Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Coherence (EUA / Reino Unido, 2013)

Eu indico
Coherence (EUA / Reino Unido, 2013)

Durante um jantar, oito amigos começam a falar sobre a proximidade de um cometa, e sobre os rumores de que a passagem deste é capaz de trazer mudanças graves no comportamento das pessoas. Logo após a discussão, a luz acaba e estranhos fenômenos começam a acontecer com os convidados, questionando a noção de realidade. Dirigido por James Ward Byrkit.

Coerência:
James Ward Byrkit já causa boa impressão, assumindo também o roteiro e cedendo a própria sala de estar para o cenário principal, onde quase todo o filme se passa. Com uma abordagem em torno de uma temática comum em filmes de ficção, ele consegue tornar a trama envolvente e original ao focar no raciocínio científico e no realismo diante das reações dos personagens. Com baixo orçamento, recursos limitados e muita liberdade para os atores improvisarem, o resultado torna-se eficaz para os espectadores que forem conquistados ao aceitar a situação - aparentemente absurda - na qual os personagens são envolvidos, e assim desfrutar de todo o mistério até o final da trama.
Acredito que a maioria, facilmente, vai se inserir na dinâmica da trama. Inclusive, com os efeitos de câmera, limitados, sem muita preocupação com os cortes, o resultado deixa uma impressão de que estamos lá, filmando tudo com uma câmera amadora. Dessa forma, acabou auxiliando na imersão do espectador. Para entender a situação em si, nem é necessário muito esforço, pois rapidamente há uma explicação e a aceitação desta, por parte dos personagens, é bem natural e faz com que o espectador aceite junto. Ao apresentar uma teoria existente - física quântica e o gato de Schrodinger – a situação fica um pouco mais plausível. Entretanto, a partir de então fica o exercício que vai mexer com a capacidade de raciocínio lógico do espectador, para entender o que está mudando, quem é quem, e até quem pode estar mentindo e se aproveitando.
Segundo informações em fóruns de discussão virtuais, o diretor afirmou que as filmagens foram feitas em cinco noites, onde os atores recebiam uma página de notas com as instruções para cada noite. E apenas com um pouco de auxílio do diretor, apresentando o argumento e dando algumas dicas, os atores tinham que se virar no improviso. É como se todos eles fizessem parte do roteiro e da direção. Muitos acontecimentos da trama foram surpresa para os profissionais.
Aproveitem o mistério do filme e só leiam o SPOILER abaixo depois de assisti-lo.

Resumo da situação e final do filme - SPOILER:
A física quântica e o gato de Schrodinger tratam de dimensões paralelas geradas por decisões diferentes que as pessoas fazem. O filme acompanha muito a perspectiva da personagem Emily. Sempre que os personagens passam pelo ponto escuro da rua, eles entram em contato com outra dimensão e fica praticamente impossível voltar àquela na qual estavam quando tudo começou. Então, por exemplo, quando os dois caras saem da casa no início do filme, os que voltam trazendo a caixa não são mais os mesmos que estavam lá anteriormente. Assim, são criadas várias dimensões parta cada decisão tomada. A caixa é uma prova disso, pois o objeto escolhido muda: urso, porta copo, raquete de ping-pong, lenço, etc.
A situação gera tensões já que a convivência com “cópias” de si mesmo não é algo natural. Emily entende tudo muito rápido e decide sair em busca de uma dimensão onde todos os amigos estejam se entendendo bem (ou que ainda não tenham entendido a situação). Ela tenta eliminar a Emily daquela dimensão, só que o cometa passa e ela percebe, quando finalmente chega o dia (já que a linha do tempo voltou ao normal), que a outra Emily está viva. Assim, ela fica presa numa dimensão com duas Emilys. Da mesma forma, a dimensão que ela deixou, provavelmente, ficou sem Emily alguma.

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Fontes:

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

[ESPECIAL] Top 10 filmes produzidos em 2014

Com a proximidade do Oscar, faço uma reflexão e indico os 10 melhores filmes produzidos em 2014, os quais tive a feliz oportunidade de assistir:

01 – Boyhood: da infância à juventude (EUA)
Antes mesmo da divulgação dos indicados ao Globo de Ouro e Oscar 2015, postei uma resenha deste filme e informei que foi a minha aposta para o Oscar. Dirigido por Richard Linklater, é um dos favoritos à premiação. Resenha abaixo:


02 – Guardiões da Galáxia (EUA)
O melhor filme de super-herói do ano é um filmaço. Diversão garantida com ação e comédia bem equilibradas, na adaptação da Marvel Comics. Cinco mercenários em uma galáxia distante são forçados a juntar forças para fugir da prisão, e acabam ficando em meio a um conflito cósmico. Direção de James Gunn.


