Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

sexta-feira, 18 de março de 2016

[ESPECIAL] Top 10 filmes lançados em 2015

Essa é a minha lista dos melhores filmes lançados em 2015:

01 – Star Wars - O Despertar da Força (EUA)
A energia dos fãs numa sala de cinema na estreia deste filme foi contagiante. O episódio 7 da saga é como uma retomada dos três filmes antigos (os episódios 4, 5 e 6) com toda aquela atmosfera que eles passaram e junto com os efeitos especiais fantásticos de hoje em dia. Dirigido por J.J. Abrams.
Nota IMDb: 8,4

02 – Filho de Saul (Hungria)
Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro e do Globo de Ouro, posso confirmar que os prêmios foram justíssimos. Fotografia ousada e grande poder de imersão, fazendo qualquer um sentir na pele tudo o que se passa na trama. Durante a Segunda Guerra Mundial, Saul Ausländer (Géza Röhrig) é um dos prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz. Saul é responsável pela cremação dos corpos dos outros judeus e, em meio à tensão do momento e às dificuldades inerentes desta tarefa, ele reconhece entre os mortos o corpo de seu próprio filho. Dirigido por László Nemes. Resenha abaixo:
Nota IMDb: 7,9

03 – Corrente do Mal (It Follows) (EUA)
O melhor terror do ano consegue assustar, deixar o espectador tenso e também deixar uma grande reflexão sobre questões que os jovens enfrentam na vida. Com algumas coisas nas entrelinhas, repleto de metáforas e num clima de terror clássico, o filme não chegou a conquistar grande público, mas foi bem reconhecido em festivais importantes, como no Festival de Cannes. Dirigido por David Robert Mitchell. Mais detalhes na resenha abaixo:
Nota IMDb: 6,9

04 – O Menino e o Mundo (Brasil)
Nossa animação recebeu o mais importante prêmio das animações, o Annie Awards, além de mais de 40 prêmios internacionais. A técnica da animação usou desenho com giz de cera e caneta sobre o papel e passa a impressão de que está sendo desenhada por uma criança que vai amadurecendo. A história parte de um simples garoto que vai do campo para a cidade em busca do pai. Consegue retratar bastantes aspectos do povo brasileiro. Dirigido por Alê Abreu.
Nota IMDb: 7,7

05 - A festa de despedida (Mita Tova) (Israel)
Este filme israelense lida com um assunto controverso e polêmico, a eutanásia, mas com uma boa dose de humor que o torna leve e divertido. Um elenco de velhinhos carismáticos que se metem em situações complicadas por causa de uma boa intenção. Fica como a melhor comédia dramática do ano. Dirigido por Tal Granit e Sharon Maymon. Mais detalhes na resenha abaixo:
Nota IMDb: 7,1

06 – Deus Branco (Feher Isten) (Hungria)
Uma revolta organizada de cães mestiços contra os seus opressores humanos é a proposta deste grande filme que dispensou efeitos especiais e domesticou todos os cães para as cenas. Dirigido por Kornél Mundruczó. Resenha no link abaixo:
Nota IMDb: 6,9

07 – A Bruxa (EUA / Canadá)
Mais um terror de arte, este filme está surpreendendo a todos. Vencedor de melhor direção (Robert Eggers) no Festival de Sundance, o filme tem muito suspense e diálogos grandiosos, é forte pelas cenas e pela atmosfera que uma família religiosa vive diante da luta contra o pecado e a busca da salvação pela fé. Coisas sem explicação começam a acontecer ao redor da família, animais com comportamentos estranhos, colheitas prejudicadas e sumiço de crianças.
Nota IMDb: 7,4

08 - O Regresso
O filme que deu a Leonardo DiCaprio o seu Oscar tão aguardado é um filme forte, cruel e com muito significado. Entre destaques está a relação homem e natureza, instinto de sobrevivência e respeito por ela. Dirigido por Alejandro González Iñárritu que recebeu o Oscar de melhor diretor por este. Dizem que ele dirige através da fotografia e o filme também recebeu a estatueta por melhor direção de fotografia (Emmanuel Lubezki).
Nota IMDb: 8,2

09 - Mad Max: Estrada da Fúria
Completando com louvor a série Mad Max, nas mãos de seu único diretor e criador George Miller, 30 anos depois do último filme, temos um grande filme de ação, cheio de efeitos visuais e com uma perseguição insana. Além disso, o filme mostra um mundo pós apocalíptico e lida com algumas questões de forma inteligente.
Nota IMDb: 8,1

10 – Goodnight Mommy (Ich seh, Ich seh) (Áustria)
Mais um filme de horror original, com um final surpreendente e angustiante. Também tem uma mensagem a ser passada e uma certa carga dramática. Foi a aposta da Áustria para o seu representante no Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro, mas acabou não sendo eleito. Dirigido por Severin Fiala e Veronika Franz. Mais detalhes na resenha abaixo:
Nota IMDb: 6,7

A ideia era escolher os 10 mais, então tive que deixar algumas boas opções de fora, como O Clã, Divertidamente, Chappie, No Coração do Mar, O Novíssimo Testamento, Labirinto de Mentiras, Deadpool, entre outros.

E que venham os filmes de 2016...

Filho de Saul (Hungria, 2015)

Eu indico
Saul Fia (Hungria, 2015)

Durante a Segunda Guerra Mundial, num campo de concentração de Auschwitz, Saul (Géza Röhrig) é um judeu obrigado a trabalhar para os nazistas, sendo um dos responsáveis em limpar as câmaras de gás após dezenas de outros judeus serem mortos. Em meio à tensão do momento e às dificuldades inerentes desta tarefa, ele reconhece entre os mortos o corpo de seu próprio filho. Dirigido por László Nemes.

Eu sou um sonderkommando! - SPOILER
Basta ler a premissa na sinopse acima para entendermos que se trata de um filme forte. A temática gira em torno de toda essa perseguição e extermínio que os judeus sofreram, ou seja, é bem comum nos cinemas, que já nos ajudou a entendê-la o suficiente através de filmes inesquecíveis. Então, essa produção húngara poderia ter sido só mais um caso a passar despercebido, mas na verdade é mais um caso a deixar uma marca; a começar pelas suas premiações, incluindo o Oscar e Golden Globe de melhor filme em língua estrangeira. Premiação em si, muitas vezes, não é condição para um filme ser excelente. A questão aqui é que o filme é realmente muito bom e, também, original em um certo aspecto.
A originalidade foi a maneira como o diretor escolheu contar essa história, além de um final no qual o inesperado e coerente coexistem. O recurso de filmagem ou fotografia conta essa história de uma forma diferente, focando, na maior parte do tempo, uma proximidade visual no personagem Saul. Chegamos a acompanhar por muitos minutos a câmera na cola dele, como se estivéssemos o seguindo como curiosos sobre o que ele vai fazer. Com isso, nossa percepção de todo o horror ao seu redor fica a cargo dos sons e imagens que nossos olhos alcançam de forma limitada, pois estamos muito próximos do personagem. A excelente mixagem e edição de som colaboram para passar essa sensação. Gritos, tiros e explosões, falas incompreendíveis, barulho de chamas acesas, passos, etc. Ouvimos e compreendemos, mesmo não enxergando tudo. Como já vimos em grandes filmes de terror, como Invocação do Mal (2013, de James Wan), o poder da sugestão causa mais medo e horror do que uma cena explícita ou um susto forçado.
Também foi acertada a ideia de não utilizar trilha sonora. Só nos resta imaginar o horror ao estarmos praticamente imersos no filme. Essa forma chega a incomodar, mas esse é o objetivo mesmo. Pessoas já reclamaram que se sentiram naqueles jogos de videogame de survival horror, tipo os de zumbi onde estamos quase em primeira pessoa. Com a tela neste filme mais quadrada, a sensação aumenta, mas não é como o filme Mommy (2014, de Xavier Dolan) que nos dá uma folga em algumas cenas. Aqui, você tem que sentir mesmo o ambiente que não dá folga para nenhum dos personagens judeus.
Saul é um personagem que tinha tudo para representar todo o desespero de um judeu num campo de concentração nazista, onde a morte é tão comum que, até diante do corpo sem vida de seu filho, ele age a princípio com certa normalidade e frieza. Mas aqui aparece outro aspecto interessante e é onde tenho que avisar que começarão os spoilers...
O filme dá alguns indícios de que o garoto pode não ser filho de Saul. E é aí que essa frieza é usada de forma fantástica na trama, pois Saul se apega então a um desconhecido, como se adotasse aquele filho na hora, e resolve a todo custo dar um enterro decente, nos moldes judeus, com rabino e tudo, para um semelhante. Essa é sua forma de se humanizar e deixar de ser só mais uma pessoa sem esperança de que aquilo é o fim (como ele mesmo disse: “já estamos todos mortos”).
Chega a ser agonizante acompanhar as peripécias de Saul para tentar concretizar esse enterro. Passa a ser um processo complicado no meio de um cenário mais complicado ainda. Com tantos obstáculos no meio daquele furacão, em vários momentos ele fica em situações extremas e ainda coloca os companheiros no meio, só para cumprir sua meta de enterrar o filho. Além disso, ele está forçadamente trabalhando para os Alemães num grupo denominado sonderkommandos, que eram os prisioneiros judeus designados para trabalhar como assistentes nos campos de concentração nazistas, inclusive encaminhando outros judeus para a câmara de gás e depois tendo que limpar tudo. No início do filme houve a preocupação de definir esse grupo, inclusive explicando que eles são designados até o dia em que forem exterminados, como todo o resto. Até por viverem ao lado dos Alemães, certa frieza toma conta dos sonderkommandos tão acostumados com as mortes ao redor.
Ao final, em meio a uma cena bem tensa e realista de uma resistência dos judeus, aparece um garoto e Saul sorri, como se naquele momento ele justificasse seu empenho em enterrar o filho e ficasse satisfeito, nos últimos segundos de sua vida nesta terra, pela grande intenção e ação. O garoto que aparece pode nos confundir, mas acredito que os fatos impedem de acharmos que seria espírito de seu filho, a começar pelo fato de que o garoto é diferente do outro fisicamente; além disso, ele se esbarra com um soldado. No final das contas, o garoto é mais uma vítima da guerra, obrigado a levar os soldados alemães até o esconderijo dos judeus, após ter visto eles passando por perto. Mas isso não importa, Saul o vê e sorri, feliz consigo mesmo em ter encontrado sua humanidade em um dos piores lugares possíveis e quase sem esperança.

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Fontes:

quinta-feira, 10 de março de 2016

Deus Branco (Hungria, 2014)

Eu indico
Feher Isten (Hungria, 2014)

O filme mostra a história do cão de raça mista Hagen que se muda, junto com sua guardiã Lili e o pai dela. O pai recusa-se a pagar a multa do cão "híbrido", imposta pelo governo e acaba por abandonar o cão. O cachorro Hagen logo atrai um grande número de seguidores mestiços que começam uma revolta aparentemente organizada, contra os seus opressores humanos. Dirigido por Kornél Mundruczó.

Gods and Dogs:
Mais de 200 cães representam os figurantes desse filme que faz uma bela crítica social e política, com um certo apelo contra o tratamento cruel dado aos animais. Hagen é o chefe da matilha, nosso principal personagem, que vive em Budapeste, capital da Hungria. O filme começa com uma cena impactante, onde uma garota numa bicicleta é perseguida por cães. Nada de filme leve, com cachorros fofos, para famílias que gostam de Sessão da Tarde. Este aqui é um filme forte e maduro.
A garota do filme tem um nome que normalmente é atribuído a animais (Lili). Já o cachorro (Hagen) possui um nome mais comum a humanos. Outra coisa curiosa é que “dog” (cão em inglês), quando escrito ao contrário, fica “god” (deus), e o título do filme é “Deus Branco”, uma referência ao ser humano que cada vez mais se coloca como superior e abusa desse falso poder. A revolta, revolução, feita pelos cães no filme, é sensacional, bem construída ao longo do longa, na medida que vamos acompanhando os percalços que o cão principal, Hagen, vai passando. Ele é um cachorro proibido pela sociedade por ser mestiço. Dessa forma, vemos cenas chocantes, brutalidade e uma crítica a coisas que serem humanos também já viveram bastante, e ainda vivem, diante do preconceito e da xenofobia.
O diretor húngaro Kornel Mundruczó usou dois labradores gêmeos, Luke e Body, para o papel de Hagen. Muitos cães precisaram ser bem treinados, já que não se utilizaram recursos de computação gráfica para as cenas. Como dito pelo diretor: “Foi uma experiência terapêutica. O filme é uma bela prova da cooperação singular entre duas espécies”. Ele também complementa que os cachorros vieram da Sociedade Protetora dos Animais e, ao concluir o filme, todos foram adotados.
A menina Lili tem um papel importante, já que ela realmente ama o seu cão e consegue acalmar os animais, ao tocar o seu trompete numa versão de "O Flautista de Hamelin", conto folclórico que foi readaptado pelos Irmãos Grimm e que narra um desastre incomum acontecido na cidade de Hamelin, Alemanha, em 26 de junho de 1284.
O filme foi inspirado no romance “Desonra”, apresentado nos teatros em 2012, do sul-africano J. M. Coetzee. Ganhou prêmio no festival de Cannes e mostrou ousadia com bom resultado, ao descartar a computação gráfica e utilizar animais adestrados, dando uma reinventada em filmes com animais, especialmente cachorros, e ainda beneficiando a eles, já que pelo visto a produção do filme incentivou a adoção dos animais.

