Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

terça-feira, 23 de julho de 2013

Sobrenatural (“Insidious”)

Eu indico
Insidious (EUA, 2011)

A família Lambert, formada por Josh (Patrick Wilson), Renai (Rose Byrne) e os filhos Dalton (Ty Simpkins) e Foster (Andrew Astor), acaba de se mudar. Logo, uma das crianças entra em coma de forma inexplicável, o que faz os pais pensarem que a nova casa abriga algum tipo de espírito do mal. Mas eles logo se mudam do local e nos dias seguintes acabam descobrindo que o problema não estava na casa e sim no próprio filho. Dirigido por James Wan.

Insidioso                                                       
Está cada vez mais difícil fazer filmes de suspense ou terror que sejam bem vistos pela crítica e pelo público. Até os grandes sustos e os arrepios estão mais difíceis de serem arrancados do espectador exigente. O filme “Insidious” reúne duas coisas que me fazem valorizar um filme deste gênero: clima sinistro com sustos e uma história interessante. Muitas vezes, antes do susto – e mais importante do que este – vem o suspense gerado, a tensão causada pela cena, os arrepios e a adrenalina causada pelo medo; às vezes está tão óbvio que algo vai acontecer e, mesmo assim, quando acontece o susto é inevitável (é o momento onde elementos essenciais, como o som, são bem utilizados). Um filme de terror tem que conseguir a atenção do espectador, envolvê-lo no clima de querer sentir essa adrenalina, e causar sustos de forma criativa. Às vezes nem precisa de susto para causar arrepios. Um exemplo para ser relembrado é a cena no grande filme “O Orfanato” (“El Orfanato”, Espanha, 2007), de Guillermo del Toro, quando a protagonista evoca espíritos de garotos através de uma brincadeira do tipo pique esconde (Un, dos, tres, toca la pared). Realmente sinistro.
“Sobrenatural” tem uma introdução bem bacana e original. Após a primeira cena e a apresentação do título do filme, o diretor deve a idéia de mostrar várias imagens, quase estáticas, enquanto são apresentados os créditos iniciais. Cada imagem mostra um cômodo de uma casa, sendo que algo se mexe nas sombras, algum objeto sai do lugar, entre outros movimentos que podem ser percebidos; ou seja, preste bem atenção em cada uma dessas imagens. A música de fundo é sinistra e combina com as cenas. Depois disso, temos um filme com vários momentos de susto, dá até para se acostumar com eles logo (ou não). O roteiro é muito bom, explorando um assusto bem estudado na vida real: o coma e a possibilidade de deixar o corpo físico e viajar em projeção astral. Só que a situação é explorada de forma sinistra, introduzindo o suspense que vai acompanhar o filme inteiro. Enquanto se encontra em estado de coma, o garoto pode ser aprisionado por espíritos demoníacos. As coisas acontecem primeiramente de forma insidiosa, ou seja, aparecem vagarosamente, furtivamente, aos poucos e sem apresentar sintomas específicos. E logo depois tudo sai do controle. As reviravoltas são boas, enganam o espectador e o final não é óbvio.
Considerado um dos melhores filmes de assombração já feitos, “Sobrenatural” reúne os criadores de duas das séries de terror populares: o diretor James Wan, responsável por “Jogos Mortais” (2004) e o produtor Oren Peli, que dirigiu “Atividade Paranormal” (2007). O roteiro é de Leigh Whannell, parceiro de James Wan em “Jogos Mortais” (2004). As filmagens da sequência (“Insidious - Chapter 2”) já começaram, para se ter uma idéia do sucesso deste primeiro filme. Ainda não há detalhes sobre a trama, apenas sabe-se que a família protagonista do primeiro filme voltará a aparecer.

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Fontes:
http://omelete.uol.com.br/forca-sobrenatural/cinema/sobrenatural-2-estreia-em-agosto-de-2013/

terça-feira, 16 de julho de 2013

Dúvida

Eu indico
Doubt (EUA, 2008)

O filme é passado em 1964 onde o carismático padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) tenta acabar com os rígidos costumes da escola St. Nicholas, localizada no Bronx. A diretora do local é a irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), que acredita no poder do medo e da disciplina. A escola aceitou recentemente seu primeiro aluno negro, Donald Miller (Joseph Foster), devido às mudanças políticas da época. Um dia a irmã James (Amy Adams) conta à diretora suas suspeitas sobre o padre Flynn, de que esteja dando atenção demais a Donald. É o suficiente para que a irmã Aloysius inicie uma cruzada moral contra o padre, tentando a qualquer custo expulsá-lo da escola. Escrito e dirigido por John Patrick Shanley.

A dúvida e a fé:
“Certa vez houve uma mulher que falava mal de todo mundo e um padre manda que ela esfaqueie um travesseiro de penas. As penas começam a voar e o padre pede a ela para recolher todas as penas, mas ela diz que o vento as levou. É aí que o padre diz: assim é a fofoca”.
Esta situação é contata pelo padre Flynn em um sermão sobre a fofoca, e o filme nos mostra a cena com a situação que ele descreve, para atingir a irmã Aloysius Beauvier. A oportunidade de ver Philip Seymour Hoffman contracenando com Meryl Streep, com direito a uma participação de Viola Davis, e também da não menos importante Amy Adams, já vale a sessão. Como já suspeitado, os quatro receberam indicações por sua atuação, em diversos prêmios importantes, tendo o Oscar e Globo de Ouro entre eles. O roteiro também recebeu indicação de melhor adaptação, sendo baseado numa peça de teatro premiada. A história foi adaptada pelo próprio autor do trabalho teatral, o que confere um trabalho mais fiel.
Partindo de um tema que é presente na esfera da Igreja Católica - o abuso sexual de padres contra crianças de suas paróquias - o filme é muito mais do que isso. Mostra até onde pode ir uma desconfiança, gerada por uma fofoca, através de um conflito constante entre a Irmã Aloysius, com os valores tradicionais e enraizados de uma Igreja, e o Padre Flynn, que mostra uma predisposição para mudanças, envolvimento com a população e um lado mais modernizador da Igreja. O conflito tem início quando surge a suspeita de que o padre tenha um envolvimento sexual com um garoto negro, e a culpabilidade não comprovada, gerando uma dúvida cruel no espectador, permeia todo o filme de uma forma que prende a atenção. A grande discussão entre a Irmã Aloysius e o padre Flynn, numa cena fantástica, é uma guerra interna, com diálogos bem pensados quando cada personagem se dirige ao outro, criando situações subentendidas, acusações indiretas e muito julgamento e controle emocional. Viola Davis aparece em praticamente uma única cena, como a mãe de Douglas, e vemos o preconceito da época e a situação cruel onde ela e seu filho se encontram, onde o garoto precisa de um homem que goste dele (mesmo que seja um padre que pode estar abusando do garoto).
Um filme sobre a fé em contraste com a dúvida, a força da desconfiança e do pecado, dentro de um cenário onde as convicções são muito fortes. Mesmo que as coisas não fiquem claras, é prazeroso ver a forma como os personagens carregam suas dúvidas, suas convicções e, talvez, suas culpas.

http://moviesense.wordpress.com/2009/01/26/doubt-duvida/

terça-feira, 9 de julho de 2013

O Som ao Redor

Favoritos
O Som ao Redor (Brasil, 2012)

A presença de uma milícia em uma rua de classe média na zona sul de Recife muda a vida dos moradores do local. Ao mesmo tempo em que alguns comemoram a tranquilidade trazida pela segurança privada, outros passam por momentos de extrema tensão. Ao mesmo tempo, casada e mãe de duas crianças, Bia (Maeve Jinkings) tenta encontrar um modo de lidar com o barulhento cachorro de seu vizinho. Roteiro e direção de Kleber Mendonça Filho.

Tantos sons a volta:
O Som ao Redor é um dos melhores filmes nacionais já feito, apontado por diversos críticos como excelente, inclusive por A. O. Scott, do jornal The New York Times, como “um dos 10 melhores filmes do mundo realizados em 2012”. Caetano Veloso, em sua coluna no jornal O Globo, classificou-o como “um dos melhores filmes feitos recentemente no mundo”. Como esperado, recebeu muitas premiações de melhor filme; por exemplo, no Festival de Gramado, Festival do Rio, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Festival de Nova York, Festival da Polônia, entre outros. É o primeiro longa do diretor Kleber Mendonça Filho, que já havia dirigido o documentário "Crítico" (2008).
O cenário onde ocorre a narrativa é Recife, em um bairro da classe média que vive um momento em que uma equipe particular de segurança aparece oferendo seus serviços. Acompanhando o cotidiano e relacionamentos dessa vizinhança, após a chegada dessa milícia, o filme vai mostrando a rotina e reação das pessoas. Além disso, uma certa atmosfera no ar pode dar indícios de que, a qualquer momento, algo pode acontecer, não perdendo assim o suspense para uma narrativa mais lenta e mostrando como a vida é imprevisível e como todos podemos sair da zona de conforto de forma inesperada.
O filme tem muitos destaques, e um deles, claramente, é o som. Utilizado nos mais diferentes contextos, inclusive ao extremo, seja para gerar barulho e incomodar os personagens e o espectador, seja a sua ausência total, cansando apatia. O ausência do som é quase inexistente, mostrando a poluição sonora da cidade grande, em contraste com o interior que chega a ser mostrado em uma das cenas. De forma criativa e sem perder o padrão do realismo mantido na trama, somos influenciados por cada som que aparece, inclusive para criar tensão e dúvidas sobre o que de fato originou determinado som. E a interpretação a partir de cada som nos remete a vivenciar a rotina desses moradores de classe média. Podemos ser solidários a algum personagem, sofrendo junto com o barulho, ou se identificando positivamente com algum som. Através do som é percebida a separação de classes, quando dispara o medo da classe média com a expectativa constante de uma abordagem da população pobre (vejamos um pesadelo de um dos personagens onde sua residência é invadida por diversos garotos marginais, e ela é despertada pelo barulho e acompanha a situação da janela do quarto).
Alguns personagens são bem explorados, como o corretor de imóveis João (Gustavo Jahn), empregado em um negócio familiar de seu avô Francisco (Waldemar José Solha), respeitado morador local e dono de quase todas as casas da vizinhança. Também temos Bia, uma moradora local, dona de casa e mãe, atormentada por viver cercada por grades e aturando o barulho do cachorro do vizinho. E finalmente Clodoaldo, o chefe da empresa de segurança. Por sinal, muito boa a atuação de Irandhir Santos, como Clodoaldo. A natureza individualista das pessoas frente aos problemas alheios fica evidente, principalmente numa cena bastante interessante, onde ocorre uma reunião de condomínio. Até um comportamento comum de sair da reunião para atender ao celular mostra a falta de vontade em participar das questões coletivas; a classe média evita qualquer envolvimento e atuação política, exceto quando se trata de uma ação que lhe traga claras vantagens.
Causando impressão de que não houve o mínimo desperdício em cada cena, e trabalhando bem cada personagem e seus conflitos, em situações comuns, como por exemplo o barulho do cachorro do vizinho, que fica numa área praticamente colada com a janela de outra pessoa, temos a oportunidade de ver um filme pretensiosamente realista e reflexivo, que traça o comportamento da classe média se escondendo atrás das grades de sua casa, e que na verdade tem a sua parcela de responsabilidade sobre a tensão e os problemas que a permeiam. Temos uma ligação com o passado, a origem das desigualdades sociais do país gerando a riqueza na mão de poucos. Na trama, o passado vem a calhar de alguma forma, incluindo uma dose de suspense e um final para deixar qualquer um boquiaberto, usando o som, uma última vez, com maestria.