Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Artigas: La Redota

Eu indico
Artigas: La Redota (Uruguai, 2011)

Em 1884, o governo uruguaio dá ao retratista compatriota Juan Manuel Blanes (1830 – 1901) a missão de retratar José Artigas (1764 – 1850). Motivos políticos à parte, a tarefa era grandiosa. Para os uruguaios, el libertador Artigas foi mais que o rosto de um homem corajoso. Pelos ideais cultivados e feitos realizados, o homem se confunde com a identidade uruguaia e o mais primitivo dos anseios humanos: liberdade.

El libertador Artigas:
Carregado de um bom material histórico e político, a trama já fica interessante quando inicia pela tarefa do pintor em reconstruir a imagem de um herói. A tarefa é difícil, pois o material disponível para produzir a pintura são anotações de 70 anos atrás, feitas por Guzmán Larra (Rodolfo Sancho), um espião espanhol enviado para se infiltrar entre os revolucionários e matar Artigas (Jorge Esmoris). Com isso temos duas narrativas, em momentos diferentes, onde esses dois homens tentam encontrar Artigas, líder da marcha histórica conhecida como La Redota, quando o líder fugiu com milhares de seguidores e deu início ao movimento nacionalista do Uruguai. Com histórias separadas pelo tempo, Blanes e Larra se encontram na busca pelo herói da independência do país.
Muito boa a idéia de mostrar um herói que realmente existiu, este quase desconhecido pelos brasileiros, herói nacional do Uruguai, José Artigas. Percebemos um grande feito da equipe de produção do filme, em resgatar muito conteúdo histórico para agregar à trama.
Na primeira parte da narrativa, vemos os defeitos de Artigas, através das sensações de Larra, e somos meio que influenciados a sentir certa aversão a ele. Junto com o espião, e também com o pintor, separados pelo tempo, vamos transformando nossa percepção através dos fatos, das ações que vamos acompanhando deste revolucionário, que liderou guerrilhas formadas por pessoas do povo (gaúchos, índios, negros), buscando tratar a todos com igualdade, como uma única grande família. Sitiados entre a violência dos inimigos e o esquecimento, os revolucionários vivem entre farrapos e com pouca comida. A perseverança e a comunhão de esperança daquela pobre gente intriga Larra. Mais o que mais o intriga é o Artigas, que é apenas um homem, mas exerce uma influência sobre o seu povo que é difícil de explicar. Ele também é falível e por vezes ingênuo, como demonstra numa cena em que confia cegamente na deserção de um dos seus homens. Para tristeza do governo uruguaio e surpresa de Blanes, é pela força do povo que Artigas emerge, como o centro de uma força que já não se pode deter.
Também existe uma crítica à força da imagem e seu uso na história. Como os registros históricos ambíguos são apresentados para as gerações posteriores. A história é reescrita e também é repintada.
Produzido para a televisão espanhola como parte da série Os Libertadores, Artigas: La Redota é o segundo longa-metragem de César Charlone, e faz parte de um conjunto de filmes sul-americanos, onde um deles será sobre Tiradentes (retratado pelo cineasta Marcelo Gomes). Sua estréia como diretor se deu com O Banheiro do Papa (2007), que lhe rendeu uma série de prêmios. Ele também cuidou da fotografia em Cidade de Deus (2002), O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio sobre a Cegueira (2008).

No Festival de Gramado 2012:
Tive oportunidade de conhecer Gramado este ano, na semana do 40º Festival de Cinema de Gramado, sendo que este foi o primeiro filme que assisti nas 5 noites em que pude ficar. Artigas: La Redota levou quase todos os prêmios na mostra de longas estrangeiros (concorreram filmes do Uruguai, Chile, Argentina e Cuba), mas não posso deixar de indicar outros filmes e também curtas selecionados no Festival 2012, excelentes e que tive oportunidade de ver na minha curta passagem por lá:
- Menino do Cinco (2012) – BA: curta bahiano que foi o mais premiado no festival, onde um garoto finalmente encontra um amigo, mas ele não pode ser seu. Sensacional e com um final impactante;
- Super Nada (2012) – SP: filme que gostei muito, sobre um ator que sonha em ser grande, na cidade de São Paulo. Seu ídolo e exemplo é Zeca, comediante de TV que, embora velho e decadente, ainda mora no coração de toda uma geração. Seus caminhos se cruzam e a sorte de Guto parece mudar;
- Meta (2012) – SP: curta interessantíssimo. Federico vive em um filme que ele mesmo dirige, mas será isso suficiente para conquistar a garota de seus sonhos?
- Colegas (2012) – SP: filme que pode chamar bastante atenção quando entrar em cartaz. Um Road movie onde três jovens com síndrome de Down resolvem se aventurar e fugir, buscando realizar três sonhos;
- Vinci (2012) – Cuba: filme sobre Leonardo Da Vinci, quando aos 24 anos ficou preso num calabouço com mais dois prisioneiros, e usou sua arte para sobreviver;
- A Mão que Afaga (2011) – SP: curta que mostra uma operadora de telemarketing que planeja a festa de aniversário de 9 anos de seu único filho, Lucas, com poucas chances de dar certo;
- Casa Afogada (2011) – RS: curta sobre um homem que vive recluso em uma casa sobre palafitas. Subitamente as águas tornam-se revoltas e ele precisa lutar para manter sua casa, suas memórias, seu último refúgio;
- Linear (2012) – SP: curta com animação, sobre a linha ser um ponto que saiu caminhando;
- O Que Se Move (2012) – SP: filme onde três núcleos familiares, em três diferentes situações, precisam lidar com mudanças súbitas em suas vidas, envolvendo alguma perda ou um reencontro há muito esperado;

Infelizmente não puder ficar para assistir ao filme O Som ao Redor (2012) – PE, que está recebendo prêmios em outros festivais e tem uma proposta bem interessante. Este recebeu boa parte das premiações em Gramado, juntamente com o filme Colegas.

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Fontes:
http://www.papodecinema.com.br/filmes/artigas-la-redota

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Kung-Fusão (“Kung Fu Hustle”)

Eu indico
Kung Fu Hustle (China, 2004)

"Kung-fusão" conta a história de um jovem zé ninguém (Chow) que, para se dar bem na vida, quer se tornar um gângster em plena China dos anos 40. Numa cidade dominada pela Gangue do Machado, ele tenta de qualquer jeito se firmar. Só que existe uma pequena vila que consegue resistir à penetração das gangues e é justamente dominando essa vila que ele pode provar seu valor e ser recrutado.

Kung-fu com comédia:
Stephen Chow é um ator e cineasta de Hong Kong, que em 2001 teve a idéia de combinar esporte com kung-fu, fazendo um filme de ação e comédia chamado “Shaolin Soccer” (“Kung Fu Futebol Clube”, no Brasil). Filme hilariante, onde o sucesso internacional garantiu que seu próximo filme, Kung-fusão, chegasse ao ocidente nos cinemas, e não diretamente em DVD.
Considero Kung-fusão melhor do que Shaolin Soccer, quem gostar de um vai acabar gostando do outro. Prevalece na trama a luta exagerada, mas bem feita e agradável, misturando ação com comédia, apresentando diferentes personagens e seus “poderes”; até os vilões ficaram bem colocados, inclusive o líder da Gangue do Machado, que não possui poderes. É um filme bem diferente do que já vimos, tanto na questão comédia, quanto na questão kung-fu.
O filme começa interessante, apresentando a gangue com uma trilha sonora empolgante e direito a coreografia. Os efeitos especiais ajudam muito, no entanto, são os personagens que garantem o sucesso do filme. Chow está ótimo, engraçado quando tem que ser engraçado e sério quando precisa de seriedade. Ele aparece muito menos que em Shaolin Soccer, dando espaço a uma série de personagens que vão do seu parceiro abobalhado ao maior assassino de todos os tempos, praticante do perigoso kung-fu do sapo. Temos até personagens que usam instrumentos chineses como arma. Quando o bairro pobre é ameaçado, três pacatos habitantes revelam-se mestres de kung-fu e partem para defender sua gente.
Chow ainda abre espaço para um certo melodrama que, por quebrar constantemente com as expectativas do espectador, deixa um clima mais sério e torna "Kung-fusão" mais impactante do que o esperado.
É kung Fu puro e simples, mas de uma forma bastante exagerada, tendo como propósito principal a diversão pura, ótimo para quem está precisando relaxar e se divertir.