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Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Flautista_de_Hamelin

sexta-feira, 4 de março de 2016

Uma Aventura na África (The African Queen, 1951)

Eu indico
The African Queen (Reino Unido / EUA, 1951)

Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial na África, o aventureiro Canadense Charlie Allnut (Humphrey Bogart), dono de um pequeno barco chamado Rainha Africana, é convencido pela inglesa Rose Sayer (Katharine Hepburn) a descer com seu barco o Rio Congo cheio de corredeiras e outros perigos. E o pior ainda, destruírem um navio Alemão situado em um ponto estratégico do antigo Congo Belga. Dirigido por John Huston.

A rainha africana:
Como costume, os condutores de barco dão nomes à sua embarcação. African Queen é um velho e precário barco a motor e seu dono, um simples homem sem muitas ambições na vida. Interpretado por Humphrey Bogart, ator que encarou vários personagens de filmes noir e papéis de gangster, mas que aqui mostrou a sua melhor interpretação, vencendo o Oscar de melhor ator. Curioso o seu admirável desempenho neste papel de um homem mais simplório, já que o ator se acostumou a papéis de homem mais intimidador, de valores questionáveis, dominador, traíra, amargo e cínico, como podemos conferir em Casablanca (1942), O Tesouro da África (Beat the Devil, 1953) e o noir À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946). Enfim, em um papel de um homem bom, amargurado, humilde e carismático, ele se revelou.
Seu personagem, apesar das características supracitadas, mostra uma maturidade resultante de uma boa experiência de vida. Inicialmente deprimido e solitário, recorrendo a bebida, acaba sendo transformado em um novo homem, graças ao poder da presença feminina representada por Katharine Hepburn. A mulher dignifica o homem. Através dela ele ganha coragem para enfrentar os perigos no meio de uma selva, no meio de uma guerra. Na verdade, ambos acabam beneficiados por esta convivência.
Essa parceria com Katharine Hepburn foi muito acertada. Acaba que, os três (homem, mulher e barco) vivem de fato uma bela aventura na África, focada na relação entre o casal, que entram em conflito inicialmente, pela diferença de classes e de pensamento, mas que vão acabar se conquistando e aprendendo alguns valores um com o outro, como coragem e companheirismo. Aproveitando a fórmula, o filme acaba sendo também uma história de amor, com seus momentos de comédia e aventura que, na direção de John Huston e interpretação de nossos protagonistas, não tem como ser ruim. Personagens que vão conquistando pela empatia, de forma única já que Bogart e Hepburn são ícones de glamour e grandeza do cinema que, aqui, são dois desajustados e aventureiros que vão passar por situações difíceis e até cômicas.
Rodado no antigo Congo Belga, hoje República Democrática do Congo, e no Lago Alberta em Uganda, os atores sofreram com as condições da natureza. Katharine Hepburn chegou e escrever um livro sobre os perigos, doenças e situações difíceis que a equipe como um todo enfrentou. Mesmo assim, valeu o resultado pela fotografia bela dessa paisagem natural da selva africana, fotografia de Jack Cardiff. O roteiro foi adaptado pelo próprio diretor John Huston, junto com James Agee (escritor americano), a partir do livro homônimo de C. S. Forester.

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Fontes: