogo” (2011), “A cura mortal” (2012) e “Ordem de extermínio” (2013). É um filme de ficção científica, lembra o estilo da franquia Jogos Vorazes, mas contém muito mistério. Como adaptação, parece que foi muito bem. Pelo menos, se o livro for melhor que o filme (é o que dizem), com certeza já vale a pena conferir toda a franquia.
Com um elenco jovem e agradável, o filme é rodeado de mistérios, teorias que vamos imaginar, algumas respostas que teremos e uma boa aventura, focada em fugas alucinantes, algo que sempre me agrada nos filmes de ação. Diante das diversas tarefas que cada um pode fazer (desde que aceito em seu papel) na Clareira, existe a tarefa dos "corredores", que são responsáveis por mapear o labirinto em busca de uma saída. Trata-se da tarefa mais arriscada, considerando que aqueles que não conseguiram voltar do Labirinto, antes deste fechar, nunca mais voltaram a aparecer.
A atuação de Dylan O’Brien consegue passar a sua sensação de perdição e descoberta, assim como a sua ousadia. Parece que há nele um talento para escapar de situações difíceis, algo especial no personagem, mais uma coisa para aumentar o mistério. A velha sensação de não saber o que está acontecendo, enigmas e todos os elementos de uma boa ficção com aventura marcam a trama. A arquitetura do labirinto criado por Dashner, revelada aos poucos, é bem interessante, assim como as “criaturas” sinistras. Wes Ball fez um bom trabalho assumindo a responsabilidade de quem adapta livros que já agradaram ao público. Ainda podemos sair do filme com uma ansiedade pela sua continuação, já confirmada pelos estúdios.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Viver (“Ikiru”, Japão, 1952)

Eu indico
Ikiru (Japão, 1952)

Kanji Watanabe, um idoso burocrata com câncer no estômago, é forçado a buscar o significado de sua existência nos seus dias finais. Dirigido por Akira Kurosawa.

Viver:
Considerado como um dos maiores filmes do diretor japonês mais famoso do mundo - Akira Kurosawa -, mostra a difícil situação de um homem idoso que descobre ter poucos meses de vida, diante de toda uma vida que ele percebe ter jogado fora. Mesmo com todos conflitos que este homem vai enfrentar, sua reviravolta repentina diante da morte que se aproxima, nos deixa uma grande lição.
Podemos dividir o filme em duas partes, a primeira mostrando a revolta e perdição de Watanabe diante da notícia fatídica, na qual passa a lembrar de momentos importantes de sua vida, se arrependendo de alguns, mas também sentindo saudade de outros bons momentos. Antes até mesmo de termos compaixão deste senhor, a sua mudança de atitude marca a segunda parte do filme, onde vemos a beleza da vida de um homem mesmo ao se aproximar a hora de sua morte.
Takashi Shimura protagoniza muito bem seu papel, sendo muito natural nas reações diante dos acontecimentos, até numa cena onde ele canta e chama a atenção das pessoas ao redor. Um detalhe é que esta mesma cantoria marca os momentos finais do filme, de forma emocionante.
RELAÇÕES PÚBLICAS: CHEFE DE SETOR. Está escrito na mesa de Watanabe, no seu ambiente de trabalho. Ele é o chefe de uma repartição pública na cidade de Tóquio, e está próximo de sua aposentadoria. Em mais de uma passagem, o diretor Kurosawa vai mostrar este mesmo ambiente, mas o espectador terá emoções distintas. Em dado momento, o serviço público é criticado diretamente, seja ao mostrar o protagonista em seu trabalho carimbando papéis e organizando a burocracia da repartição, mas sem fazer diferença alguma para a sociedade, seja numa marcante passagem onde um grupo da comunidade local precisa resolver uma questão pública, a respeito de um esgoto que poderia ser transformado num parque, mas acabam sendo sempre direcionados para a responsabilidade de outra repartição e, após algumas voltas, estão de volta ao começo. Ninguém ajuda a resolver o problema. Em outro momento, vemos que Watanabe abraça a causa e se realiza através dela, servindo de inspiração para os que ficarem. Saindo da mera burocracia e partindo para a ação política, contra todas as barreiras, tendo de convencer as demais repartições da prefeitura na condução das obras e outros atores afetados, percebemos que ele concretiza seu desejo com entusiamo. Kurosawa ainda incluí cena com a troca do chapéu do personagem, para marcar a sua transformação.
A doença, como provocador para uma consciência e preocupação com o sentido da própria existência, tem o seu lado bom. Primeiramente, vem a lamentação pelo que não viveu, ou que deixou de fazer. Mas antes de se dar por vencido, uma nova postura diante da vida, um cuidado com o mundo, com as pessoas, é a lição que fica.

"A vida é curta
Apaixonem-se, donzelas
Antes do desabrochar
Desfaleça os lábios
Antes da maré da paixão
Sinta dentro de você
Para aqueles como você
Que conhecem o amanhã”
(música cantada por Watanabe no filme)

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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A Noite dos Desesperados (EUA, 1969)

Eu indico
They Shoot Horses, Don't They? (EUA, 1969)

Em 1929, em plena depressão americana, uma desumana maratona de dança premiava o casal que resistisse por mais tempo na pista, mesmo que isso representasse a morte para o vencedor. Dirigido por Sydney Pollack.

Assim como cavalos:
Um concurso de dança se aproveita do desespero das pessoas para ganhar publicidade, sendo palco para mostrar o quanto alguém pode se sujeitar a qualquer sofrimento para ganhar alguma coisa. Estamos no final da década de 20, com as consequências da grande depressão pós queda da Bolsa de Nova York, onde de fato esses concursos existiam e atraíam milhares de pessoas necessitadas.
Baseado no livro de Horace McCoy, o filme mostra esse concurso que oferece um prêmio de 1.500 dólares somente para o casal que conseguir ficar mais tempo dançando. A maratona é desesperadora: a cada duas horas sem parar, dez minutos de descanso em acomodações desumanas onde o encosto é outra pessoa. Se alguém cai, tem dez segundos para levantar, como se fosse uma contagem do boxe. Como se já não bastasse, existe uma corrida de dez minutos, em volta de um círculo, onde os últimos três casais a cruzar a linha de chegada são desclassificados. Em uma dessas cenas da corrida, contemplamos em câmera lenta o desespero e empenho dos casais, retratando, junto com o resto da trama, uma sociedade em crise, onde pessoas se permitem uma absurda condição, numa desumana maratona de dança.
Em sua maioria vencidos pelo cansaço e pela dor, suas vidas não valem mais do que um cavalo ferido em acidente. Daí o curioso título original "They Shoot Horses, Don't They?" (“Eles atiram em cavalos, não é mesmo?”), uma referência ao ato de sacrificar o animal ferido para que ele não sofra mais, o que cabe como metáfora perfeita para este filme. E a plateia se diverte, torce, adota ídolos, aposta, como se os participantes fossem cavalos numa corrida. Até o expectador pode acabar entrando na torcida, principalmente pelo casal protagonista, Gloria (Jane Fonda) e Robert (Michael Sarrazin), nem que torça para que eles consigam, milagrosamente, sair bem dessa situação, até porque eles não tem perspectiva alguma no mundo lá fora.
A fome, miséria e desemprego atrai uma fila de pessoas querendo participar do concurso insano, pelo prêmio ou pelas refeições diárias. Alguns parecem estar sem rumo na vida e acabam entrando na competição. É a oportunidade de lidar com diversos personagens e fazer uma análise da sociedade da época, tanto os afetados pela depressão, quanto a minoria que está ali para assistir e se divertir. O destaque de atuação fica para o vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, por este filme, Gig Young, que interpreta o showman do concurso, um personagem feito para ser odiado, apesar de que, em alguns momentos, consegue ser humanizado. Com isto, a condução do diretor Sydney Pollack resultou na indicação de 9 Oscar, este que também já foi produtor e ator, e faleceu aos 73 anos em 2008.

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Fontes:

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Nossa Hospitalidade (EUA, 1923)

Eu indico
Our Hospitality (EUA, 1923)

Por volta de 1830, as famílias McKay e Canfield travavam uma grande rixa em Kentucky, nos Estados Unidos. Quando John McKay (Edward Coxen) é morto, a viúva manda o filho de 1 ano para ser criado pela tia em Nova York. Vinte anos depois, Willie (Buster Keaton) volta à Kentucky em um trem e vai lutar para ter suas posses de volta. Na viagem, ele conhece uma menina da família Canfield e se apaixona por ela, mas a rixa parece ainda não ter sido resolvida. Dirigido por Buster Keaton.

Hospitalidade:
Buster Keaton dirige e protagoniza este que é considerado o seu melhor filme por muitos críticos do cinema, embora ele mesmo tenha uma preferência por A General (1926), uma excelente comédia que pode ser conferida aqui neste blog (não dirigida por ele):
http://eueatelona.blogspot.com.br/2014/05/a-general-eua-1926.html
Como um dos grandes comediantes independentes (já que dirigia muitos de seus filmes), foi elevado ao nível de Charles Chaplin. Embora vistos por muitos como grandes rivais no mundo do cinema, na verdade eram quase como parceiros que concretizaram grandes filmes, cada um ao seu estilo maximizando a magia do cinema, chegando a atuar juntos numa cena relevante em “Luzes da Ribalta” (Limelight, 1952), de Chaplin, ambos com idade mais avançada.
Podemos perceber que “Nossa Hospitalidade” não abandona a comédia que prevalece nos filmes de Keaton. Contudo, existe toda uma questão dramática tratada. Ao tratar da hospitalidade, do saber acolher, característica fundamental para a boa convivência, neste filme ofuscada pelo ódio entre diferentes famílias, por conta de uma rixa forte ao longo dos tempos, o filme também garante sua faceta séria, embora a comédia prevaleça. É claro que os encontros e desencontros, atrapalhações, que são características fundamentais das comédias mudas, levam a situações engraçadas, mas o centro da proposta está lá o tempo todo: a intenção é acabar com a vida de Willie simplesmente por ele ser um membro da família McKay. Pessoas, muitas vezes, tão prezas à tradições absurdas, mesmo que as torne cruéis, acabam não enxergando o bem à sua frente. E tudo isso, no filme, é abordado com a leveza de uma comédia madura. As armações que o personagem de Keaton apronta para não ser pego e, ao mesmo tempo, ficar próximo de sua amada (sem que ela perceba que sua família quer acabar com ele) são criativas e divertidas. Reparem nas suas desculpas para não sair da casa da família Canfield, já que lá dentro, pelas etiquetas da época, ele não poderia ser maltratado. E o interessante de tudo é que a solução para sair desta situação é tão simples que, ao ser apresentada, de repente faz todo o sentido e nos arranca mais um sorriso.
Keaton vive seus personagens sem expressão no rosto - por isso etiquetado como “o palhaço que não ri” - mas as situações que vive nas cenas são hilárias. A cena onde McKay (Keaton) viaja de trem para a chegar à propriedade de sua família é surreal, lembrando cenas maravilhosas de “A General”, que provavelmente é a comédia mais relevante, que envolve trens, no mundo do cinema.

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Fontes:

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Traídos pelo Desejo (“The Crying Game”, 1992)

Eu indico
The Crying Game (Reino Unido /  Irlanda / Japão, 1992)

Fergus (Stephen Rea), um membro do IRA (Exército Republicano Irlandês), juntamente com outros companheiros terroristas, sequestram o soldado britânico Jody (Forest Whitaker). Eles mantém o soldado em cativeiro e pedem um resgate por ele. Se não forem atendidos em três dias, Jody será executado. Fergus fica encarregado de guardar Jody e acaba desenvolvendo uma amizade com este. Direção e roteiro de Neil Jordan.

A fábula do escorpião e da rã:
A sinopse acima é na verdade uma introdução do que pode ser visto neste surpreendente filme, indicado a seis Oscar: melhor filme, edição, ator (Stephen Rea), ator coadjuvante (Jaye Davidson), diretor e roteiro original (de Neil Jordan), sendo que venceu neste último. Talvez se não tivesse disputado com grandes filmes de 1992, como Os Imperdoáveis (de Clint Eastwood) e Perfume de Mulher (de Martin Brest), mais estatuetas seriam conquistadas. É até admissível que Os Imperdoáveis tenha recebido os prêmios de melhor filme e direção, assim como Al Pacino, quase imbatível no papel, como melhor ator em Perfume de Mulher. Entretanto, por mais que respeitemos a atuação memorável de Gene Hackman por Os Imperdoáveis, levando o prêmio de melhor ator coadjuvante, foi uma grande injustiça o Oscar não ter premiado o ator Jaye Davidson pelo papel de Dil, um ator de pouca visibilidade e que só chegou a atuar em 5 filmes. Seu papel neste é controverso, difícil para qualquer um. De um mero coadjuvante, o personagem Dil pode se tornar o principal centro de atenção do espectador, muito pela atuação excepcional do ator Jaye Davidson.
Este é um filme enigmático e surpreendente em muitos momentos, podendo causar um choque nas pessoas mais sensíveis. Pelo menos quanto a isso o reconhecimento do Oscar foi justo (melhor roteiro original). A fábula do escorpião e da rã, que Jody (soldado inglês sequestrado) conta à Fergus (seu carcereiro) é a metáfora que melhor representa o filme. Jody é interpretado por mais um grande ator, Forest Whitaker, que merecia pelo menos uma indicação, mas também foi injustiçado. O título original "The Crying Game" (algo como "O Jogo das Lágrimas") é o título de uma canção que Dil está cantando quando Fergus a encontra em Londres, canção de 1960 do inglês Dave Berry, regravada por Boy George. A trilha sonora em si é mais um ponto forte, com a produção musical de Anne Dudley e da banda Pet Shop Boys.
O destino, como se estivesse escrito, trilha os caminhos de Fergus, já que ele é o protagonista, ponto central da história. Mas o que entendemos é que a sua natureza o faz dono de seu destino, suas escolhas estão amarradas ao que ele é de fato, algo que ele aprendeu com Jody. Stephen Rea como Fergus surpreende, um membro do IRA, experiente, mas com uma certa sensibilidade. Difícil de ser interpretado com seus comportamentos, a princípio, controversos, aos poucos mostra o que ele é realmente. Sempre voltamos ao que o personagem de Forest Whitaker disse, quando eles se aproximaram no momento mais atípico possível. A partir daí nos deparamos com envolvimentos amorosos, conturbações e interrupções regadas por questões de opção sexual, preconceito e valores pessoais, principalmente através de Fergus que vai se revelando aos poucos, criando uma relação de dependência com Dil que vai nortear o clímax do filme.

Cena do filme que mostra o retrato na carteira de
Jody (Forest Whitaker, à direita), junto com Dil (Jaye Davidson)
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Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Crying_Game

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Eva – Um Novo Começo (“Eva”, Espanha, 2011)

Eu indico
Eva (Espanha, 2011)

Em 2041, os seres humanos convivem com criaturas mecânicas. Alex (Daniel Brühl), um famoso engenheiro cibernético, retorna a Santa Irene, depois de dez anos, para atender a um pedido muito específico da Escola de Robótica: a criação de um robô-criança. Nesses dez anos de ausência, seu irmão David e Lana reconstruíram suas vidas e tiveram a filha Eva (Claudia Vega), que acaba tendo uma relação especial com Alex. Dirigido por Kike Maíllo.

O que você vê quando fecha os olhos?
No topo das montanhas geladas de Santa Irene, em 2041, uma mulher à beira do abismo grita, quando seu corpo cai. Correndo entre os pinheiros, na neve, uma menina de casaco vermelho corre até um chalé de madeira e bate à porta. O homem que atende pergunta: "Eva, o que você faz aqui? Onde está sua mãe?" E a menina desmaia. Este é o início enigmático da trama que aborda as questões da chamada inteligência artificial, num futuro próximo onde seres humanos convivem com robôs criados por eles. O diretor trata das questões de forma agradável e com simplicidade, indo tanto pela abordagem tecnológica (ferramentas para escolher os elementos que vão formar o caráter do robô, por exemplo) quanto pela humana, onde entram as situações críticas como a liberdade humana, segurança e perduração. Mostra a convivência entre seres humanos e máquinas de forma quase natural, tão semelhantes entre si que se confundem nas ruas.
A premissa parte da busca pela criação de um modelo perfeito, sem defeitos e pecados como os seres humanos. São mostradas utilidades dos androides, que podem falar várias línguas, jogar xadrez, cozinhar, cuidar de idosos e doentes, ensinar crianças, fazer manutenções domésticas, etc. Porém, ao tratar das imperfeições destes é que a trama ganha muito sentido, já que os defeitos os tornam mais ainda parecidos com os humanos. E junto com isso vem questões de tolerância, medo, perdão. Uma forma criativa de desativar os robôs imediatamente, a fim de salvaguardar a espécie humana, é a criação de uma frase senha – pelo visto universal – que pode ser usada a qualquer momento: “O que você vê quando fecha os olhos?” é a “proteção” perfeita contra os robôs.
Encarregado de criar o software de controle emocional de um androide menino (o SI-9), Alex, engenheiro cibernético, é o protagonista do filme. Eva, que remete à figura feminina bíblica criada a partir da costela de Adão (como metáfora para a criação de robôs à imagem e semelhança do homem), é uma garota de personalidade atípica, extrovertida e simpática, perfeita como modelo para um robô criança (embora a mãe não permita sua participação nesta experiência), que aparece diante de Alex e eles acabam tendo forte empatia entre si. A garota, com boa interpretação da atriz Claudia Vega, inspira Alex para o projeto, a ponto deste querer usar as características de sua personalidade como protótipo para a criação do robô. A interação entre os dois é mais um ponto forte no filme.
É preciso reconhecer que, diante de tantos filmes excelentes que tratam a temática da inteligência artificial, como “A.I. Inteligência Artificial” (2011, de Steven Spielberg) e “Blade Runner” (1982, de Ridley Scott), é difícil ganhar um destaque. Entretanto, este filme consegue e pode ser acrescentado à lista.

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Fontes:

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Fugitivo (“I Am a Fugitive From a Chain Gang”, 1932)

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I Am a Fugitive From a Chain Gang (EUA, 1932)

Desempregado após o término da Primeira Guerra, James Allen (Paul Muni) torna-se um vagabundo sem dinheiro. Quando assiste a outro homem cometendo um furto, é condenado injustamente a dez anos de cadeia, numa prisão na Geórgia. Lá, é perseguido e castigado cruelmente por guardas sádicos. Com a ajuda de outro prisioneiro, escapa e parte determinado em busca do sonho que tem de se tornar um engenheiro. Dirigido por Mervyn LeRoy.

Fugindo de uma prisão estilo “gangue da corrente”:
Baseado na história real de Robert E. Burns, que roubou 5 dólares para comer e de fato conseguiu escapar do sistema legal da Geórgia com a ajuda de três governadores de Nova Jersey. Burns chegou a trabalhar neste filme, em Hollywood, mas voltou para Nova Jersey com receio da prisão. O livro e o filme conseguem criticar claramente o sistema presidiário na década de 1930, na Geórgia, onde os presos viviam acorrentados e forçados a trabalhar numa estrada de ferro. A expressão “Chain Gang” se traduz como uma prisão onde existem trabalhos forçados a que são submetidos os presidiários acorrentados; assim, os prisioneiros são a “gangue da corrente”.
Paul Muni, que antes atuou em Scarface (1932), interpreta o protagonista James Allen, que passa de herói da primeira guerra mundial para desempregado e, por azar do destino, torna-se prisioneiro. Após conseguir, de forma incrível, escapar da prisão, com o passar do tempo ele chega a se tornar um cidadão exemplar, trabalhando na construção civil e sendo reconhecido por suas obras importantíssimas. Mas isto é só um resumo dos acontecimentos que terão boas reviravoltas e um final marcante. Para se ter uma ideia (e sem revelar os fatos para não perder a graça), a última palavra saída da boca de Allen no filme complementa o episódio geral com uma crítica severa ao Estado Americano, que com seus sistemas e leis, junto com certa inflexibilidade e interpretações equivocadas, chega a favorecer a injustiça, podendo forçar um cidadão exemplar a se tornar um facínora. Uma temática social interessante e perigosa de ser tratada na época, principalmente para um filme que acabou sendo sucesso de público.
Indicado ao Oscar de melhor filme, ator e edição de som, este ainda procura encher mais ainda os olhos do espectador, com algumas situações de fuga bem elaboradas – que podem ter inspirado muitos prisioneiros. Essa combinação de elementos nos remete a um outro grande filme: Rebeldia Indomável (“Cool Hand Luke”, EUA, 1967), excelente e muito inspirador, dirigido por Stuart Rosenberg e estrelado por Paul Newman. Ambos fazem suas críticas ao mesmo sistema de prisões e ao Estado Americano, assim como disputam cenas de fuga criativas e empolgantes, tendo como protagonista um personagem inspirador.

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terça-feira, 9 de setembro de 2014

G-Men Contra o Império do Crime ("G" Men, EUA, 1935)

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"G" Men (EUA, 1935)

James Cagney interpreta o jovem advogado criminalista, Brick Davis, que tenta resistir a tentações do mundo do crime, embora sua educação tenha sido paga por um gângster. Sua vida dá uma reviravolta quando um amigo e agente federal tenta recrutá-lo para o FBI, e é assassinado por um gângster. Dirigido por William Keighley.

Os homens do FBI contra o crime organizado:
James Francis Cagney Jr. foi um renomado ator norte-americano, que teve o privilégio de participar dos primeiros grandes filmes de gângster do cinema. Com isto estabeleceu um papel típico de gângster violento em filmes como Inimigo Público (1931), Fúria Sanguinária (“White Heat”, 1949) e Anjos da Cara Suja (1938). Entretanto, neste filme “G” Men ele interpreta o mocinho que fica famoso ao enfrentar corajosamente os gângsters do momento.
G-Men Contra o Império do Crime apresenta os principais elementos que servem de inspiração para filmes de gângster que perduram até hoje, como bandidos que desde criança são assediados a entrar no mundo do crime, chefões poderosos que aproveitam uma vida de poder e luxo, a dificuldade do FBI em combater o crime organizado, alguns sacrifícios pessoais para mudar este cenário, assim como a presença marcante da metralhadora Thompson. Na época, este filme foi original por focar o lado dos mocinhos, neste caso do FBI, em seus primeiros anos. O senso e vontade de combater o crime organizado exalta do personagem Brick Davis (interpretado por Cagney) depois de alguns acontecimentos, e logo este se mostra útil às investigações – com sua capacidade lógica de análise – e também não exita em partir para a ação. Um personagem incorruptível e atendo à lei. As situações enfrentadas por ele nos mostram a imagem pública adotada pelo FBI na guerra contra o crime.
Parece que é apenas uma lenda o fato de que os agentes do FBI eram chamados de “G” Men, a partir do fato de que um bandido assustado, chamado George “Machine Gun” (metralhadora em português) Kelly, gritou para os agentes não atirarem nele. Com esta lenda, foram criados filmes, histórias em quadrinhos e novelas para promover o FBI. Outra explicação é que “G” Men significa "Homens do Governo".
Não podemos deixar de mencionar que antes deste, o filme “Little Caesar” (1931) fez grande sucesso. Posteriormente muitos filmes do gênero surgiram, como Scarface em 1983. Mas este aqui é um bom retrato filmado da guerra contra o crime declarada pelo governo, diante das quadrilhas de gângsters quase onipotentes que assolavam o país. Teve uma das mais altas bilheterias do ano e deve ser conferido pelos fãs do gênero.
Cabe complementar que este eclético ator (James Cagney) chegou a atuar como dançarino e sapateador na Broadway e em Nova Orleans, na década de 1920. Fundou uma produtora em 1942 e dirigiu um filme em 1957 ("Short Cut to Hell"), além de ter sido presidente e um dos fundadores do Sindicato dos Atores entre 1942 e 1944. Depois de vinte anos fora das telas, ele retornou em 1980 para viver um chefe de polícia em Na Época do Ragtime ("Ragtime"), do diretor Milos Forman.

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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Sonhadores (“The Dreamers”, 2003)

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The Dreamers (França / Reino Unido / Itália, 2003)

Matthew (Michael Pitt) é um jovem que, em 1968, vai estudar em Paris. Lá ele conhece os irmãos gêmeos franceses, Isabelle e Theo (Eva Green e Louis Garrel). Os três logo se tornam amigos, dividindo experiências e relacionamentos enquanto Paris vive a efervescência da revolução estudantil. Dirigido por Bernardo Bertolucci.

Homenagem ao cinema, por Bertolucci:
Este filme já apareceu em listas de filmes polêmicos com conteúdo sexual explícito. A bem da verdade, o diretor Bernardo Bertolucci deixou, em seus filmes, uma marca abordando situações que giram em torno do erotismo, mas sempre com bastante conteúdo em várias dimensões, seja poesia e arte em geral, política, comportamento humano, história, etc. Baseado no romance “Os Inocentes Sagrados” de Gilbert Adair, que também elaborou o roteiro do filme, contemplemos uma mistura maravilhosa de cinema, sexo e revolução.
A homenagem realizada ao cinema vai se encaixando na trama a medida que filmes são explicitamente mostrados ou citados de forma mais sutil, com direto a exibição de cenas de grandes clássicos, como Os Incompreendidos (“The 400 Blows”, 1959, de François Truffaut), O Picolino (“Top Hat”, 1935, de Mark Sandrich), Crepúsculo dos Deuses (“Sunset Boulevard”, 1950, de Billy Wilder), Luzes da Cidade (“City Lights”, 1931, de Charles Chaplin) e Juventude Transviada (“Rebel Without A Cause”, 1955, de Nicholas Ray). Essa pitada de cada filme deixa uma imensa vontade de assistir a todos eles. A lista completa pode ser conferida no final desta postagem, assim como a cena onde cada um deles aparece.
O interessante é discutir a visão e importância dos espectadores, isso vai sendo trabalhando do ponto de vista dos três personagens principais que, apaixonados por cinema, chegam ao ponto de fazer jogos do tipo “Qual o nome do filme?”, com prendas sexuais inusitadas para quem não acertar.
A Paris de 1968, marcada por revoluções, inclusive manifestações no cinema, é o cenário onde um estudante americano conhece dois irmãos franceses e os três começam a viver experiências sexuais somente entre eles. Entre a oportunidade de viver o prazer da situação, e a luta contra a repressão que basicamente ocorre fora do apartamento dos irmãos - onde se passa quase o filme inteiro – os personagens vivenciam revoluções culturais, música, cinema e sexualidade. Eva Green está arrebatadora em sua sensualidade, numa personagem que horas parece madura e segura, horas inocente ou fingida. Este foi um de seus primeiros trabalhos no cinema, Bernardo Bertolucci descobriu essa atriz nos palcos franceses e chegou a dizer que ela possui uma beleza “indecente".

Referências a filmes e onde aparecem - SPOILER:
- Bande à Part (“Band of Outsiders”, de Jean-Luc Godard)
Quando Isabelle, Theo e Matthew correm no Louvre, tentando quebrar o recorde (9 minutos e 43 segundos) de uma cena em Bande à Part.
- Paixões que Alucinam (“Shock Corrido”, de Samuel Fuller)
É o filme que Matthew está assistindo no cinema, quando ele diz que gosta de sentar na frente para ser o primeiro a receber as imagens.
- O Demônio das Onze Horas (“Pierrot Le Fou”, 1965, de Jean-Luc Godard)
- Os Incompreendidos (“The 400 Blows”, 1959, de François Truffaut)
Posters dos filmes no quarto do Theo.
- Quando Duas Mulheres Pecam (“Persona”, 1966, de Ingmar Bengmar)
Pôster de Liv Ullman e Bibi Andersson em Persona no apartamento de Matthew.
- A Chinesa | La Chinoise (1967), de Jean-Luc Godard
Pôster do filme no quarto dos gêmeos.
- A Vênus Loira (“Blonde Venus, 1932, de Josef Von Sternberg)
Cena em que Isabelle entra no quarto de Theo cantando com seus óculos escuros e um espanador. Isabelle pergunta ao irmão qual o nome do filme.
- Parada de Monstros (“Freaks”, 1932, de Tod Browning)
Isabelle e Theo aceitam Matthew depois da corrida no museu, dizendo: "We accept him, one of us”.
- Scarface (1983, de Brian De Palma)
Isabelle e Matthew estão jogando quando Theo finge uma cena do filme, se jogando no chão.
- Rainha Christina (1933, de Rouben Mamoulian)
Isabelle atua imitando a personagem de Greta Garbo, dizendo "memorizing this room" na primeira noite que Matthew dorme em sua casa.
- O Picolino (“Top Hat”, 1935 de Mark Sandrich)
Cena em que Isabelle e Theo começam a discutir sobre a música alta e rapidamente Isabelle pergunta ao Matthew qual o nome de um filme.
- Acossado (“À Bout de Souffle”, 1960, de Jean-Luc Godard)
Cena em que Isabelle fala para Matthew quais foram as suas primeiras palavras quando bebê. Isabelle responde: “New York Herald Tribune”, que é de uma cena deste filme.
- A Virgem Possuída (“Mouchette”, 1967, de Robert Bresson)
Depois que Isabelle tenta matar os três com gás de cozinha, fecha os olhos e passam cenas do suicídio de Mouchette.
- Luzes da Cidade (1931, de Charles Chaplin)
Cena em que Matthew e Theo começam a discutir quem era o melhor humorista, Chaplin ou Keaton. Theo explica o porquê dele gostar de Chaplin ao citar uma cena de Luzes da Cidade.
- O Homem das Novidades (“The Cameraman”, 1928, de Edward Sedgwick / Buster Keaton)
Matthew discutindo com Theo sobre o assunto citado acima. Uma cena do filme é mostrada.
- Juventude Transviada (“Rebel Without a Cause”, 1955, de Nicholas Ray)
Theo pergunta para Matthew quais os filmes que ele gostava sobre aquele diretor. Matthew responde: Juventude Transviada.

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Fontes:

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Deixa Ela Entrar (“Låt den Rätte Komma In”, Suécia, 2007)

Eu indico
Deixa Ela Entrar (Suécia, 2007)

O filme conta a história de Oskar, um menino de 12 anos que se aproxima de Eli, uma vampira. A história se passa em Blackeberg, subúrbio de Estocolmo, na Suécia, em fevereiro de 1982. Dirigido por Tomas Alfredson.

Vampiros na Suécia:
Baseado no livro de contos do escritor sueco John Ajvide Lindqvist, que também escreveu o roteiro, este filme, apesar de ter uma temática pouco original (vampiro), consegue surpreender em muitos aspectos os filmes do mesmo gênero. Essa versão sueca, inclusive bastante superior ao remake americano “Let Me In” (2010), serve de metáfora para a adolescência, o amadurecimento de crianças, tratando o tema de forma bem interessante.
Oskar (Kåre Hedebrant), garoto de 12 anos, sofre nas mãos dos colegas de escola a ponto da situação tomar rumos catastróficos. Bem introvertido e solitário, se identifica e se apaixona pela vizinha vampira, uma garota que precisa constantemente se alimentar de sangue humano. Eli (Lina Leandersson) também tem 12 anos, só que há muito tempo. Eles acabam ficando cada vez mais amigos, apesar do contragosto do senhor que, de forma bem dedicada, cuida da vampira.
Surge o primeiro amor do garoto e o diretor consegue colocar cenas singelas no meio de um filme com sangue e morte. Principalmente, o filme trata a questão do saber cuidar do outro. Vampirismo e assassinatos de forma proposital não ficam muito expostos, aumentando o suspense e brincando com a imaginação do espectador. Uma cena de terror, mais ao final, utiliza uma perspectiva interessante, mostrando, de um ponto de vista curioso, o que deve estar ocorrendo no cenário principal, mas permitindo ao espectador perceber a situação. Esta pode entrar para a lista de melhores cenas de terror com vampiro.
De um lado, um vampiro e seu fardo, e de outro, um humano (e seu fardo). Ao descobrir que Eli é uma vampira, não ocorre uma repulsa por parte de Oskar, ele na verdade mantém o seu interesse. As cenas fortes agradam, mas a construção dessa relação entre os garotos é o ponto alto do filme, chega a ser singela na forma como as cenas foram preparadas. Nessa mistura, está contido todo o drama tradicional vivido pelos vampiros, fazendo com que muitos filmes do gênero se tornem desnecessários.

Duas informações que podem não ter sido percebidas - SPOILER:
Pelo fato do diretor Tomas Alfredson não ter incluído no filme a cena de castração de Eli, descrita no livro original, muitos não perceberam que Eli, na verdade, é um menino castrado. Fica mais complicado pelo fato do personagem ser interpretado por uma garota, a atriz Lina Leandersson. Entretanto, em uma cena onde Eli sai do banho, Oskar rapidamente a enxerga sem roupa e podemos perceber uma cicatriz na região do órgão sexual.
Uma outra informação, que acaba ficando clara na versão americana, é que o senhor que cuida da vampira na verdade já foi um garoto que provavelmente se apaixonou por ela, e decidiu cuidar da mesma, algo que passa a ser um papel assumido por Oskar no final do filme.

“Eu não mato gente.“
(Oskar)

“Mas gostaria de matar... se pudesse.
Para se vingar. Certo?
Eu faço porque tenho de o fazer.
Por favor, Oskar, se coloca no meu lugar, só por um instante.”
(Eli)

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Fontes:

Bom Dia, Vietnã (EUA, 1987)

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Good Morning, Vietnam (EUA, 1987)

Em 1965, o DJ Adrian Cronauer (Robin Williams) é recrutado para comandar o programa de rádio das forças armadas dos EUA no Vietnã. Irreverente, ele agrada aos soldados, mas enfurece Steven Hauk, um segundo-tenente e superior imediato de Cronauer, que tinha uma necessidade enorme de provar que era superior hierarquicamente. Movido pela inveja e ciúme, ele tenta prejudicar Cronauer, mas a sua popularidade é tal que é protegido pelos altos escalões. Dirigido por Barry Levinson.

A guerra e a comédia:
A Guerra do Vietnã já foi retratada em alguns filmes, mas dificilmente de forma tão agradável quanto este, que não perde de vista os momentos sérios e dramáticos, mas é em boa parte um filme de comédia, e de comédia com graça e criatividade. Um elemento que garante este resultado é o talento nato do ator Robin Williams, em um papel perfeito para ele. É bem provável que, neste papel, tenha havido muito improviso do ator.
O talento do personagem, com a comédia, com as sacadas inventadas na hora para criticar algumas situações no contexto desta guerra, rapidamente alegra os soldados e serve como válvula de escape para estes que estão na iminência da batalha. Em se tratando da rádio como meio de comunicação de grande difusão, vemos a forte censura provocada pelos tenentes superiores a fim de não revelar informações que manchariam a imagem dos EUA, mas também existia a possibilidade de vazar informações estratégicas que poderiam colocar as forças armadas em desvantagem. Inovando e saindo do tradicional, Cronauer consegue criticar o governo americano e alternar entre sua locução e grandes hits dos anos 60, aumentando o valor do entretenimento da rádio. Podemos conferir, entre outros, James Brown com “I Feel Good” e Louis Armstrong com “What a wonderful world”. Este último é tocado enquanto são exibidas várias cenas com os vietnamitas e os norte-americanos em meio às atrocidades de uma guerra absurda, momentos verdadeiros que se contradizem com o título da música “Que mundo Maravilhoso”. Lembro desta música ter sido utilizada com a mesma finalidade no final do filme-biografia “Tiros em Columbine”, de Michael Moore (documentarista e apresentador de televisão e grande crítico aos EUA), em uma versão maravilhosa na voz de Joe Ramone (da banda Ramones).
Um país em crise, com terrorismo crescente. O medo no uso da informação conflita com a vontade de Cronauer em usar este veículo de comunicação da melhor forma possível. Com a imitação de várias vozes e muito bom humor, Robin Williams já garante o filme, independente das críticas a guerra. Recebeu uma indicação, na categoria de melhor ator, para o Oscar 1988 e venceu no Globo de Ouro, assim como venceu no BAFTA (Reino Unido) de 1989 (melhor ator - comédia / musical). Houveram mais indicações e premiações em outras cerimônias menores, o filme até recebeu o Political Film Society de 1989 (EUA), na categoria “Paz”.

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Fontes: