Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Sonhadores (“The Dreamers”, 2003)

Eu indico
The Dreamers (França / Reino Unido / Itália, 2003)

Matthew (Michael Pitt) é um jovem que, em 1968, vai estudar em Paris. Lá ele conhece os irmãos gêmeos franceses, Isabelle e Theo (Eva Green e Louis Garrel). Os três logo se tornam amigos, dividindo experiências e relacionamentos enquanto Paris vive a efervescência da revolução estudantil. Dirigido por Bernardo Bertolucci.

Homenagem ao cinema, por Bertolucci:
Este filme já apareceu em listas de filmes polêmicos com conteúdo sexual explícito. A bem da verdade, o diretor Bernardo Bertolucci deixou, em seus filmes, uma marca abordando situações que giram em torno do erotismo, mas sempre com bastante conteúdo em várias dimensões, seja poesia e arte em geral, política, comportamento humano, história, etc. Baseado no romance “Os Inocentes Sagrados” de Gilbert Adair, que também elaborou o roteiro do filme, contemplemos uma mistura maravilhosa de cinema, sexo e revolução.
A homenagem realizada ao cinema vai se encaixando na trama a medida que filmes são explicitamente mostrados ou citados de forma mais sutil, com direto a exibição de cenas de grandes clássicos, como Os Incompreendidos (“The 400 Blows”, 1959, de François Truffaut), O Picolino (“Top Hat”, 1935, de Mark Sandrich), Crepúsculo dos Deuses (“Sunset Boulevard”, 1950, de Billy Wilder), Luzes da Cidade (“City Lights”, 1931, de Charles Chaplin) e Juventude Transviada (“Rebel Without A Cause”, 1955, de Nicholas Ray). Essa pitada de cada filme deixa uma imensa vontade de assistir a todos eles. A lista completa pode ser conferida no final desta postagem, assim como a cena onde cada um deles aparece.
O interessante é discutir a visão e importância dos espectadores, isso vai sendo trabalhando do ponto de vista dos três personagens principais que, apaixonados por cinema, chegam ao ponto de fazer jogos do tipo “Qual o nome do filme?”, com prendas sexuais inusitadas para quem não acertar.
A Paris de 1968, marcada por revoluções, inclusive manifestações no cinema, é o cenário onde um estudante americano conhece dois irmãos franceses e os três começam a viver experiências sexuais somente entre eles. Entre a oportunidade de viver o prazer da situação, e a luta contra a repressão que basicamente ocorre fora do apartamento dos irmãos - onde se passa quase o filme inteiro – os personagens vivenciam revoluções culturais, música, cinema e sexualidade. Eva Green está arrebatadora em sua sensualidade, numa personagem que horas parece madura e segura, horas inocente ou fingida. Este foi um de seus primeiros trabalhos no cinema, Bernardo Bertolucci descobriu essa atriz nos palcos franceses e chegou a dizer que ela possui uma beleza “indecente".

