Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Corrente do Mal (It Follows, 2014)

Eu indico
It Follows, (EUA, 2014)

A jovem Jay (Maika Monroe) leva uma vida tranquila entre escola, paqueras e passeios no lago. Após uma transa, o garoto com quem passou a noite explica que ele carregava no corpo uma força maligna, transmissível às pessoas apenas pelo sexo. Enquanto vive o dilema de carregar a sina ou passá-la adiante, a jovem começa a ser perseguida por figuras estranhas que tentam matá-la e não são vistas por mais ninguém. Dirigido por David Robert Mitchell.

A coisa que te persegue:
Você já se sentiu rodeado de fantasmas? O fantasma do medo, da pressão social, do julgamento, da inveja ou qualquer outro? Já parou para olhar se alguém o persegue? A juventude lida com uma série de preocupações que vêm junto com o amadurecimento, uma delas é a forma como ela encara o sexo. Estreando no Festival de Cannes em 2014, este filme merece uma atenção especial quando provoca esse tipo de reflexão através de uma história macabra. Assim, como pudemos observar em outro grande filme de horror, “O Chamado” (2002), no qual uma fita cassete deveria ser passada para se livrar da maldição, este aqui é mais um do tipo slasher movie (uma criatura ou pessoa persegue e faz uma série de vítimas), seguindo uma espécie de maldição que é sexualmente transmissível (após a relação, a pessoa passa a ser perseguida pela entidade que estava atrás da anterior).
Com boa carga psicológica, essa ideia gera situações bem tensas no filme, altas expectativas e frio na espinha ao acompanhar a saga da garota amaldiçoada. Com um jogo de câmera interessante, em alguns momentos girando 360o e deixando o espectador na iminência de encarar qualquer coisa que possa aparecer para assustá-lo, além de uma trilha sonora feita sob encomenda (concluída em menos de 3 semanas, composta por Rich Vreeland, mais conhecido como Disasterpeace), dando um clima de terror anos 80, o filme já valeria a pena somente por essas sacadas e todo o clima sinistro que apresenta. Contudo, ele vai além, e é por isso que preciso deixar alguns spoilers e curiosidades na esperança de que o espectador compreenda melhor a dimensão deste:
O filme começa bem tenso, mostrando uma vítima que não consegue escapar da coisa que a persegue, embora dessa vez ainda não vejamos a coisa. Em outros momentos, após explicada toda a situação, vemos a coisa em muitas cenas, inclusive tem vezes que os próprios personagens não a enxergam, mas nós estamos ali quase que querendo avisar a eles que ela está chegando perto. Um caso quase imperceptível é numa cena na escola, quando os amigos de Jay procuram informações sobre o cara que passou a maldição para ela, depois eles saem de carro (a mesma menina que apareceu um pouco antes, quado eles chegaram a escola, aparece andando em direção ao carro).
Poesias da literatura são apresentadas mais de uma vez, uma pelo professor na sala de aula ("A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock", de TS Eliot), outra pela irmã de Jay quase no final do filme. Elas têm uma forte relação com a metáfora proposta pelo filme, lidando com questões reflexivas, por exemplo, o fim da vida. Não adianta evitar, uma hora a morte te alcança, mesmo que demore (como a coisa do filme).
É curioso tentar imaginar o tempo em que o filme se passa. Enquanto um personagem está com celular (a garota do início do filme), outros assistem a filmes de terror mais antigos. Certos carros apresentados são de épocas mais recentes e outros não. Ao que parece, a primeira cena se passou depois dos demais eventos do filme, mostrando então que a coisa continua viva e matou mais uma pessoa, assim, está voltando para a anterior. Sinistro.
Outro fato interessante é reparar na casa onde o cara que passou a maldição para Jay morava. Ela mesma menciona que conhecia o lugar, mas nunca chegou a entrar, até porque ele mesmo evitava isso. Sabemos que ficar em lugar fechado com a coisa te perseguindo é desvantagem. Isso nos leva a interpretar que ele estava com a maldição há um tempo e não suportou mais, passando assim para Jay. A casa onde ele habitava temporariamente (veja que na verdade ele morava num lugar melhor, mas só voltou para lá depois que passou a maldição) é uma ruína em estilo residência, chamada American Foursquare. Era uma tendência popular na década de 1890 até 1930. A construção tem um padrão circular, onde é possível prosseguir através de várias salas e voltar ao ponto de partida, sem nunca inverter o caminho. Em algumas moradias, há quartos adjacentes, armários e banheiros compartilhados. Ou seja, é a melhor morada para conseguir se esquivar da coisa.
Com mais de 10 indicações em festivais alternativos (pouco conhecidos) e alguns prêmios, o filme faz alusão a problemas enfrentados pelos adolescentes, diante da vida. O sexo é um tema bem escolhido e no mínimo a ideia de passar essas mensagens através de um filme de horror é valoroso. A questão do fim da virgindade ou até o fato de não a perder, principalmente durante a escola, é muitas vezes um peso, como se todo mundo ficasse julgando a pessoa. É o fim da inocência quando o sexo desencadeia a situação toda. Quem um dia esperou uma noite romântica e na verdade ela se tornou um pesadelo? Após o sexo, Jay confessa que antigamente ela esperava um príncipe encantado, isso mostra a questão da inocência sendo quebrada. O filme dispensa quase o tempo todo a presença de adultos, nem a mãe da protagonista aparece direito, o diretor evita que a câmera mostre o rosto dela. Afinal, o foco é os jovens e seus conflitos internos. Boa parte dos adultos aparece na forma da coisa, é aí que precisamos prestar a tenção às fotos que são apresentadas nos quartos. Elas mostram pessoas que são usadas na forma que a coisa assume (por exemplo, o pai da Jay, que aparece na cena da piscina e depois é mostrado na foto no quarto dela). A figura dos pais é repetida algumas vezes pela coisa e isso é proposital já que o julgamento deles sobre os filhos é um tema importante. Em uma cena, Jay coloca pedaços de grama em sua perna e isso representa o formato de cortes, parecendo a ideia de um suicídio, algo comum entre os jovens diante de problemas na vida, muitos deles ligados de alguma forma ao sexo.
O diretor consegue, seja em locais fechados ou abertos, tomadas de câmera perfeitas para dar uma sensação de nossa presença no local. Isso ajuda com os sustos e cria um clima de tensão. Uma entidade em forma de pessoa deixa a coisa tão assustadora quanto se fosse uma entidade horrorosa, que é uma estratégia de muitos filmes do gênero. Até então, este ano foi fraco em relação a filmes de terror. Poucas exceções como este filme e o excelente Goodnight Mommy (Áustria, 2015) devem salvar o gênero:

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Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/It_Follows
http://www.blahcultural.com/critica-de-filme-corrente-mal/

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Barton Fink – Delírios de Hollywood (1991)

Eu indico
Barton Fink (EUA, 1991)

Nova York, 1941. Barton Fink (John Turturro) é o dramaturgo do momento e toda a Broadway, além da imprensa, se curva ao seu talento. Ele acaba indo a Hollywood para escrever um roteiro para um filme. Porém, ele é atingido por um bloqueio de escritor. Charlie Meadows (John Goodman), seu vizinho, um amigável vendedor de seguros, tenta ajudá-lo mas diversos acontecimentos bizarros surgem na vida de Barton. Dirigido por Joel Coen.

Roteirista em Hollywood:
Uma visão realista da Hollywood na década de 1940 é transportada para as telonas pelos irmãos Joel e Ethan Coen, que também assumiram o roteiro, produção e edição deste filme. A narrativa é excêntrica em vários momentos, tendo suas metáforas e significados críticos, cabendo a cada espectador sua interpretação. É o quarto filme dos irmãos Coen, que possem até então quase vinte produções, entre elas grandes filmes que recomendo: Bravura Indômita (2010), Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), O Homem Que Não Estava Lá (2001), E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000), Na Roda da Fortuna (1994) e Arizona Nunca Mais (1987).
Estrelado por John Turturro, que está em sua melhor atuação até o momento, mostrando um talento nato ao representar um personagem com algumas esquisitices e aparência não tão agradável. Perfeito na caricatura de um escritor, roteirista de Hollywood, com personalidade forte e um pouco de loucura diante do conhecido bloqueio de escritor. A história é muito interessante e retrata de forma não convencional a realidade de Hollywood, com seus preconceitos e tudo o mais, formando essa cultura de produção de filmes. Algo de muito valor no enredo é o aspecto do “homem comum” e os valores pessoais que um profissional tenta seguir. Barton Fink entra em choque ao seguir seus valores e esbarrar com os desejos dessa indústria, com seus empresários ricos e com muito pouco bom senso. Essa generalização da figura do escritor roteirista como um profissional correto e tão pouco reconhecido, podemos ver em outros filmes: em 1963, no filme italiano Oito e meio, de Federico Fellini, a crise de criatividade de um cineasta é retratada numa narrativa bem fora do comum. Temos algo parecido no filme Adaptação (2002). Lembrando que o movimento do cinema denominado realismo poético francês surgiu no cinema francês a partir da metade da década de 1930 e foi o movimento que enfatizou o papel do roteirista, embora essa função ainda não fosse reconhecida profissionalmente.
O ambiente presente na trama, mostrando um calor infernal, fica bem evidente junto com todos os acontecimentos, realistas ou insanos, que ocorrem até o seu desfecho. John Goodman também está em uma de suas melhores interpretações e, nas cenas que contracena com Turturro, ambos disputam a melhor atuação. Ele é o personagem que tira Barton Fink do isolamento e faz ele relaxar e, talvez, voltar a encontrar a inspiração que precisa. Mas como nada nessa vida vem de graça, vamos ver no que vai dar. A turma de coadjuvantes também se destaca, principalmente Tony Shalhoub (astro da série Monk na qual ele já venceu vários prêmios como ator) e Steve Buscemi, ambos aparecendo em poucas cenas, mas deixando uma grande impressão para quem estiver atento a este aspecto.
Barton Fink recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1991, bem como os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Ator (Turturro). Também foi indicado a três Oscars e muito bem recebido pela crítica. Por motivos diversos, o filme arrecadou somente dois terços do seu orçamento estimado.

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Fontes:

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A festa de despedida (Israel, 2015)

Eu indico
A festa de despedida ("Mita Tova", Israel, 2015)

Um grupo de amigos em uma casa de repouso em Jerusalém constrói uma máquina de auto-eutanásia, a fim de ajudar um amigo em estado terminal. Quando os rumores sobre a máquina começam a se espalhar, mais e mais pessoas começam a se interessar pela ideia de partir dessa para uma melhor, e o grupo de amigos se questiona se o que estão fazendo é a coisa certa. Dirigido por Tal Granit e Sharon Maymon.

Dispositivo de uso fácil e indolor:
Este filme consegue tratar de um assunto como a eutanásia, forte e polêmico, de forma leve e divertida, mantendo a seriedade da coisa. Encontramos uma série de excelentes filmes sobre o assunto, como Mar Adentro (2005, de Alejandro Amenábar), Uma Primavera com Minha Mãe (2012, de Stéphane Brizé), entre outros. Mas essa produção israelense consegue, num filme curto (95 minutos), transmitir as questões essenciais sobre o assunto, com leveza e algumas cenas bem divertidas.
O elenco principal, composto de velhinhos, tem a sua parcela de mérito. Os personagens são bem interessantes e passam por algumas aventuras e situações engraçadas, após um deles, um inventor nato de bugigangas, construir uma máquina de auto-eutanásia. Assim, o grupo se forma para decidir pela escolha e empréstimo do dispositivo, com a melhor das intenções, já que muitos amigos estão em estado desacreditado e sofrível, e essa seria uma forma de acabar com seu sofrimento, sem deixar vestígios. Os personagens, por serem idosos, mostram uma certa atrapalhação, ou melhor, falta de habilidades, o que gera boa parte das cenas engraçadas. Entretanto, junto com isso, vem a experiência de vida de cada um, e suas atitudes são realistas e até admiráveis.
A história se passa num asilo em Jerusalém, local perfeito para criar a argumentação proposta, e mostra o dilema das pessoas quando escolhas difíceis precisam ser tomadas diante de situações difíceis. Também consegue mostrar o espaço e o dilema particular de cada um deles. É uma história fácil de assimilar e deve agradar à grande maioria dos espectadores.

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Fontes: