Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Janela Secreta (“Secret Window”)

Eu indico
A Janela Secreta (EUA, 2004)

Mort Rainey (Johnny Depp) é um escritor em crise, que acaba de se separar de sua esposa (Maria Bello) após tê-la flagrado com outro homem. Mort decide se isolar em uma cabana à beira do lago Tashmore, em busca de tranquilidade. Porém lá aparece John Shooter (John Turturro), que começa a atormentá-lo ao acusá-lo seguidamente de plágio.

Algumas janelas não deveriam nunca ser abertas:
O escritor americano Stephen King é um dos autores de horror mais populares no mundo e muitas de suas histórias foram adaptadas para o cinema e televisão. Particularmente um dos melhores resultados foi um dos meus filmes favoritos: Um Sonho de Liberdade (“The Shawshank Redemption”, EUA, 1994), uma adaptação para as telas do conto “Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank”. A postagem deste filme vai ficar para um outro momento.
Aqui indico o filme “A Janela Secreta”, uma adaptação do conto “Janela Secreta, Jardim Secreto”, publicado em 1990 no livro “Depois da Meia-Noite” (Four Past Midnight). O diretor e roteirista David Koepp traz à tona um grande medo dos escritores - o qual Stephen King já explorou em muitas de suas histórias - o bloqueio criativo. Inclusive, costuma mexer com a situação de que o escritor aparece como um personagem de uma de suas histórias. Johnny Depp encara muito bem o papel principal (personagem com seus cabelos grandes, bagunçados, e que dorme horas no sofá de sua casa isolada e à beira de um lago), ajudando bastante no resultado e na tensão do filme, e também ficando bem acompanhado pela interpretação de John Turturro, que faz um tipo de caipira que aparece na vida de Mort acusando-o de ter plagiado uma de suas histórias. Envolvido num jogo mental de gato e rato, Rainey descobre ter mais astúcia e determinação do que jamais imaginou. E aos poucos vai percebendo que o evasivo Shooter talvez o conheça melhor do que ele próprio.
O filme é bem misterioso, um suspense psicológico, com vários detalhes não tão simples de perceber (levantei as informações no spoiler abaixo). O diretor David Koepp entrega um resultado bacana, com movimentos de câmera interessantes. Temos um final diferente do conto, mas que achei mais agradável, mas não menos sinistro.

Janela Secreta, Jardim Secreto – SPOILER:
Algumas curiosidades tanto do conto, quanto do filme:
- Um dos jogos legais acontece no início do filme, quando a câmera entra pelo espelho e vai até o personagem principal. É como se toda a história se passasse através de um espelho e isto seria a visão distorcida da realidade de Mort Rainey. A verdadeira “Janela Secreta” não é aquela da parede da casa e sim o espelho por onde assistimos todo o filme;
- Sobre o nome John Shooter: shooter soa como “shoot her” (atire nela) e é uma representação do desejo de Mort em relação à sua ex-mulher;
- Na cena em que o personagem de Johnny Depp empurra o veículo para dentro de um lago, o seu relógio fica dentro do veículo, abrindo assim uma margem para que ele seja identificado. Seria uma ponte para uma possível continuação do filme?
- No final do conto um policial encontra um papel no lixo, com um recado de John Shooter para Mort, deixando-nos realmente na dúvida se o cara era real ou uma imaginação do protagonista;
- No final sinistro, o escritor mata a ex-mulher e seu amante, enterrando os corpos mutilados no jardim, onde existe um milharal. À medida que come os milhos cozidos, vai se livrando dos restos dos corpos;
- A fala de Johnny Depp: "This is not my beautiful house. This is not my beautiful wife. Anymore" (Esta não é mais minha linda casa, esta não é mais minha linda esposa), é tirada da canção "Once in a Lifetime", dos Talking Heads;
- Quando Depp está olhando para o espelho, podemos ouvi-lo sussurrar: "When Sister Veronica found out about the windows she withdrew the school from the competition" (Quando a Irmã Verônica descobriu sobre as janelas, ela desqualificou a escola da competição). Esta é uma fala do primeiro sonho de Rosemary Woodhouse em “O Bebê de Rosemary”, filme de 1968;
- Mort olhando para o espelho e vendo suas próprias costas é uma referência à pintura do artista surrealista belga René Magritte, "La Reproduction Interdite" (A Reprodução Proibida). Ele constantemente pintava um homem misterioso com um chapéu coco, não muito diferente do que o Shooter usa;
- O nome do personagem de Johnny Depp é Morton Rainey. No fim do filme, o personagem compra três coisas na loja de conveniência. Um dos itens é uma caixa de sal da marca MORTON cujo slogan é: "Quando chove (chover em inglês é "Rain"), cai." Dessa forma, Morton (marca do sal) e Rainey (variação de “Rain”);
- Quando o personagem de Depp joga o chapéu na mesa, uma cópia do livro "Rum: Diário de um Jornalista Bêbado" (The Rum Diary) é visível na mesa. Johnny Depp fez mais recentemente o papel de Paul Kemp, no filme “Diário de um Jornalista Bêbado” (2010);
- Na cena que Johnny Depp flagra Maria Bello e Timothy Hutton num Motel, David Koepp queria que Bello e Hutton parecessem chocados e amedrontados de verdade. Ele os fez ficar deitados por 15 minutos, antes que Depp entrasse. A equipe de produção colocou grandes alto-falantes que soaram barulhos estáticos e as luzes no quarto também foram programadas para acender quando Depp abrisse a porta, assustando os atores ainda mais. Ninguém sabia exatamente como agir;

“Eu sei que consegui – disse Todd Downey, pegando outra espiga de milho da tigela fumegante. – eu lhe garanto que com o tempo qualquer vestígio dela desaparecerá, e a morte dela será um mistério... até para mim.”
 “A melhor parte de uma historia é o seu final.”
Mort Rainey.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Fruto Proibido (“Kielletty hedelmä”)

Eu indico
Fruto Proibido (Finlândia, 2009)

Duas meninas de 18 anos de uma comunidade cristã fundamentalista fogem a uma cidade para o trabalho de verão. Maria quer experimentar o mundo antes de voltar para casa e se casar com um rapaz da mesma comunidade. Sua amiga, Raakel, é menos aventureira e só quer ter certeza de que Maria vai voltar. O verão de tentações pode mudar a vida das meninas para sempre.

Lembra da primeira vez que você fez algo proibido?
Dirigido por Dome Karukoski, este interessante filme finlandês recebeu 4 prêmios no festival de cinema internacional Festroia (prêmio Golfinho Dourado). Outro filme do mesmo diretor também foi premiado no mesmo festival, "A Casa das Borboletas Negras", e recebeu também 4 prêmios. Este último ganhou um prêmio na categoria de "Homem e a Natureza".
O laestadianismo é um movimento conservador cristão que entre outras coisas não permite métodos contraceptivos e liberdades sexuais antes do casamento. O filme “Fruto Proibido” conta a história de duas jovens que fazem parte desta vertente ultra conservadora do luteranismo, que decidem experimentar a vida em Helsínquia (capital da República da Finlândia). Maria (Amanda Pilke, que recebeu o prêmio de melhor atriz principal) quer experimentar coisas que estão proibidas em sua comunidade, como sair com meninos, assistir TV, ouvir e dançar qualquer tipo de música, beber álcool e usar maquiagem. Raakel acaba sendo convencida pelas autoridades religiosas da comunidade a ir atrás da amiga e tentar fazer com que ela retorne.
O filme mostra um assunto polêmico: como as comunidades ultra-conservadoras podem afetar e limitar as pessoas. As meninas vivem um choque de realidades quando passam a conhecer a vida lá fora, na cidade grande. A partir daí podemos perceber a importância da evolução pessoal em choque com a alienação proveniente do fundamentalismo cristão. Algumas pessoas podem se identificar e pensar em sua própria vida, o que você mesmo faria em uma situação parecida, e isso pode mexer com os sentimentos.
Usando a frase do pôster do filme: "Lembra da primeira vez que você fez algo proibido?" e tendo cenas com closes no olhar, mãos e até lábios, mostrando a expectativa e receio do beijo, o sorriso resultante da alegria e a cara de surpresa, boa ou ruim, o diretor aproveita e trabalha o lado emotivo das meninas, já que elas passam a viver emoções íntimas e novas, e com isso vemos a importância da mudança, de experimentar o novo e poder decidir por conta própria o que é melhor para si. A religião pode fazer parte da vida de cada um, mas a liberdade de viver experiências é essencial e transformadora, desde que exista responsabilidade e respeito pelo próximo e por si mesmo.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O que terá acontecido a Baby Jane?

Eu indico
What Ever Happened to Baby Jane? (EUA, 1962)

Bette Davis é Jane Hudson, uma artista que alcançou a fama quando menina e ficou conhecida como "Baby Jane". Agora envelhecida e distante do público há muitos anos, vive encerrada em uma mansão com sua irmã, Blanche Hudson (Joan Crawford) desde um acidente que selou a sorte de ambas, terminando a carreira brilhante de Blanche e acelerando a decadência geral de Jane. Disposta a brilhar nos palcos novamente, Jane volta à Baby Jane, passando por cima de tudo e de todos para atingir seu objetivo.

Mas o que houve?:
Um filme que começa com uma pergunta. O que teria acontecido para a estrela mirim Baby Jane crescer e se tornar amargurada e aparentemente maléfica? Na interpretação espetacular de Bette Davis, estamos diante de um filme que me prendeu a atenção, com boas cenas de suspense e certa agonia, que me recordaram um pouco o filme Louca Obsessão (“Misery”, EUA, 1990), mais um bom suspense com excelente interpretação de Kathy Bates (uma de minhas atrizes favoritas).
O diretor Robert Aldrich reproduziu com competência toda a atmosfera do “calvário” de Blanche sob a guarda de sua irmã insana, Jane. Desde criança, Jane mostrara-se mimada e incapaz de lidar com decepções, rejeições e de ser coadjuvante naquela família. Quando mais velha, embriagada, Jane atropela Blanche e a coloca em uma cadeira de rodas acabando definitivamente com seus sonhos de estrelato no cinema. Talvez pelo sentimento de culpa, ou por falta de opções, ela cuida e envelhece junto com a irmã. Só que Jane acaba caindo em decadência no estrelato e, talvez por isso, dedica seus dias a atormentar a indefesa irmã aprisionada no segundo andar (irmã esta que ainda é bem lembrada pelos fãs). Apesar de ser difícil deixar de julgar negativamente a insana Jane, não sabemos se seu comportamento é conseqüência de sua decadência como atriz, de sua velhice e os problemas mentais que vem com isso, de sua amargura por ter que cuidar da irmã ou até por pura maldade. Bette Davis abraça a personalidade de Jane mais velha, arrastando propositadamente os pés no assoalho e irritando com a sua estridente risada, mas não necessariamente provoca ódio no espectador, pois em alguns momentos podemos sentir até pena da mesma.
As atuações de Bette Davis e Joan Crawford são elementos fundamentais para sustentar a narrativa, sem deixar de mencionar a atuação de Victor Buono como o pianista fracassado Edwin (indicado ao Oscar como ator coadjuvante). Interessante que as duas atrizes, famosas também por serem grandes inimigas nos bastidores, neste filme duelam nas telas (tanto em atuação em si, quanto no fato de encarnar personagens que brigam entre si).
Joan Crawford, por outro lado, no pele de Blanche, está presa e obrigada a reagir com pavor às ofensas da irmã e quase implorando piedade. Disto, sente-se a dor de Blanche não pelo sofrimento e olheiras fundas, mas pelas ações desproporcionais de Jane. Um filme que surpreende, até porque não necessariamente as coisas são o que parecem. Afinal, o que terá acontecido a Baby Jane?