Referências a filmes e onde aparecem - SPOILER:
- Bande à Part (“Band of Outsiders”, de Jean-Luc Godard)
Quando Isabelle, Theo e Matthew correm no Louvre, tentando quebrar o recorde (9 minutos e 43 segundos) de uma cena em Bande à Part.
- Paixões que Alucinam (“Shock Corrido”, de Samuel Fuller)
É o filme que Matthew está assistindo no cinema, quando ele diz que gosta de sentar na frente para ser o primeiro a receber as imagens.
- O Demônio das Onze Horas (“Pierrot Le Fou”, 1965, de Jean-Luc Godard)
- Os Incompreendidos (“The 400 Blows”, 1959, de François Truffaut)
Posters dos filmes no quarto do Theo.
- Quando Duas Mulheres Pecam (“Persona”, 1966, de Ingmar Bengmar)
Pôster de Liv Ullman e Bibi Andersson em Persona no apartamento de Matthew.
- A Chinesa | La Chinoise (1967), de Jean-Luc Godard
Pôster do filme no quarto dos gêmeos.
- A Vênus Loira (“Blonde Venus, 1932, de Josef Von Sternberg)
Cena em que Isabelle entra no quarto de Theo cantando com seus óculos escuros e um espanador. Isabelle pergunta ao irmão qual o nome do filme.
- Parada de Monstros (“Freaks”, 1932, de Tod Browning)
Isabelle e Theo aceitam Matthew depois da corrida no museu, dizendo: "We accept him, one of us”.
- Scarface (1983, de Brian De Palma)
Isabelle e Matthew estão jogando quando Theo finge uma cena do filme, se jogando no chão.
- Rainha Christina (1933, de Rouben Mamoulian)
Isabelle atua imitando a personagem de Greta Garbo, dizendo "memorizing this room" na primeira noite que Matthew dorme em sua casa.
- O Picolino (“Top Hat”, 1935 de Mark Sandrich)
Cena em que Isabelle e Theo começam a discutir sobre a música alta e rapidamente Isabelle pergunta ao Matthew qual o nome de um filme.
- Acossado (“À Bout de Souffle”, 1960, de Jean-Luc Godard)
Cena em que Isabelle fala para Matthew quais foram as suas primeiras palavras quando bebê. Isabelle responde: “New York Herald Tribune”, que é de uma cena deste filme.
- A Virgem Possuída (“Mouchette”, 1967, de Robert Bresson)
Depois que Isabelle tenta matar os três com gás de cozinha, fecha os olhos e passam cenas do suicídio de Mouchette.
- Luzes da Cidade (1931, de Charles Chaplin)
Cena em que Matthew e Theo começam a discutir quem era o melhor humorista, Chaplin ou Keaton. Theo explica o porquê dele gostar de Chaplin ao citar uma cena de Luzes da Cidade.
- O Homem das Novidades (“The Cameraman”, 1928, de Edward Sedgwick / Buster Keaton)
Matthew discutindo com Theo sobre o assunto citado acima. Uma cena do filme é mostrada.
- Juventude Transviada (“Rebel Without a Cause”, 1955, de Nicholas Ray)
Theo pergunta para Matthew quais os filmes que ele gostava sobre aquele diretor. Matthew responde: Juventude Transviada.

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Fontes:

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Deixa Ela Entrar (“Låt den Rätte Komma In”, Suécia, 2007)

Eu indico
Deixa Ela Entrar (Suécia, 2007)

O filme conta a história de Oskar, um menino de 12 anos que se aproxima de Eli, uma vampira. A história se passa em Blackeberg, subúrbio de Estocolmo, na Suécia, em fevereiro de 1982. Dirigido por Tomas Alfredson.

Vampiros na Suécia:
Baseado no livro de contos do escritor sueco John Ajvide Lindqvist, que também escreveu o roteiro, este filme, apesar de ter uma temática pouco original (vampiro), consegue surpreender em muitos aspectos os filmes do mesmo gênero. Essa versão sueca, inclusive bastante superior ao remake americano “Let Me In” (2010), serve de metáfora para a adolescência, o amadurecimento de crianças, tratando o tema de forma bem interessante.
Oskar (Kåre Hedebrant), garoto de 12 anos, sofre nas mãos dos colegas de escola a ponto da situação tomar rumos catastróficos. Bem introvertido e solitário, se identifica e se apaixona pela vizinha vampira, uma garota que precisa constantemente se alimentar de sangue humano. Eli (Lina Leandersson) também tem 12 anos, só que há muito tempo. Eles acabam ficando cada vez mais amigos, apesar do contragosto do senhor que, de forma bem dedicada, cuida da vampira.
Surge o primeiro amor do garoto e o diretor consegue colocar cenas singelas no meio de um filme com sangue e morte. Principalmente, o filme trata a questão do saber cuidar do outro. Vampirismo e assassinatos de forma proposital não ficam muito expostos, aumentando o suspense e brincando com a imaginação do espectador. Uma cena de terror, mais ao final, utiliza uma perspectiva interessante, mostrando, de um ponto de vista curioso, o que deve estar ocorrendo no cenário principal, mas permitindo ao espectador perceber a situação. Esta pode entrar para a lista de melhores cenas de terror com vampiro.
De um lado, um vampiro e seu fardo, e de outro, um humano (e seu fardo). Ao descobrir que Eli é uma vampira, não ocorre uma repulsa por parte de Oskar, ele na verdade mantém o seu interesse. As cenas fortes agradam, mas a construção dessa relação entre os garotos é o ponto alto do filme, chega a ser singela na forma como as cenas foram preparadas. Nessa mistura, está contido todo o drama tradicional vivido pelos vampiros, fazendo com que muitos filmes do gênero se tornem desnecessários.

Duas informações que podem não ter sido percebidas - SPOILER:
Pelo fato do diretor Tomas Alfredson não ter incluído no filme a cena de castração de Eli, descrita no livro original, muitos não perceberam que Eli, na verdade, é um menino castrado. Fica mais complicado pelo fato do personagem ser interpretado por uma garota, a atriz Lina Leandersson. Entretanto, em uma cena onde Eli sai do banho, Oskar rapidamente a enxerga sem roupa e podemos perceber uma cicatriz na região do órgão sexual.
Uma outra informação, que acaba ficando clara na versão americana, é que o senhor que cuida da vampira na verdade já foi um garoto que provavelmente se apaixonou por ela, e decidiu cuidar da mesma, algo que passa a ser um papel assumido por Oskar no final do filme.

“Eu não mato gente.“
(Oskar)

“Mas gostaria de matar... se pudesse.
Para se vingar. Certo?
Eu faço porque tenho de o fazer.
Por favor, Oskar, se coloca no meu lugar, só por um instante.”
(Eli)

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Fontes:

Bom Dia, Vietnã (EUA, 1987)

Eu indico
Good Morning, Vietnam (EUA, 1987)

Em 1965, o DJ Adrian Cronauer (Robin Williams) é recrutado para comandar o programa de rádio das forças armadas dos EUA no Vietnã. Irreverente, ele agrada aos soldados, mas enfurece Steven Hauk, um segundo-tenente e superior imediato de Cronauer, que tinha uma necessidade enorme de provar que era superior hierarquicamente. Movido pela inveja e ciúme, ele tenta prejudicar Cronauer, mas a sua popularidade é tal que é protegido pelos altos escalões. Dirigido por Barry Levinson.

A guerra e a comédia:
A Guerra do Vietnã já foi retratada em alguns filmes, mas dificilmente de forma tão agradável quanto este, que não perde de vista os momentos sérios e dramáticos, mas é em boa parte um filme de comédia, e de comédia com graça e criatividade. Um elemento que garante este resultado é o talento nato do ator Robin Williams, em um papel perfeito para ele. É bem provável que, neste papel, tenha havido muito improviso do ator.
O talento do personagem, com a comédia, com as sacadas inventadas na hora para criticar algumas situações no contexto desta guerra, rapidamente alegra os soldados e serve como válvula de escape para estes que estão na iminência da batalha. Em se tratando da rádio como meio de comunicação de grande difusão, vemos a forte censura provocada pelos tenentes superiores a fim de não revelar informações que manchariam a imagem dos EUA, mas também existia a possibilidade de vazar informações estratégicas que poderiam colocar as forças armadas em desvantagem. Inovando e saindo do tradicional, Cronauer consegue criticar o governo americano e alternar entre sua locução e grandes hits dos anos 60, aumentando o valor do entretenimento da rádio. Podemos conferir, entre outros, James Brown com “I Feel Good” e Louis Armstrong com “What a wonderful world”. Este último é tocado enquanto são exibidas várias cenas com os vietnamitas e os norte-americanos em meio às atrocidades de uma guerra absurda, momentos verdadeiros que se contradizem com o título da música “Que mundo Maravilhoso”. Lembro desta música ter sido utilizada com a mesma finalidade no final do filme-biografia “Tiros em Columbine”, de Michael Moore (documentarista e apresentador de televisão e grande crítico aos EUA), em uma versão maravilhosa na voz de Joe Ramone (da banda Ramones).
Um país em crise, com terrorismo crescente. O medo no uso da informação conflita com a vontade de Cronauer em usar este veículo de comunicação da melhor forma possível. Com a imitação de várias vozes e muito bom humor, Robin Williams já garante o filme, independente das críticas a guerra. Recebeu uma indicação, na categoria de melhor ator, para o Oscar 1988 e venceu no Globo de Ouro, assim como venceu no BAFTA (Reino Unido) de 1989 (melhor ator - comédia / musical). Houveram mais indicações e premiações em outras cerimônias menores, o filme até recebeu o Political Film Society de 1989 (EUA), na categoria “Paz”.

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Fontes: