Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Eu Vi o Diabo ("Akmareul boatda", Coreia do Sul, 2010)

Eu indico
Eu Vi o Diabo (Coreia do Sul, 2010)

Existe um psicopata sanguinário à solta na Coréia do Sul. Jang Kyung-chul (Choi Min-sik) mata mulheres de forma brutal. A polícia tenta capturá-lo há décadas, sem sucesso. Quando a noiva de Soo-hyun (Byung-hun Lee), um agente secreto, é assassinada por este homem, o agente decide procurar sozinho pelo responsável. O encontro entre os dois homens ocorre rapidamente, mas Soo-hyun decide que a morte não é suficiente: será preciso torturá-lo, muitas vezes, para que o outro aprenda todo o mal que causou. Dirigido por Jee-woon Kim.

Olho por olho, dente por dente:
Primeiramente, a proposta de não focar em mistérios, mas sim em reviravoltas deu muito certo neste filme. A situação é clara logo de cara, o assassino é mostrado no início e não demora muito para a questão principal ser difundida. Neste ponto, o diretor Jee-woon Kim (conhecido por dirigir “O último Desafio”, de 2013, aquele com Arnold Schwarzenegger) consegue trazer o espectador para o clímax durante o filme inteiro. Talvez ninguém esteja preparado para as reviravoltas, pois situações saem do controle e os personagens também perdem o seu controle emocional, mesmo que sejam bem seguros com o que estão fazendo. É bom porque consegue humanizar a todos, mesmo lidando com personagens experientes como o agente Soo-hyun e o assassino Jang Kyung-chul, que é muito bem interpretado pelo ator Choi Min-sik, mais conhecido por seu papel excelente no filme “Oldboy”. Agora ele faz um personagem psicopata, garantindo ótimas cenas. Mesmo quando está sofrendo, triunfando, ou sendo sarcástico, ele garante nossa atenção por sua grande interpretação. Em alguns momentos vamos até rir com o comportamento deste.
O filme estreou no Festival Sundance de Cinema de 2011 e nos cinemas norte-americanos de forma limitada. No Brasil, nada de passar pelo cinema. Teve muitas análises positivas lá fora, vejam abaixo duas declarações interessantes:
Mark Olson do Los Angeles Times: "Tem todo o festival de violência, com certeza, mas o que destaca I Saw the Devil dos outros é a sua corrente de emoções reais e o quão tristes elas podem ser."
Rob Nelson da revista Variety: "Conteúdo repugnante, pior do que o pior pornô de tortura, quase faz o filme inassistível, mas não o faz, simplesmente porque o filme de Kim é lindamente filmado, cuidadosamente estruturado e visceralmente engajador."
Realmente é um filme brutal, com cenas fortes, mas nada do que pessoas acostumadas já tenham visto por aí. Vale muito mesmo a pena, mesmo que fechando os olhos para algumas cenas, conferir o mesmo até o último segundo. Tem um nível de ação bem empolgante (cenas como a da estufa e da casa onde Soo-hyun enfrenta mais inimigos), ação esta que é garantida pelos confrontos entre o agente e o assassino, numa perseguição insana. A experiência de duas pessoas é colocada à prova, uma caçando um assassino que sabe caçar vítimas. Um agente altamente treinado (e criativo em seu plano de vingança) contra um assassino que nunca foi pego e parece nunca ter falhado em seus feitos, e que também possui um alto raciocínio mesmo em situações difíceis. E, mais uma vez, é um filme que surpreende bastante, com um final difícil de prever e, ao mesmo tempo, justo e coerente com a proposta que é trabalhada durante todo o filme. Questões já conhecidas como “não importa o que seja feito, nada vai livrar-nos do sentimento da perda” são bem trabalhadas e ficamos ansiosos por um desfecho.
A Coreia do Sul tem surpreendido com suas produções de filmes, principalmente suspense e policial. Para exemplificar e aumentar as indicações, vale a pena conferir:
- A trilogia da vingança, composta pelos  filmes "Mr. Vingança" (2002), "Old Boy" (2003) e "Lady Vingança" (2005), todos do diretor Park Chan-wook. No presente blog tem um pouco deles:
- “The Showdown” (2011), de Park Hoon-jeong-I, com excelente fotografia e efeitos no meio de uma guerra que serve de palco para criar uma situação tensa entre 3 personagens;
- “Memórias de Um Assassino” (2003), de Joon-Ho Bong, mais um suspense policial com uma proposta interessante (um assassino que sempre mata quando uma música específica toca no rádio);
- “The Chaser: O Caçador” (2008), de Na Hong-jin, filme inspirado no serial-killer coreano Yoo Young-chul;
- O Hospedeiro (2006), que retomou o estilo monstro do lago e também está neste blog:
E tantos outros que ainda não vi...

[SPLOILER] Diálogo interessante entre Jang Kyung-chul e Soo-hyun no filme “Eu Vi o Diabo”:

"Você já perdeu.
Acha que estava brincando comigo até agora?
Não sei o que é a dor.
Também não sei o que é o medo.
Não vai conseguir nada de mim.
Sendo assim... já perdeu.
Sabia disso?”
(Jang Kyung-chul)

“Eu acredito... que você venha a sentir dor mesmo depois de morto."
(Soo-hyun)

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Fontes:

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Médico e o Monstro (“Dr Jekyll and Mr Hyde”, EUA, 1931)

Eu indico
Dr Jekyll and Mr Hyde (EUA, 1931

O cientista Henry Jekyll, fascinado pela dualidade entre o bem e o mal, desenvolve um elixir que o transforma num perigoso assassino, que passa a ser conhecido como Sr. Hyde, revelando o lado sombrio que se esconde dentro dele. Dirigido por Rouben Mamoulian.

Doutor Jekyll e o Senhor Hyde:
No mesmo ano foram lançados “Frankenstein”, “Dracula” e “O Médico e o Monstro”, entrando para a lista dos primeiros grandes filmes de terror. Terror este que vem com toda uma temática de drama associada, servindo como um palco para discutir questões humanas. Para uma época onde o som praticamente acabava de surgir no cinema e não existiam recursos suficientes para grandes efeitos especiais, este filme surpreende. Contemplamos os efeitos durante as mudanças físicas do personagem principal, que se transforma num mostro bizarro, assim como a mudança de comportamento deste, que ganha destaque na grande interpretação do ator Fredric March, que acabou levando o Oscar de Melhor ator, dividindo o prêmio com Wallace Beery (“O Campeão”) por conta da diferença de apenas um voto (na época isto era considerado um empate na categoria). Complementando, temos a ótima fotografia de Karl Struss, na produção de Adolph Zukor (que também foi o produtor da versão anterior, de 1920) e, por fim, um diretor respeitado e ousado, Rouben Mamoulian, adaptando para as telas um grande clássico sobre a dualidade da alma humana, escrito por Robert Louis Stevenson: “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, publicado em 1886.
O resultado, considerado bem fiel à proposta da obra escrita, discute a existência do bem e do mal dentro de cada pessoa. A transformação da personalidade fica bem representada nas mudanças da voz, na expressão corporal (com direto a um pouco de acrobacias), nos gritos, violência e falta de cuidado e educação com os outros, contradizendo exageradamente com o Dr Jekyll, sempre gentil, bondoso e cuidadoso com as pessoas. Com grandes enquadramentos e movimentos de câmera, ficou fácil contemplar o filme. Logo no início podemos perceber a originalidade no uso da técnica de mostrar a visão da perspectiva do médico. Em outros momentos, a exibição de 2 cenas ao mesmo tempo - com a tela dividida - também se tratou de uma das primeiras inovações do tipo.
Somente no final da década de 60 o diretor revelou como os efeitos foram produzidos. Ao que parece, a equipe de maquiagem da Paramount construiu uma prótese para o personagem do Sr. Hyde, e os efeitos para a transformação usavam manipulação de uma série de filtros de cores na frente da lente da câmera. Durante a primeira cena da transformação, os ruídos que acompanham a trilha sonora incluem um sino soando ao fundo e supostamente uma gravação com a batida do coração do diretor Rouben Mamoulian. Incrível e original.

"São as coisas que não podemos fazer que sempre me seduzem"
Dr. Jekyll (Mr. Hyde?)

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Fontes:

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O Homem Duplicado (“Enemy”, 2013)

O Homem Duplicado (Canadá/Espanha, 2013)

Ao assistir um filme, Adam (Jake Gyllenhaal), um professor universitário, se dá conta que um dos atores é idêntico a ele. Intrigado com a estranha coincidência, ele passa a perseguir obsessivamente este homem a fim de desvendar o mistério. Dirigido por Denis Villeneuve.

Inimigo:
Adaptar um romance de José Saramago, com uma temática voltada para a identidade e cheio de metáforas, não deve ser um trabalho simples. Mas o diretor canadense Denis Villeneuve fez um ótimo filme que pode ser acrescentado aos seus excelentes Incêndios (2010) e Os Suspeitos (“Prisoners”, 2013). Este último tem uma postagem no blog:
http://eueatelona.blogspot.com.br/2013/10/os-suspeitos-prisoners-2013.html.
A partir da premissa acima, o filme aborda várias situações e cria uma ótima atmosfera de suspense. A noção de perda da identidade individual, tema central, é focada numa pessoa, interpretada por Jake Gyllenhaal em um de seus melhores papéis, este que mostrou também, no filme "Os Suspeitos", grande interpretação e que ainda é a minha preferida. Quando vemos os dois personagens que ele interpreta em O Homem Duplicado, percebemos novamente a maturidade de sua atuação, fazendo com que enxerguemos mesmo, nos detalhes, duas pessoas diferentes.
David Lynch é outro diretor que possui filmes parecidos e trata também dessa questão da identidade. Rapidamente me recordei de dois filmes dele que gostei bastante e, acreditem, foram ainda mais difíceis de entender e interpretar: A Estrada Perdida (1997) e Cidade dos Sonhos (“Mulholland Drive”, 2001). Essa temática foi tratada em muitos filmes, mas poucos deram essa profundidade metafórica e criativa que Villeneuve e Lynch conseguiram.
Com muita metáfora, mas também bastante normal em termos de situações que qualquer um poderia enfrentar, o filme pode nos confundir a ponto de demorarmos a perceber a intenção da trama, em algum ponto podemos confundir qual dos dois personagens está na cena em questão, embora na maioria das vezes o diretor faz questão de mostrar quem está ali. Pela personalidade forte e até óbvia de cada um, vamos acompanhando bem as cenas, mas para chegar a uma explicação, inclusive depois do desfecho, não posso garantir que seja para todos. Neste ponto, o site Cinedica revelou uma explicação embasada, mas não li a obra para saber se está de acordo. Reproduzo no final dessa postagem.
Seriam gêmeos perdidos? Um erro de Deus ao criar a mesma pessoa duas vezes em contextos diferentes no mundo? A mesma pessoa com alucinação ou esquizofrenia? E que tal um clone ou até o encontro com o seu duplo de outra dimensão paralela? E que tal uma viagem no tempo permitindo o encontro dos dois? Independente da ansiedade em desvendar este mistério, já é por si só interessante presenciar as cenas de interação entre os dois e a transformação que vão passando a medida que o clímax se aproxima. Detalhes como a chave, os sonhos, as aranhas e o papel relevante dos personagens coadjuvantes são utilizados para dar mais pistas, conteúdo e coesão com a proposta do escritor ou diretor. Também temos frases que se encaixam com a proposta, tais como “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa” ou "O caos é uma ordem por decifrar", assim como a trilha sonora densa e a fotografia com um visual bem trabalhado da cidade.
Adam e Anthony, ao se deparar com esta realidade duplicada, mostrarão seus desejos por respostas, seus conflitos e suas ações surpreendentes, diante de respostas que não são simples. Chegam a ser quase como inimigos, quando claramente percebemos que ambos estão insatisfeitos com sua vida e isso vai influir em suas ações independente do impacto no outro. Mas isto é só uma entra as várias dimensões desta teia de aranha criada por Saramago e Villeneuve.

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Fontes:

SPOILER – Explicação no site Cinedica:
A história acompanha Adam, um professor que vive em uma monótona rotina. Tudo muda quando ele recebe uma indicação de filme de um colega de trabalho. O homem acaba alugando o filme e o assiste, descobrindo algo curioso na fita. Um dos atores era idêntico a ele. Assustado e ao mesmo tempo curioso, Adam busca pelo homem na internet e descobre seu nome, Anthony, e sua curiosidade o faz procurar o ator.
Esse encontro entre os dois cria um verdadeiro caos. E essa tempestade surge na verdade dentro da cabeça do próprio Adam. Nunca houve dois deles, Anthony na realidade não existe, mas representa o lado mau de Adam, que possui um emprego estável, e mesmo com alguns problemas (como sua mania por controle), ele era um homem bom. Ao contrário de Anthony, o lado ruim do homem que insistia na carreira de ator, mesmo depois dela não ter dado certo, e tinha uma compulsão por sexo além de um medo enorme por compromisso, o que o fazia trair sua companheira.
Portanto, no momento em que Adam descobre da existência do ator (que era ele mesmo), ele tem seus dois lados duelando dentro de sua própria mente. E fica nítido que ele sofria de algum distúrbio psicológico. O final, chocante e surpreendente, vem através daquela enorme aranha mostrar que após Adam ter se livrado de seu lado mau, no acidente fictício em sua mente, e ter encontrado a chave para o clube de sexo, todo o processo estava se repetindo, como ele mesmo cita no início do filme, em uma aula (que as coisas são um ciclo e se repetem duas vezes... a primeira vez é uma tragédia e a segunda uma farsa cômica). Então após abrir a carta, com a chave dentro, Adam volta a cair na tentação de trair a mulher, por medo de comprometimento com ela e com a família que eles estavam gerando. E a aranha que surge no final, representa simbologicamente o sexo feminino, sendo a esposa dele a que surge no quarto. E a esposa, assim como a aranha na cena inicial que esta prestes a ser esmagada, temia ser esmagada pelo marido, temia que seu relacionamento fosse esmagado.