03 – Planeta dos Macacos: O Confronto (EUA)
Não sou fã da série, mas este filme me surpreendeu. Não somente pelos efeitos visuais (minha aposta para o Oscar) gerando um realismo até na batalha entre as “espécies”, mas também pelo enredo em si, que é fenomenal. Dirigido por Matt Reeves.


04 – Mommy (Canadá)
Este filme canadense foi esquecido pelo Oscar e era minha aposta para o prêmio de melhor filme estrangeiro. Dirigido por Xavier Dolan, tem uma proposta e desenvolvimento originais, misturando drama com ficção, acrescentando uma trilha sonora de tirar o fôlego. Mais detalhes na resenha abaixo:


05 – Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (EUA)
A grande surpresa para os críticos. Um dos favoritos ao Oscar. Um ex-ator de cinema, famoso por interpretar um icônico super-herói, chamado Birdman, que monta uma peça na Broadway para tentar reconquistar suas glórias passadas. A trama é original e envolvente, com pitadas de humor negro e movimentações de câmera dando efeito de imersão. O ator Michael Keaton retoma sua carreira com uma brilhante atuação. Dirigido por Alejandro González Iñárritu.


06 – Interestelar (EUA, Reino Unido)
O diretor Christopher Nolan consegue trabalhar temáticas complexas num filme de ficção muito bom, apresentando diálogos profundos. Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie.


07 - Maze Runner - Correr ou Morrer (EUA)
Entre as adaptações de livros que estão agradando principalmente os adolescentes, este filme foi uma das melhores opções do ano. Misterioso e com uma empolgante dose de aventura. Dirigido por Wes Ball, também com uma resenha neste blog:


08 – Selma - Uma Luta pela Igualdade (EUA, Reino Unido)
Cinebiografia emocionante e forte sobre o grande ativista social Martin Luther King Jr. Acompanha as marchas realizadas por ele e manifestantes pacifistas em 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, em busca de direitos eleitorais iguais para a comunidade afro-americana. Dirigido por Ava DuVernay. É um dos indicados ao Oscar de melhor filme.

09 – X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (EUA)
Finalmente um filme decente dos mutantes criados pela Marvel Comics. Dirigido por Bryan Singer. Passado e futuro são alternados na trama onde os X-Men enfrentam os Sentinelas. A história é muito boa e a ação é bem satisfatória.


10 – Predestination (Austrália)
Poucos conhecem este que é uma das melhores abordagens de viagem no tempo. Pode dar um pouco de nó na cabeça, mas é bem inteligente e criativo. Um agente temporal (Ethan Hawke) trabalha para uma organização secreta que procura criminosos e os captura antes que eles cometam o delito. Ele encara um criminoso responsável por grandes atentados em Nova York. Dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spierig. Resenha neste blog:

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O discreto charme da burguesia (Espanha, 1972)

Eu indico
Le charme discret de la bourgeoisie
(França / Itália / Espanha, 1972)

Um grupo de amigos de classe média/alta francesa pretende juntar-se para mais um jantar de convívio, mas são constantemente interrompidos por uma série de estranhos acontecimentos. Dirigido Luis Buñuel. Roteiro de Jean-Claude Carrière.

Buñuel e a burguesia:
Luis Buñuel Portolés é um dos mais aclamados cineastas do mundo. Nasceu no México e realizou muitos filmes na Espanha, inclusive em parceria com Salvador Dalí. Suas obras foram consideradas surrealistas e sua fama beirou à controvérsia. Muitos o admiram por ter sido sempre fiel ao que acreditava, não se deixando influenciar pelas críticas. Não é à toa que teve filmes banidos da Espanha, na ápoca de seu lançamento. O próprio Pedro Almodóvar possui este como influência em suas realizações.
Podemos ver um pouco da mente surreal de Buñuel neste filme, que combina realidade e absurdo para fazer uma crítica à burguesia, de forma severa, realista e divertida. Nas atitudes, devaneios e até nos sonhos dos personagens, percebemos o vazio que ronda suas vidas, pois não há sentido de orgulho em pessoas que possuem uma educação duvidosa, preconceito absurdo, misturado com um charme ridículo. Aos poucos vemos como eles são egoístas e interesseiros, traindo uns aos outros, traficando drogas, utilizando amizade para passar por cima de leis, etc.
Em busca de um jantar entre eles, situações absurdas ocorrem para que este jantar não aconteça, chegando a perturbar espectadores com a reincidência da situação. Mais ainda, ao introduzir cenas de sonhos dos personagens, o diretor espanhol nos prega peças, constantemente, para demonstrar, nos resultados desses pesadelos, a humilhação e pequenez da burguesia, ao ser exposta. Afinal, seu charme, rodeado de muitas coisas ruins e sem sentido, tem que ser discreto para não ser criticado.
Nos divertimos diante das situações absurdas, enquanto os amigos burgueses parecem não se impressionar com nada. Parece que seu único objetivo na vida é um jantar, mas qualquer esforço para se chegar até ele é demais para os personagens. Transversalmente, aparecem outros não menos interessantes: soldados loucos, policiais corruptos e até um padre assassino (a Igreja não escapa da crítica).
A burguesia e a Igreja sempre forem alvos de crítica por parte de muitos cineastas. Buñuel, ao escolher o gênero comédia e colocar elementos surrealistas na trama e bons atores, fez isso de forma original e genial, recebendo o merecido prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar de 1973. Fica, então, a indicação de outros filmes excelentes do diretor, nos quais ele faz essas mesmas críticas, com elementos diferentes: O Anjo Exterminador” (El Ángel exterminador, 1962) e “Viridiana” (1961), embora estejam bem distantes de uma comédia. Ambos foram considerados pelo New York Times como um dos 1000 melhores filmes do mundo.