Looney Tunes e Bruce Lee – SPOILER:
Em um dado momento do filme, de forma inesperada e inusitada, dois personagens entram numa perseguição que lembra o Papaléguas e o Coyote, uma forma do diretor homenagear o universo Looney Tunes.
Além disso, temos referências a Bruce Lee, quando a proprietária do vilarejo onde se passa a história faz os gestos de ameaça ao líder da gangue, igual a um famoso gesto de Bruce Lee em um de seus filmes, o gesto calando as palavras. Além disso, veja que a roupa de Stephen Chow na batalha final é igualzinha a de Bruce Lee no filme Operação Dragão (1973), kimono branco na parte superior e preto na inferior. Chow é fã de Bruce Lee e foi inspirado por ele.
Até uma referência sutil a Shaolim Soccer ocorre no início do filme.
Em meio a todas essas referências, com cenas absurdas, temos uma história no mínimo interessante, com bons elementos chineses, onde um grupo de lutadores experientes e esquecidos, falidos e morando em um cortiço, acabam defrontando-se com a mais perigosa gangue da região. Cada um desses lutadores possui golpes e características especiais, como a mulher que tem como seu ponto forte o estrondoso grito que devasta tudo o que tem pela frente (o rugido do leão), ou o lutador novato (Chow) que ainda não descobriu sua vocação real para a luta e está tentando libertar-se para tornar-se uma espécie de "Escolhido", assim como uma borboleta que sai do casulo (um gancho com a primeira cena do filme).

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador (“What’s Eating Gilbert Grape?”)

combinada
Eu indico
Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador (EUA, 1993)

Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador é o filme de um jovem tão consumido com o que decidem para a vida dele que não tem tempo de pensar se é o que realmente quer fazer. Gilbert Grape (Johnny Depp) vive em Endora, uma cidade pequena e tediosa, e trabalha numa mercearia. Após o suicídio do pai, ele se vê como a figura central da família. Ele que sustenta a casa, ele controla as irmãs e ele tem de cuidar da mãe obesa (Darlene Cates), que come compulsivamente desde a morte do marido, e do irmão Arnie (Leonardo DiCaprio), que é deficiente mental. Ele vive nessa rotina em sua cidade, sem nenhuma novidade surgindo. Até que Becky (Juliette Lewis), uma forasteira que viaja pelos Estados Unidos com sua avó, chega na cidade de Endora e começa a fazer as decisões de Gilbert surgirem e modificarem sua vida.

Depp e DiCaprio:
Um drama familiar bacana, sustentado pela representação e sentido que os personagens dão à trama. Com uma combinação de atores excelentes (Johnny Depp, Juliette Lewis, Leonardo DiCaprio, John C. Reilly, Mary Steenburgen, Darlene Cates) e atuações memoráveis do protagonista (Depp) e coadjuvante (DiCaprio); este último fez provavelmente o melhor papel de sua vida, rendendo uma indicação ao Oscar.
É interessante ver o Johnny Depp mais jovem e no papel de uma pessoa comum, bem diferente de seus exóticos e esquisitos personagens em boa parte dos filmes que fez (Edward Mãos-de-Tesoura, Don Juan DeMarco, Piratas do Caribe, Era Uma Vez no México, Janela Secreta, A Fantástica Fábrica de Chocolate, Sweeney Todd, O Imaginário do Dr. Parnassus, Alice no País das Maravilhas, O Turista, O Diário de Um Jornalista Bêbado, Sombras da Noite). No filme, ele pode ser comparado a uma pessoa qualquer, como eu ou você, seguindo uma rotina traçada e planejada, vivendo na mesma casa que cresceu, sem nunca ter ido a outra cidade. Ele vive mais a vida pela família, quase nunca por si mesmo. Um exemplo disso é a função dele de cuidar do irmão incapacitado Arnie (DiCaprio). E nessa tarefa, ele não pode se distrair nem por um instante. Diante de qualquer erro nesse papel, a responsabilidade e a vergonha caem para o irmão mais velho. Com o suicídio do pai, sua vida se torna quase irreversível, já que os tempos vagos que ele tinha com o irmão sobraram para ele trabalhar e sustentar a fome da mãe.
A mudança causada pela chegada de Becky representa a liberdade que ele não tem. O filme representa como a mudança é necessária para fazer a vida seguir em frente. Todos precisam de uma Becky como exemplo. Ela é interpreta por Juliette Lewis, que está uma graça, combinada com uma fotografia belíssima pelos campos ao redor da cidade, com lagos e céu aberto.
A proposta remete à idéia de não desperdiçar a vida, onde cada momento é valioso e cada mudança é necessária. Aproveitar as oportunidades e não viver por muito tempo numa situação incômoda. Mesmo que o filme não agradasse, já bastaria ver um Leonardo DiCaprio praticamente irreconhecível, mostrando todo o seu potencial de atuação e dando um realismo ao personagem que faz toda a diferença no enredo.

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Fontes: 

http://planocritico.ne10.uol.com.br/critica-gilbert-grape-aprendiz-de-um-sonhador/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Johnny_Depp