Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

terça-feira, 19 de julho de 2016

Paris, Texas (1984)

Eu indico
Paris, Texas (França / Alemanha / EUA)

Travis (Harry Dean Stanton) é um homem que, depois de estar desaparecido por mais de quatro anos, é reencontrado pelo irmão Walt num hospital na região desértica do Texas, próximo à fronteira com o México. Maltrapilho e com amnésia, é levado por Walt para a sua casa em Los Angeles, onde reencontra Hunter, seu filho de sete anos que foi abandonado pela mãe, Jane (Nastassja Kinski). Inicialmente estranhos, Travis e Hunter iniciam uma reaproximação que culmina numa grande amizade e também no desejo secreto de reencontrar Jane e reconstruir sua verdadeira família. Dirigido por Wim Wenders.

Travis, Jane e Hunter:
Nem só de blockbusters o cinema viveu nos anos 80. Este aqui é um drama familiar de peso, provavelmente a maior realização de Wim Wenders. Possui um formato com momentos que lembra os road movies e é uma produção conjunta entre a França e Alemanha, porém foi filmado nos Estados Unidos.
Parecem ser características de Win Wenders: coprodução entre dois países - como feito no documentário O Sal da Terra (2014), coprodução de Brasil e França – e uma fotografia maravilhosa – como neste último e em Asas do Desejo (1987). Neste Paris, Texas, temos tomadas bem abertas, focando a região desolada do oeste americano e passando sensações de perdição, infinito, solidão. as tomadas fechadas buscaram compor, principalmente, os momentos da relação entre os personagens, principalmente com questões familiares.
A Paris do filme não é a cidade luz, na França. Mas sim um vilarejo, onde o protagonista adquiriu um terreno, no Texas. O velho desejo de viver o sonho americano, com uma família feliz, é provocado através da visão que temos de duas famílias: a de Travis, que foi quebrada com a separação e abandono do filho, e a de seu irmão e sua esposa, que passaram a cuidar do filho de Travis e, dessa forma, passam a sentir pela possível perda do garoto, já que o filme lida bastante com a questão da reaproximação de pai e filho (Travis e Hunter). Essa retomada da relação é mostrada de forma incrível, tudo ao seu tempo, considerando que o filho mal se lembrava do pai. É algo difícil de explicar, meio fantástico. Como qualquer laço que se retoma, leva o seu tempo e se ajeita, se for da vontade de ambos e da permissão de Deus. O laço é forte, mágico, então os dois se reaproximam e percebemos que existe essa energia da relação fraternal, mesmo com o abandono anterior.
A separação do casal foi um mistério, até eles parecem encarar como algo subjetivo demais, embora a diferença de idade entre eles chame a atenção, afinal a personagem Jane é interpretada pela belíssima Nastassja Kinski, que estava bem jovem na época do filme. Sua atuação, por sinal, mesmo sendo em poucos momentos, é uma das melhores no filme, sua presença é muito marcante e marca o início do clímax. O filme praticamente ganha cores fortes, quando ela aparece, e o vermelho marcante se destaca.
Travis é como um errante, um samurai sem o seu senhor, que está tão perdido após a quebra da família que até fica com a memória afetada. A medida que vai voltando à realidade, ele então decide procurar a ex mulher e leva consigo o filho, que sente uma falta comovente e justa da mãe biológica. É mais um daqueles filmes que nossos preconceitos, julgamentos, vão sendo quebrados aos poucos, e é bem fácil de se identificar, ao menos, com as aspirações, desejos, dos personagens. Interessante como o diretor vai evoluindo a trama até entendermos melhor os dramas e escolhas dos personagens. Mas o melhor de tudo é essa possibilidade de retomada das coisas, quebrando a ideia de que o tempo cura tudo e por isso podemos sentar e esperar a morte chegar, já se dando por vencidos. Aqui não somente a esperança é deixada como desfecho, mas sim o fato em si de que as coisas já começaram a melhorar.

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Fontes:

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Paixão a flor da pele (2004)

Eu indico
Wicker Park (EUA, 2004)
Matthew (Josh Hartnett) é um jovem empresário que acredita ter visto em um café a mulher (Diane Kruger) que foi seu grande amor, que desapareceu misteriosamente há dois anos. Ele decide segui-la, descobrindo aonde ela mora. Esta se torna sua rotina durante vários dias, tornando-se uma obsessão para Matthew reencontrá-la. Um dia ele decide invadir o apartamento dela, para poder esperá-la. Porém o que ele não sabe é que a mulher que segue não é exatamente quem ele pensa ser. Dirigido por John Paul McGuigan.

Você já se apaixonou, não?
Não estamos diante de um filme meramente romântico. Podemos dizer que é um romance dramático que lida com questões comuns e interessantes, que justificam o amor, como o amor à primeira vista, ou as loucuras que podemos fazer quando estamos apaixonados por alguém, inclusive alguém que nem sabe que existimos. Mas o interessante mesmo é a forma como essas coisas vêm à tona, dentro de uma trama com um mistério, onde o quebra-cabeça vai sendo resolvido e revelado ao longo das cenas. Um espectador impaciente e desavisado pode desistir do filme antes da metade, porquê ele começa com muita música e o estilo de filmagem possui bastante sobreposição de cenas, podendo dar a sensação de estarmos numa passagem de um videoclipe ou até em um trailer, com as cenas com música e cortes de tela para mostrar 2 cenas ao mesmo tempo. Mas as coisas melhoram e percebemos que essa técnica é melhor aproveitada para explicar as coisas, principalmente quando uma cena anterior volta a aparecer, só que a vemos de novos ângulos; é uma técnica conhecida e que foi utilizada de forma satisfatória aqui.

Escute, a fala...
'Quem quer que eu corteje, seria tua esposa'...
Isso define a personagem.
Está apaixonada pelo cara...
e ele pede ajuda para conquistar outra!
Você está aborrecida, confusa,
é doloroso por dentro.
Tem que demonstrar o amor,
mas também a agonia.
Você já se apaixonou, não?”

Tudo fica muito interessante quando surge um novo personagem, a coadjuvante que rouba a cena, interpretada pela atriz Rose Byrne. Ela realmente agrada na interpretação e sua personagem passa a ser tão interessante quanto os protagonistas. A trama viaja entre o passado e o presente, e é legal entendermos, mesmo que isso leve um tempo, como cada personagem chegou ao ponto onde se encontra. Temos, como na vida real, pessoas fragilizadas, que buscam o seu equilíbrio próprio no amor. Além disso, é interessante como o acaso vai surgindo a todo momento, muitas vezes atrapalhando o objetivo dos personagens. É como se houvesse uma batalha entre o acaso e o sentimento, entre o acaso e a intuição.
O título original deste filme de 2004 é uma referência ao local onde o casal principal gostava de se encontrar (Wicker Park), o que nos remete a pensar em casais que têm o seu lugar preferido ou a sua música, como se fossem feitos só para eles. Quem não se lembra de alguém quando revisita algum lugar marcante ou escuta uma certa música?
O filme é uma refilmagem de "L'Appartement" (1996, de Gilles Mimouni) e teve um orçamento de US$ 30 milhões. O restaurante no qual Matt vê Lisa falando ao telefone chama-se Bellucci e, pelo que pode ser interpretado, é uma homenagem à atriz Monica Bellucci, que faz o personagem principal no filme original; o filme conta também com o ator Vincent Cassel. Já li críticas mais a favor do original em relação a este, para quem quiser conferir.

O amor leva você a fazer coisas loucas... insanas...
coisas que você nunca pensaria em fazer.
E aí está você fazendo.
Não pode evitar.”

Quando um romance foge do padrão hollywoodiano e oferece algo mais, como uma boa história, mesmo que sobre temas conhecidos, vale a pena ser conferido. Com certeza quem foi assistir a este sem muita pretensão, se surpreendeu. A trilha sonora do filme é muito interessante e, para provar que as coisas vão melhorando muito do meio para o final, a canção que encerra o filme é "The Scientist", do Coldplay, música maravilhosa, uma das preferidas de pessoas realmente apaixonadas. Confira a letra depois e busque as semelhanças com o desfecho do filme, que é muito bom, por sinal.

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Fontes:

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Horas de desespero (EUA, 2015)

Eu indico
No escape (EUA, 2015)

Jack Dwyer (Owen Wilson) é um americano que se muda com sua família para o exterior, no sul do Leste Asiático, por conta de seu trabalho. Porém, se depara com um golpe de Estado e então precisa fugir desesperadamente com sua família, já que todos os estrangeiros estão sendo executados de imediato. Dirigido por John Erick Dowdle.

Situação desesperadora, medidas desesperadas:
A situação dessa trama é realmente desesperadora e nada melhor do que um diretor com experiência no gênero terror para conduzir o filme. John Erick Dowdle foi diretor dos filmes Assim na Terra Como no Inferno (2014), Demônio (2010) e Quarentena (2009). Demônio foi aquele escrito por M. Night Shyamalan e também está neste blog:
Imagine que você é um americano... até aqui, talvez, esteja tudo bem. Entretanto, acaba de se mudar para um país estrangeiro e, algumas horas depois, ocorre um golpe de Estado e todo o lugar fica extremamente violento, do tipo “morte a qualquer estrangeiro sem pestanejar”. Como existe um conflito relacionado ao acordo sobre o controle da água, a situação piora para o americano Jack Dwyer (Owen Wilson), que é um dos representantes de uma empresa relacionada com o tema. Enfim, os rebeldes pretendem matar todos os americanos que estiverem no país e possuem a foto de Jack Dwyer. O pior ainda é que ele levou, consigo, sua esposa e suas duas filhas pequenas.
É interessante como o filme toma logo forma para mostrar o que se pretende, sem necessidade de muita introdução, e a partir daí praticamente não para. Não há descanso para a família que precisa se esconder, fugir e encontrar uma forma de escapar dali. A trama mantém quase o mesmo ritmo intenso até o último minuto, embora a melhor cena de todas ocorra logo no início. Sem revelar detalhes, se prepare para a cena da fuga no terraço do hotel onde a família estava hospedada. É uma cena bem criativa, que quebra clichês, e pode ficar como uma das mais tensas e bem imaginadas para este tipo de filme. Não tem como não se colocar na pele do pai e imaginar como você agiria naquela situação.
Owen Wilson, quase sempre lembrado pelos seus papéis de comédia, mais uma vez surpreende num papel dramático e mais forte, assim como o fez no maravilhoso filme de Woody Allen, Meia-noite em Paris (2011), que mesmo sendo uma comédia, é um filme, digamos, mais intelectual comparado aos demais que Owen Wilson participou.
Outra coisa que chamou atenção foi a forma como o personagem principal é apresentado ao conflito que se inicia. A reação de Owen Wilson é realista o suficiente e, para ajudar, a fotografia do filme é boa (Léo Hinstin), a câmera se movimentando para os lugares certos e nos passando o ponto de vista de quem está no meio do fogo cruzado. A trilha é de Marco Beltrami e acompanha bem as sequências do filme de causar agonia. É o que se chama de terror de sobrevivência. São como presas em constante perigo de morte, num local desconhecido, e só resta a Jack Dwyer manter a calma e conduzir sua família. Temos também a presença do personagem de Pierce Brosnan, um oficial arrependido por seus trabalhos anteriores e disposto a ajudar a família. As cenas com ele dão uma pitada de ação mais “leve de se ver”.
Em muitos momentos, temos a impressão de que estamos seguindo os passos dessa família, acompanhando em tempo real como se fossemos um repórter ou o cameraman do filme. Com um orçamento de US$ 5 milhões, comparado ao resultado, podemos dizer que o custo-benefício da obra foi muito positivo.

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Fontes:
http://observatoriodocinema.bol.uol.com.br/criticas/2015/10/critica-horas-de-desespero