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Fontes:

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Anna dos 6 aos 18 (Rússia, 1993)

Eu indico
Anna: Ot shesti do vosemnadtsati (Rússia, 1993)

O diretor Nikita Mikhalkov mostra a evolução de sua filha Anna dos 6 aos 18 anos – e, paralelamente, a história da União Soviética durante esse período. Uma vez por ano, ao longo de 12 anos, ele filma a filha e lhe pergunta o que ela mais ama, o que ela mais odeia, o que ela teme, etc, gerando um documentário sobre os últimos anos do império soviético até a sua explosão.

13 anos de Rússia:
Foram 13 anos para completar este documentário. O diretor Nikita Mikhalkov e sua filha Anna são os personagens reais que acompanhamos através de trechos rodados ao longo deste tempo, tempo no qual ocorreu o fim da União Soviética (de 1980 a 1991). A cada ano quem está à frente da câmera é a sua filha, desde a infância até a juventude, e através de suas respostas e dos comentários do diretor, se constrói uma narrativa bem realista sobre a ex-União Soviética, com uma crítica severa à própria nação.
Projeto pessoal de grande valor e originalidade, considerando também que a filmagem foi clandestina, os rolos de filmes e equipamentos eram obtidos no mercado negro e a edição tinha algumas limitações, mas o resultado é grande para um documentário. A narrativa nem fica cansativa. Para quem gosta de História, é essencial.
Durante a narrativa, o diretor nos apresenta um de seus filmes anteriores, no qual um garoto vivencia o velho império russo, servindo então de comparativo com a vida real de sua filha Anna, que vive parte do império soviético. Anna começa sendo entrevistada numa época de grande censura, e logo aos 7 dá uma resposta interessante ao questionamento “o que você mais deseja?”, dizendo: “conseguir dar boas respostas”. Já em outro momento ela responde sobre o que mais odeia: “discussões em família, ou de qualquer tipo... uma discussão pode levar o mundo à guerra”. O filme passa também pela época da “Perestroika”, uma política introduzida na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas por Mikhail Gorbachev, em 1985, dando uma ideia de reestruturação (abertura) econômica. A reação da menina acaba sempre espelhando a realidade do país.
Apoiado por Sergei Miroshnichenko no roteiro, Nikita Mikhalkov explora muitas cenas com os encontros oficiais dos líderes comunistas, muita referência a Lênin, Stálin, Brejnev, Chernenko, Gorbachev, Yeltsin, entre outros, mostrando as falhas, incapacidades ou descaso deles, mesmo diante das crises que assolavam a economia. É interessante perceber que a Rússia de hoje é fruto desta conjuntura histórica e que gera tantas decepções, podemos até conferir isso em outro filme russo, do diretor Andrey Zvyagintsev, favorito ao prêmio do Oscar desde ano, para a categoria de melhor filme estrangeiro: Leviatã (2014), que já levou o Globo de Ouro. Este é um drama que trás uma visão atual e sem filtros da corrupção e injustiça em torno do Estado Russo.
Muito pertinente, também, logo na introdução, a clareza em mostrar que o país perdeu a ligação com Deus. Em muitos momentos as palavras do diretor expressam sua decepção e dão um grande significado ao contexto, como na passagem abaixo:

Nosso potencial aumentou muito, e portanto,
aparentemente, nosso conhecimento também.
Contudo, a ausência de Deus tornou este potencial 
e este conhecimento destrutivos.
Perdemos o respeito pela vida e pela morte.
Transformamos a vida em seriado de TV, a morte em jogo de computador
e a aquisição em destruição.”

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Fontes: