Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

domingo, 22 de março de 2015

Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (Coréia do Sul, 2003)

Eu indico
Bom yeoreum gaeul gyeoul geurigo bom (Coréia do Sul, 2003)

Em um pequeno monastério flutuante sobre um lago vivem um velho monge e seu jovem aprendiz. Enquanto o menino explora os arredores, ele se deixa levar por seus instintos e crueldades infantis. Porém, o mestre sempre está pronto para ensinar suas lições, e mostra para o garoto que as conseqüências de pequenos atos podem durar a vida toda. O filme do diretor sul-coreano Kim Ki-duk conta a história desse jovem seguindo o ritmo das estações do ano.

As 4 estações de Kim Ki-duk:
Contemplativo e bem reflexivo, recheado de elementos orientais, como o mestre e o aprendiz, a força e simbologia da estátua do Buda, portas sem paredes ao redor, o colchão em contato com o solo, pequenos animais e ensinamentos pelas artes marciais, esta obra do diretor Kim Ki-duk representa o que há de melhor no drama sul-coreano. O diretor também aparece no filme, interpretando o aprendiz, já na fase adulta.
Todo ser vivo sofre alguma influência das estações do ano. Até os animas já se comportam, por instindo, de forma diferente, seja para sobreviver, seja para usufruir o melhor de cada estação. No meio de um lago cercado de montanhas, nesta paisagem única e perfeita, dois monges compartilham a solidão. A cada estação, base da divisão de cada pedaço do filme, suas vidas vão mudando, principalmente ao aprendiz, que evolui espiritualmente, mas também se depara com desventuras marcantes. Quando menos esperamos, o próprio mestre sofre com o impacto das passagens, tendo a sua própria lição.
Cada estação é uma mensagem, uma passagem na vida dos dois e de outros que eventualmente visitam o monastério. Um pouco da vida lá fora chega a este suposto lugar protegido do mundo: desejos, sofrimentos, perigos, paixões. O velho moje, sempre de prontidão, percebe um perigo e alerta: “A luxúria desperta o desejo de posse e a intenção de matar”. Essa frase, como uma profecia, se torna a base do restante da obra.
A fotografia é impecável, não haveria como ser diferente, mesmo se tratando de um cenário pequeno. A beleza e paz que o lugar transmite, se misturam com a rotina mestre-discípulo, constantemente quebrada por algum acontecimento. E na passagem do tempo está este ciclo inevitável das estações, junto ao ciclo maior da vida transformando o coração dos personagens. Ao final do processo, inicia-se novamente uma das estações, onde contemplamos um final meio previsível, mas tão belo como o filme inteiro. Excelente opção até para quem não está acostumado com a cultura oriental.

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Fontes:

domingo, 15 de março de 2015

O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927)

Eu indico
The Jazz Singer, EUA, 1927

Conta a história de um conflito de gerações numa família judia, quando um pai pretende que seu filho, Jakie, cante na sinagoga e este, por outro lado, se dedica à música considerada profana, sob o nome artístico de Jack Robin, tornando-se um cantor de cabaré. Dirigido por Alan Crosland.

Marco do cinema:
Em 6 de Outubro de 1927 ocorre a pré-estreia deste marco único do cinema, sendo considerado então como o primeiro filme falado. A Warner Brothers acertou em cheio arriscando um filme sonoro. Alguns anos antes, Thomas Edison e Lee De Forest haviam feito experiências combinando efeitos sonoros com imagem real.
O Cantor de Jazz contém cerca de 20 minutos de sequências faladas e cantorias, sincronizado com um disco de acetato. O restante é uma combinação de cenas mudas com orquestrações gravadas, o que era bem comum nos filmes mudos. Após sua exibição e sucesso, os filmes mudos começaram a ficar cada vez mais raros, e muitos atores não conseguiram se adapatar à nova realidade. Para ter uma boa sensação dessa passagem, podemos conferir o filme “O Artista”, produção francesa vencedora do Oscar em 2011, cuja genialidade foi justamente ser um filme mudo que lida com essa questão.
Al Jolson, protagonista do filme “O Cantor de Jazz”, se tornou então o primeiro ator a falar e cantar num filme, com sua voz gravada em banda sonora sincronizada. Ele não somente teve este privilégio, como mostrou uma boa interpretação. É interessante e estranha essa mudança no filme, de cenas mudas para cenas faladas, deixando a reflexão de que a expressão facial (comumente valorizada nos filmes mudos) é tão importante quanto a dicção e boa interpretação com a fala, que prevalece nos filmes sonoros. Al Jolson é bem expressivo e consegue comover bastante ao nos mostrar a história de seu personagem. Com a vantagem de ter sido um famoso cantor de jazz da época, aproveita a chance e também canta no filme. A história é baseada numa peça de mesmo nome, um grande sucesso da Broadway em 1925, remontada em 1927, com George Jessel no papel principal. Foi também um dos primeiros filmes a ganhar o Oscar, dividindo a premiação especial com “O Circo”, grande filme de Charlie Chaplin.
Al Jolson está no papel de Jake Rabinowitz, um rapaz de família judia que sai de casa para se tornar um cantor de jazz. Isto estremece as relações com a família, em especial com o seu pai, que esperava ver o filho seguindo seus passos e cantando na sinagoga, mantendo assim a tradição familiar judaica. Não bastasse ser o primeiro filme falado, este se mostra como um grande drama, comovente, sensível e com um final emocionante. Quebrando mais uma vez um tabu, o personagem chega a pintar o rosto de preto, já que o jazz, apesar de ser uma mistura de várias tradições religiosas, era em particular um estilo próprio dos afro-americanos. Não deixemos de lembrar que muitos filmes antigos não tinham negros como atores e, para representar personagens que eram negros, era bem comum pintar o rosto dos atores dessa mesma forma.
E ficamos então com a famosa primeira fala do cinema sonoro: “You Ain't Heard Nothing Yet, Folks...”.

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Fontes:

terça-feira, 10 de março de 2015

Ondas do destino (Dinamarca, 1996)

Eu indico
Breaking the Waves (Dinamarca, 1996)

No norte da Escócia uma jovem mulher (Emily Watson) se apaixona e se casa com um dinamarquês (Stellan Skarsgard) que trabalha em uma plataforma de petróleo. Quando ele retorna ao seu serviço, sofre um acidente que o deixa incapacitado. Nesta situação ele pressiona a mulher a procurar amantes e lhe contar detalhes de suas relações. Dirigido por Lars Von Trier.

Um filme deve ser uma pedra no sapato!”
Contraditório, criticado por uns e amado por outros, o diretor Lars Von Trier deixou mais um presente para a sétima arte. Este filme impressionante discute assuntos que dividem opiniões no mundo inteiro, como a fé, o sexo e a felicidade matrimonial, e consegue passar uma boa sensação de integridade, principalmente nas questões fé e milagre. Entrando ou não em sintonia com a trama, o incômodo é inevitável para os espectadores, que serão surpreendidos, enganados, sofrerão e sucumbirão à hipnose de suas passagens. E isso tudo o diretor consegue ao apresentar passagens simples, rotineiras, mescladas a momentos de infortúnio, ironias do destino. Não deixa de ter um pouco daquela tortura psicológica e de ser uma pedra no sapato, como foi dito pelo diretor em uma de suas frases mais famosas.
Nessa belíssima e impactante história, a dinâmica pode parecer simples e arrastada: Bess e Jan vão se casar, um homem vivido, imponente, e uma mulher frágil, bondosa e influenciada, como todas as outras, pelas regras dos cristãos conservadores e fanáticos de seu vilarejo. Apesar da desaprovação da comunidade, é após este casamento que a protagonista experimenta uma felicidade plena. Assim começa a trama, sem nos dar a chance de conhecer o passado dos dois, já que isso não importa. E o desenvolvimento é divido em episódios titulados, cada um apresentado com uma boa música e uma imagem, estas parecidas com pinturas belíssimas. A cada passagem, as coisas vão ficando mais interessantes.
O comportamento dos habitantes onde se passa o filme é controlado pelos anciãos da Igreja. Estes chegam ao absurdo de não permitir que mulheres falem na igreja ou participem do funeral de um ente querido, caso este tenha sido considerado pecador. Aliás, o discurso dos anciões nesses funerais é chocante. Não é a toa que o medo da não salvação dita o comportamento dessas pessoas, entrando em conflito com decisões que a protagonista vai tomar.
Bess é interpretada de forma brilhante por Emily Watson, uma das melhores atuações que já vi, recebendo uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Dessa forma, fica fácil de acreditar na fama do diretor em aproveitar o máximo de seus protagonistas, com seu método de direção intenso e focado, também, nas atuações. A personagem é de um carisma raro, atraente, apaixonante. Sua dedicação ao marido (outra grande interpretação, por Stellan Skarsgard) é impressionante. Quando Jan não pode mais andar e o sexo é impossível, Bess aceita dormir com outros homens e contar ao marido, no intuito de fazê-lo sentir alguma felicidade. Essa ótica pós moderna, mórbida para muitos, pode ganhar credibilidade aos espectadores, através da forma como Lars Von Trier lida com as circunstâncias possíveis. A credibilidade e integridade também podem ser alcançada diante de um possível milagre, verdadeiro.
Bess, em suas orações, é como se conversasse de fato com Deus. Ela mesma responde aos pedidos em voz audível. Na procura incessante de um milagre para Jan, ela se submete a qualquer sacrifício. Sacrifício e existência de um cura real, na realidade, são premissas para os milagres atribuídos aos santos, não importando a maneira como estes se comportaram na vida.

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Fontes: