Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

quarta-feira, 20 de abril de 2016

O homem que engarrafava nuvens (Brasil, 2009)

Eu indico
O homem que engarrafava nuvens (Brasil, 2009)

A história do baião através da ascensão e queda de um de seus maiores expoentes, o letrista e compositor Humberto Teixeira, conhecido como o "doutor do baião". Responsável por clássicos como "Asa Branca" e "Adeus Maria Fulô", Teixeira atingiu o estrelato nos anos 50 mas acabou quase esquecido. Na década seguinte, com o surgimento da bossa nova, o baião quase caiu na obscuridade. Dirigido por Lírio Ferreira.

Baião:
O baião é um gênero musical e também uma dança, surgido e popularizado a partir da região Nordeste do Brasil, que utiliza os seguintes instrumentos musicais: viola caipira, triângulo, flauta doce e acordeão (também chamado de sanfona). A temática das músicas é o cotidiano dos sertanejos e a canção "Asa Branca" é a mais famosa, que fala do sofrimento do sertanejo em função da seca nordestina. Essa canção foi escrita por Humberto Teixeira e a história deste homem, vamos conhecer neste belíssimo documentário.
Na década de 1940 o baião tornou-se popular, através de Luiz Gonzaga (conhecido como o “rei do baião”) e Humberto Teixeira (“o doutor do baião”), abrindo caminho para outros artistas, servindo de inspiração até hoje. Raul Seixas misturou o rock com o baião em suas músicas. Gilberto Gil e Caetano Veloso também se apossaram deste gênero, entre outros, e assim o baião perpassa nossas raízes musicais. Podemos até citar figuras como David Byrne (músico e compositor norte-americano nascido na Escócia) e a atriz Silvana Mangano, que interpretou uma cantora de cabaré no filme Anna (1951, de Alberto Lattuada), onde o baião aparece. O caso de David Byrne é ainda mais interessante, pois ele tocava músicas de Luiz Gonzaga ao violão para entreter os colegas entre os shows. De alguma forma chegou a ele uma tradução para o inglês de “Asa Branca”, feita com a ajuda de um dicionário. Isso fez com que ele fosse convidado a gravar com a Forró in the Dark, banda brasileira que se apresenta em Nova York. Podemos conferir a semelhança entre os timbres vocais de David Byrne e Luiz Gonzaga. Essa e outras situações podem ser vistas neste documentário nacional.
A premissa é simples: mostrar a história de vida de Humberto Teixeira, partindo de sua filha, a atriz Denise Dummont, que vai em busca de conhecer o pai falecido. De muitos talentos e controvertida personalidade, ele foi compositor, advogado, deputado federal e criador das leis e direitos autorais. Grande parceiro de Luiz Gonzaga (vemos no filme um vídeo onde os dois estão conversando), Humberto Teixeira escreveu boa parte das músicas do rei do baião, inclusive “Asa Branca”. Sem eles, o baião poderia não ter o alcance que hoje tem no Brasil e no mundo. O filme é uma forma de entretenimento, cultura e poesia, ao reconhecer a história de Humberto Teixeira, junto com uma grande homenagem ao baião e dando um sentido a este gênero que representou orgulho e resistência dos nordestinos.
Documentários têm muitas vantagens, uma delas é apresentar ao mundo grandes nomes, que poderiam ficar praticamente desconhecidos se não fosse por isso. E este aqui mostra essa bela história de vida de Humberto Teixeira, pessoa que deve ser lembrada. Afinal, muitas pessoas sabem quem é o "rei do baião", mas não sabem quem é o "doutor do baião". Um outro exemplo é o documentário Procurando Sugar Man (2012, de Malik Bendjelloul) que mostra a incrível história do cantor Sixto Rodriguez, que tentou a sorte na cidade de Detroit nos anos 70.
Algumas passagens do filme contam também com Gilberto Gil, Lenine, Belchior, Elba Ramalho, entre outros, com direto a depoimentos e muita música boa. Recebeu grandes prêmios nacionais, 5 deles foram no Cine Ceará.

Humberto Teixeira e Luis Gonzaga
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Fontes:

terça-feira, 19 de abril de 2016

Para Minha Amada Morta (Brasil, 2016)

Eu indico
Para Minha Amada Morta (Brasil, 2016)

Após a morte de sua esposa, o fotógrafo Fernando (Fernando Alves Pinto) torna-se um homem calado e introspectivo. Ele vive cercado de objetos pessoais da falecida até descobrir, em uma fita VHS, uma surpresa que coloca em dúvida o amor da esposa por ele. A partir de então Fernando decide investigar a verdade por trás destas imagens, desenvolvendo uma obsessão que consome seus dias e sua rotina. Dirigido por Aly Muritiba.

O luto e a liberdade:
Eu realmente fico feliz quando vejo um filme nacional de qualidade. A experiência com este filme foi ainda mais gratificante pelo fato de ter participado da estreia com a presença do diretor Aly Muritiba, que ao final da sessão fez um bate papo com as pessoas que ficaram na sala. Saber motivações, dificuldades, inspirações e até a própria visão do diretor sobre a sua obra foi bem legal. Além do mais, a compreensão sobre o filme é maior já que ele respondeu a algumas perguntas do público sobre as cenas.
O filme é estruturado em dois grandes momentos. O primeiro é o do luto: fechado, claustrofóbico, sem vida, rotineiro e sem expectativas de melhoria. Cores escuras e ambientes fechados marcam esses momentos; já no segundo, engatilhado quando o personagem assiste a uma fita em VHS na qual a falecida esposa aparece, é mais vibrante, tenso, dinâmico e, ao mesmo tempo, varia entre a agonia e a libertação do personagem. Não dá para explicar muito sem contar passagens do filme, mas é bom ficar atento para essas diferenças, que vão se sobrepondo em alguns momentos. Cenários mais abertos e com mais cores acompanham os momentos que expliquei da segunda parte. Aqui, então, farei comentários sem contar as cenas e deixarei o expectador mais livre para suas interpretações.
Baseado na premissa acima, nos resta contemplar o enredo. As cenas podem ser arrastadas para alguns expectadores, mas assim mesmo necessárias para serem realistas. Algumas tomadas de cena são longas, mas precisavam ser para passar sua melhor compreensão. Como o próprio diretor disse, tem que dar o tempo e o silêncio necessário para o espectador respirar, perceber o ambiente e compreender a cena.
O personagem está sofrido, pois se encontra em luto pela sua amada esposa. Ele lava e estende as roupas da amada, assiste vídeos dos dois, observa fotografias, organiza objetos pessoais dela. Seria uma rotina triste e longa se não fosse um fato que ele presencia ao assistir a um vídeo que ele não conhecia. Por conta disso, ele sai dessa inércia e vai atrás de mais informações sobre o que viu. A partir daí o filme toma novas proporções e chega a se aproximar de um triller. A fotografia ajuda, principalmente em cenas que nos sugerem que nosso personagem vai tomar uma ação violenta. A pá na mão parece que será usada. Sabemos que a arma de fogo está guardada e pode ser usada. A cena sobre o telhado coloca um personagem em posição de desvantagem em relação ao outro. Dar as costas ao seu inimigo sem saber quem é ele de fato. Enfim, os personagens Fernando e Salvador, em suas atuações, nos passam todo o necessário em cenas repletas de possibilidades que permite ao diretor manejá-las a ponto de manter a tensão e a dúvida.
Essa resistência ao impulso, raiz de todo autocontrole emocional, é tão bem colocada no filme que não temos como sentir na pele o que o personagem passa. E o melhor é que suas intenções não ficam claras e isso nos gera o suspense. As cenas são sugestivas e tendenciosas, mas acabam nos enganando e surpreendendo em muitos momentos. A partir disso vem a transformação, da perda de interesse por coisas novas, quando está em seu luto reflexivo, até o ponto de se perceber como uma pessoa útil de novo, seja com as novas pessoas que conhece em sua empreitada, seja com o seu próprio filho amado; enfim, o personagem se transforma e se liberta. Vai da melancolia até a liberdade, com uma temática forte de vingança. Mas, de forma original, a violência eminente vai sendo eliminada muitas vezes, a cada cena, para nos mostrar que ela não é o caminho.
O filme também serve para desconstruir essa questão do olho por olho, dente por dente, de que a vingança é um forma de justiça, pois muitas vezes não conhecemos o lado do outro, da pessoa intitulado como “o culpado”. É interessante que, como espectadores, temos uma posição privilegiada em relação a esse culpado, pois acompanhamos a trajetória do ponto de vista do Fernando. E o “culpado” se chama Salvador, um nome sugestivo para este suposto antagonista.

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Fontes:

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Ressurreição (EUA, 2016)

Eu indico
Risen (EUA, 2016)

Às vésperas de um levante em Jerusalém, surgem rumores de que o Messias judeu ressuscitou. Um centurião romano agnóstico e cético (Joseph Fiennes) é enviado por Pôncio Pilatos para investigar a ressurreição e localizar o corpo desaparecido do já falecido e crucificado Jesus de Nazaré, a fim de subjulgar a revolta eminente. Conforme ele apura os fatos e ouve depoimentos, suas dúvidas sobre o evento milagroso começam a sumir. Dirigido por John Huston.

A Ressurreição de Jesus:
Lançado recentemente nos cinemas, este é um filme focado em algumas das passagens mais importantes da Bíblia Sagrada, que trata da ressurreição de Jesus Cristo, mostrado as suas aparições após a crucificação. O filme parte do evento da crucificação do nazareno e a trama vai se desdobrar sobre os acontecimentos que ocorrem após isso.
Um incrédulo, Clavius, interpretado por Joseph Fiennes, é o chamado tribuno de Pilatos, um soldado romano encarregado de encontrar o corpo do nazareno, que sumiu após completar 3 dias de falecido. Esse “encontro” de um homem comum com Jesus é abordado de uma forma que agrada, quanto mais por se tratar de um homem que está do lado romano com o salvador que estava supostamente morto. Acompanhamos o ponto de vista do tribuno, pois ele é o personagem principal; seus questionamentos, dilema, e sua bela transformação ocorrem ao longo do filme. Segundo Mickey Liddell, um dos produtores, “Ele não está procurando o corpo de Cristo para seguir sua agenda política ou religiosa. Ele está só seguindo ordens”. As cenas das aparições de Jesus após sua suporta morte são bem parecidas com o descrito na Bíblia, sendo este mais um ponto forte do filme.
Clavius é uma representação fiel da conversão do homem. Ao longo de sua jornada, ele não se conforma em não encontrar o corpo, se surpreende com o comportamento dos apóstolos e testemunhas de que Jesus de fato ressuscitou. O ator Joseph Fiennes, protagonista de Sheakspeare Apaixonado (1998), interpreta o tribuno.
A relação e encontro dos homens com Cristo (Novo Testamento) e com o Deus do Antigo Testamento ocorre muitas vezes na Bíblia e foi tratada em grandes filmes como Jesus de Nazaré de Franco Zefirelli (1977) e Os Dez Mandamentos (1956), de Cecil B. DeMille. Dois grandes diretores e dois grandes filmes. Cuidado para não confundir com Os Dez Mandamentos “da rede record” que eu nem me arrisco a assistir. Abaixo a resenha de um deles:
Particularmente não gosto de filmes católicos, evangélicos, cristãos, espíritas ou o que seja, que procuram forçar a barra para uma crença específica sem respeitar as diversas opiniões e nos evita a pensar de forma mais abrangente, como é o exemplo do filme Deus “Não” Está Morto, que já tem uma continuação nos cinemas, assim como outros títulos que assisti e não me recordo do nome. Mas este filme atende ao que se propôs, já que respeita as narrações da Bíblia e possui bons diálogos e um ponto de vista diferente. Vai agradar com certeza a quem acredita no Deus da Bíblia e na ressurreição de Jesus Cristo como salvador, mas também deve agradar aos céticos e outros que, no mínimo, podem substituir a leitura bíblica pelo filme, já que normalmente não há predisposição para ler a mesma.

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Fontes: