Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

domingo, 15 de abril de 2012

A Doce Vida (“La Dolce Vita”)

Eu indico
A Doce Vida (Itália, 1960)

O jornalista Marcello (Marcello Mastroianni) vive entre as celebridades, ricos e fotógrafos que lotam a badalada Via Veneto. Neste mundo marcado pelas aparências e por um vazio existencial, freqüenta festas, conhece os tipos mais extravagantes e descobre um novo sentido para a vida. Em meio a uma infinidade de personagens famosos e exóticos, figuras extravagantes e mulheres lindas, Fellini realiza uma crônica social da época, retratando o tempo da velocidade, da influência norte-americana nos costumes sociais, dos carros, festas e mulheres formidáveis.

Fellini e a vida - SPOILER:
Federico Fellini, um dos mais expressivos diretores do cinema italiano, nos imerge no mundo da alta sociedade romana do pós-guerra. Através dos olhos do personagem Marcello, um jornalista de origem humilde que acaba tendo destaque na alta sociedade romana por cobrir matérias dentro desse cenário, Fellini mostra uma Roma caminhando para a modernidade e também para a decadência.
O repórter é um homem sem compromisso, que se relaciona com várias mulheres, esforçado no seu trabalho e que deseja se tornar um bom escritor. Ele vai passando por uma espécie de transformação, através da convivência com este mundo de aparências e falsidades. Mas não é só isso que o influencia, mas também o suicídio de um grande amigo – talvez o único amigo verdadeiro – do jornalista, logo depois de assassinar seus próprios filhos. Isso ocorreu cenas após um diálogo entre os dois, quando o amigo de Marcello proferiu sábias palavras sobre a amargura da vida. Apesar de toda sua riqueza, família aparentemente perfeita e rodeado de pessoas famosas, o amigo do jornalista acaba sucumbindo. Talvez este tenha sido o estopim para que Marcello se entregasse completamente à mediocridade e falsos amigos. Seu sonho de se tornar um escritor vai ficando cada vez mais distante e, aos poucos, o filme caminha para um final amargo, fazendo uma ironia com o próprio título.
O filme possui algumas seqüências que ficaram bem famosas, inclusive a primeira e última cena são de uma sensibilidade única. A primeira cena é algo que considero diferente e bem pensado. Imagine a estátua de Jesus Cristo sendo levada por um helicóptero até o Vaticano, as pessoas que estão no solo acham aquilo uma visão inusitada e, a medida que o helicóptero vai sobrevoando Roma, somos introduzidos a um visual da cidade se aproximando da modernidade, muitos prédios sendo construídos e de certa forma ofuscando o visual antigo da cidade, marcada por catedrais e cenários de pedra. O jornalista - que está no helicóptero - fica sobrevoando uma cobertura com piscina e mulheres, tentando conseguir o número de telefone de uma delas, mas o barulho dificulta a comunicação. Da mesma forma que a falta de comunicação ocorreu nesta cena e permeia essa sociedade, temos na última cena o barulho do vento e do mar impedindo que o personagem escute a garota que está na praia, ambos separados pela água e tentando se comunicar. Ele não parece se recordar da garota que havia conhecido na época em que tentava se dedicar a escrever um livro, mas ela o reconhece e tenta se comunicar. Após algum tempo, ele desiste e a garota sorri e olha para a câmera, ou seja, para nós espectadores, como se fizemos parte do filme e ela nos encarasse para saber que escolha faremos na nossa vida. Essa menina de rosto singelo pode ser a única ligação do personagem principal com uma vida de verdadeiro sentido. Uma forma inusitada de concluir a história.
Temos também a famosa sequência da Fontana di Trevi (a Fonte dos trevos, uma ambiciosa construção de fontes barrocas da Itália, com cerca de 26 metros de altura e 20 metros de largura), onde Marcello acompanha uma atriz de Hollywood, em passeio por Roma, e ela acaba resolvendo tomar um banho na fonte. Apesar do momento de satisfação com essa atriz e com outras mulheres, nenhuma delas consegue preencher o seu vazio interior, que vai cedendo à tolice, vaidade e insegurança. Pouco antes do final do filme, um grupo encontra um peixe enorme na beira da praia, e voltam sua atenção aos enormes olhos do animal, enxergando à sua volta um mundo incompressível e sem sentido, da mesma forma que o personagem principal.

Celebridades e curiosidades:
- O personagem "Paparazzo", fotógrafo interpretado por Walter Santesso, que trabalha com Marcello Rubini, é a origem do termo que descreve os fotógrafos perseguem as celebridades, denominados paparazzi, no plural. O filme eternizou esse termo;
- Uma das maiores sequências do filme, sobre o relacionamento de Marcello com uma velha escritora que vivia em uma torre e que seria interpretada pela atriz Luise Rainer, foi cortada do filme após uma série de problemas entre Rainer e Fellini. Ela reagiu furiosamente dizendo que: "havia estragado uma peça de roupa caríssima para vestir uma personagem que nunca existiria!";
- No filme aparece Christa Paffgen, que adotou o pseudônimo de Nico, e fez parte da banda Velvet Underground. Essa modelo e cantora interpreta a si própria nesta cena, onde também aparecem alguns garçons que eram aristocratas verdadeiros;
- Na cena do clube romano de estilo antigo, na qual Marcello faz sua primeira investida em "Sylvia" (Anita Ekberg), aparece Adriano Celentano, que anos mais tarde se tornou famoso na Itália como cantor e ator;
- Na noite em que Marcelo Mastroianni morreu, em 1996, centenas de romanos se dirigiram para a Fontana di Trevi, uma singela forma de homenagear o ator.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Sol é Para Todos (“To Kill a Mockingbird”)

Favoritos
O Sol é Para Todos (EUA, 1962)

Alabama, anos 1930. A pequena Jean (Mary Badham) é uma menina inteligente que tem no seu pai o grande herói. Atticus Finch (Gregory Peck) é um advogado viúvo que cuida de seu casal de filhos pequenos. Idealista e honesto, ele será o defensor de Tom, um negro acusado de estuprar uma mulher branca. Num júri composto apenas de brancos, todos sabem qual será o veredicto. Mas o advogado não desistirá de tentar provar que Tom é inocente. Além desse julgamento, a amizade de Jean com Boo Radley (Robert Duval), um deficiente mental que vive encarcerado em sua casa, vai fazer com que a menina passe a ver o mundo sob uma nova ótica e descobrir que o mundo dos adultos é mais cruel do que parece.

Um clássico:
Baseado em um romance vencedor do Pulitzer, escrito por Harper Lee e lançado em 1960, o filme tem como base as memórias familiares da autora, assim como um evento ocorrido próximo a sua cidade natal em 1936, quando ela tinha 10 anos de idade. O filme foca nessa cidadezinha pacata e as relações humanas existentes em sua comunidade, sendo que tudo é do ponto de vista de uma criança, a pequena Jean, que vai narrando a história. Dentro deste ambiente e dos acontecimentos, com toda a inocência e travessuras de três crianças (temos junto com a garota o seu irmão e um amigo), a atenção do espectador é constantemente voltada para dois personagens importantes na vida dos meninos: o advogado Atticus Finch, interpretado brilhantemente por Gregory Pack, que além de simbolizar uma pessoa segura no que acredita e dedicada aos seus deveres perante a sociedade, também é um grande exemplo de educação para seus filhos; e o enigmático Boo Radley, visto como uma abominação pelos vizinhos apesar de que o mesmo praticamente não sai de casa. O caráter e a bondade desses dois personagens, apesar de suas diferenças comportamentais, será apresentado ao espectador durante as passagens do filme. Muitos temas e lições são apresentados no filme, mas o que predomina é o preconceito racial. Muito interessante mostrar a incompreensão dos meninos quanto a tamanha idiotice que é esse preconceito.
O filme é um clássico, assim como o personagem Atticus, que foi considerado o maior “herói” dos últimos 100 anos em uma votação promovida pelo American Film Institute. Gregory Peck ganhou o Oscar de melhor ator, sendo que este é considerado o seu melhor trabalho. Além disso, o próprio ator afirma que o personagem se aproxima bastante da sua personalidade na vida real. Além dessa premiação, o filme faturou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção de Arte (em Preto e Branco). Não podemos deixar de lado o fato de que a atriz Mary Badham, com cerca de dez anos, foi indicada para o Oscar de atriz coadjuvante, interpretando com muita naturalidade a garotinha Scout. Este filme também marcou a estreia de Robert Duvall no cinema.
Além da grande lição de humanidade e lição de moral em relação ao preconceito racial, é um excelente filme de tribunal.

Matar um sabiá - SPOILER:
O discurso final no tribunal, pelo do advogado Atticus Finch, é limpo e bem cabível. E o desfecho do julgamento tem uma cena memorável, onde os negros, separados na parte superior da sala, se levantam em sinal de respeito e um deles chama a atenção da filha do personagem para pedir que ela se levante, pois o pai dela está passando.
Veja também que apesar da trama toda ser do ponto de vista das crianças, mostrando sua pureza e infantilidade, destaca também em algumas cenas já um certo amadurecimento, uma certa sabedoria dos meninos, claramente facilitados pelo modelo a ser seguido de comportamento do pai, como na cena em que o advogado está protegendo o negro, que está numa cela, e os garotos se colocam à frente dele para evitar que as pessoas invadam o local armadas. A iniciativa é do filho, e a filha ajuda quando começa a dialogar com uma das pessoas, que ela reconhece da vizinhança.
Outros personagens também têm um papel importante no filme, mesmo que não seja notado na maioria das cenas. O amigo dos irmãos, que sempre cita o seu próprio pai como alguém importante, que sempre está viajando, na verdade percebemos que trata-se de um menino carente pela ausência da figura paterna, dessa forma ele chega até a freqüentar e dormir na casa dos amigos. O personagem Boo possui um papel importantíssimo na trama, tendo várias coisas ligadas a ele (como os objetos deixados na árvore e que vão sendo guardados pelas crianças numa caixinha, sendo que o filme começa mostrando essa caixa aberta), com uma reviravolta no final evidenciando a sua importância.
Matar um sabiá (“To Kill a Mockingbird”, titulo original do filme) é verdadeiramente um crime, já que o animal não faz mal a ninguém. Sabiamente a pequena Scout faz essa comparação aos fatos que estão acontecendo na trama, logo nas ultimas cenas do filme.

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sábado, 7 de abril de 2012

L’Apollonide: Os Amores da Casa de Tolerância

Eu indico
L'Apollonide: Souvenirs de la Maison Close (França, 2011)

Início do século XX: o bordel L’Apollonide está vivendo seus últimos dias. Neste mundo fechado, onde alguns homens se apaixonam e outros se tornam viciosamente dependentes, as garotas dividem seus segredos, seus medos e suas dores.

Tolerância:
O filme nos dá a oportunidade de conhecer o funcionamento de um prostíbulo francês do final do século XIX, retratando bem o cenário e as questões que são desenroladas dentro de um fantástico casarão onde vivem garotas de programa. Cada uma delas possui personalidade e características bem específicas, e todas aparecem nuas, parcialmente nuas ou muito bem vestidas à espera dos clientes, com aqueles longos e enfeitados vestidos de época. Por outro lado, temos também os diferentes clientes, em grande parte a burguesia que consumia os serviços da casa. O casarão é de uma beleza bem trabalhada, com seus móveis e luzes, e as mulheres em sua maioria bem atraentes dão mais beleza ao ambiente. Um investimento bem acertado por parte da direção de arte, casado com uma fotografia rica em pequenos detalhes que podem não ser percebidos de cara: preste atenção na cena onde uma das mulheres está deitada no chão e fumando, veja como a fumaça sai lentamente da mesma e dá uma beleza à cena em si; em outras cenas a câmera está bem posicionada e próxima aos detalhes de rostos e corpos das mulheres.
De forma proposital, quase que não há cenas fora da casa, mostrado que o limite das mulheres é determinado pelas paredes da mansão de tolerância, um limite que elas precisam tolerar e, para algumas, só há consolo no fato de poder sonhar com algo diferente. Chega a ser um acontecimento extraordinário deixar a casa de L’Apollonide, fato que é bem focado no longa quando as mulheres dialogam sobre uma das garotas que abandonou o local. Entre passagens e espaços em comum pela casa, o diretor aproveita e volta algumas cenas já mostrando o ponto de visão de outra mulher (repare bem no início a cena do corredor, que depois será retomada por outro ângulo).
Uma das poucas cenas fora da casa é quando as garotas ganham um dia de folga. Vão para um local natural, ao ar livre, tomar banho de rio, muitas mulheres nuas e felizes pela liberdade de não ter que se oferecer ao cliente que paga por momentos de prazer.

Personagens - PEQUENOS SPOILERS:
Interessante como as mulheres são etiquetadas, principalmente pelos clientes, como por exemplo a mulher que sempre sorri, uma prostituta com cicatrizes no rosto, e como temos o lado humano bizarro de quem chega a pagar só para vê-la. Chega a ser contratada para se apresentar publicamente numa espécie de show erótico, além de se prostituir. Neste ponto sobre esta personagem destaco como o contraste com as cenas que mostram a prostituta no passado, com seu rosto ainda sem marcas, me levou a admirar mais ainda a sua beleza. Antes a mesma era destacada como a bela prostituta judia, mas agora é a bizarra mulher que sempre sorri.
Os clientes também eram apelidados pelas mulheres: o pintor, o barão, o escritor. Cada um com a sua mania e excentricidade. Temos o homem que amava champanhe e faz sexo com as mulheres enquanto elas tomam um banho da bebida, temos o típico cliente que gosta de amarrar as mulheres e até aquele que exige uma espécie de teatro fazendo uma prostituta bem jovem fingir ser uma boneca. Um dos clientes exibe a sua linda pantera quando visita a casa, e o melhor de tudo é que este animal terá um papel importante no filme.
O que poderia ser erótico e vulgar, acaba se tornando belo e natural neste filme. Os corpos das mulheres não são evitados pela câmera, mas sim elogiados por ela.

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