Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

terça-feira, 22 de abril de 2014

Helter Skelter (EUA, 2004)

Eu indico
Helter Skelter (EUA, 2004)

O filme mostra a história real dos assassinatos cometidos por Charles Manson (Jeremy Davies) e seu grupo de seguidores, no final dos anos 60. Linda Kasabian (Clea DuVall) é uma jovem mãe que, fugindo com seu bebê, encontra Manson, um carismático aspirante a músico que viaja com um grupo de amigos os quais chama de “família”. O grupo sobrevive de pequenos furtos enquanto seus membros praticam sexo grupal, usam drogas e discutem sobre sua filosofia apocalíptica. Dirigido por John Gray.

Charles Manson – SPOILER PARA QUEM NÃO CONHECE O CARA:
Para quem gosta de ver filmes baseados em fatos reais que traçam bem o perfil de um personagem incomum, juntamente com cenas fortes e violentas, assim como algumas cenas de tribunal, essa é uma boa opção. Trata-se da história real de um dos piores psicopatas dos EUA, o famoso Charles Manson, sua confusa e atípica personalidade em evidência com a interpretação excelente de Jeremy Davies (provavelmente seu melhor papel até agora). Extremamente manipulador, inteligente (de uma certa forma), perverso e com capacidade de liderança e carisma, ele levou seus seguidores fiéis a cometer assassinatos brutais. Com frases como: “Nenhum sentido faz sentido”, se identificando como o próprio Jesus Cristo, fundou uma família, clã ou seita, com características hippies, conseguiu chocar o mundo com assassinatos que caíram facilmente na mídia. O conhecido caso de assassinato da atriz e esposa do diretor Roman Polanki, ficou bem focado no filme, e parece ter sido escolhido por Manson como uma oportunidade de mostrar sua filosofia. A bela atriz Sharon Tate estava grávida na época.
O roteiro foi baseado no livro de Vincent Bugliosi, que foi o promotor do caso, e também serviu como fonte para uma produção de 1976, centrada nas investigações que levaram Charles Manson para julgamento. As cenas dos crimes são vistas algumas vezes, cenas bem fortes, e o foco na pessoa de Manson e no seu julgamento são os pontos chave do filme. Vemos a dificuldade do promotor em comprovar a culpa de Manson nos crimes, já que este não executou diretamente os crimes.
Talvez por não conseguir uma carreira no mundo da música, como fica evidente nas primeiras cenas, Manson resolve liderar seu grupo para uma série de assassinatos bizarros e, assim, mostrar sua filosofia, que ele chamou de movimento “Helter Skelter”, acreditando que uma guerra entre brancos e negros iria acontecer, em razão dos assassinatos cometidos por sua "família". Helter Skelter é nome de uma música dos Beatles, lançado no disco White Album (1968) e o termo é muito conhecido nos EUA. Os Beatles foram interpretados por Mason como os quatro cavaleiros do Apocalipse que são mencionados na Bíblia.

Nós éramos os cavaleiros, Helter Skelter era a mensagem, e ele achou que podia sair e matar todos por aí.”
(Paul McCartney)

"Helter Skelter significa confusão. Literalmente. Não significa guerra com ninguém. Não significa que eles irão matar outras pessoas. Apenas significa o que significa. Helter Skelter é confusão. Confusão está vindo rápido. Se você não vê que a confusão está vindo rápido, chame do que quiser. Não é minha conspiração, não é minha música. Eu escuto o que relato. Ela diz, ‘Apareça!’ ela diz, ‘Mate!’ Porque me culpar? Eu não escrevi a música. Eu não fui a pessoa que projetou isso na consciência das pessoas."
(Charles Manson)

__________________________________
Fontes:

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Vidas ao Vento (“Kaze Tachinu”, Japão, 2014)

Eu indico
Kaze Tachinu (Japão, 2014)

Jiro Horikoshi vive em uma cidade no interior do Japão. Um dia, ele tem o sonho de estar voando em um avião com formato de pássaro. A partir desse sonho, ele decide que construir um avião e colocá-lo no ar é a meta da sua vida. Durante a busca pelo seu sonho ele conhece Naoko, uma jovem encantadora por quem se apaixona. No entanto, Naoko fica profundamente doente, sem saber se sobreviverá. Dirigido por Hayao Miyazaki.

Le Vent se Lève - COM ALGUNS SPOILERS "AO VENTO":
Nesta animação madura e romântica, o diretor segue uma narrativa diferente em relação aos seus filmes anteriores, não lidando com o quesito fantasia; pelo contrário, trata-se de uma cinebiografia - muito bem contada - em forma de animação, mostrando a vida de Jirô Horikoshi, um visionário designer de aviões no Japão, que criou o chamado “Zero” (Mitsubishi A6M Zero), um modelo que a marinha acabou usando como máquina de guerra. Bastante delicado e, ao mesmo tempo, chocante, o filme mostra um lado que muitas vezes não enxergamos, de pessoas que influenciaram na guerra, mas tinham intenções completamente diferentes. O Japão já estava em guerra com a China e acabou ao lado dos Alemães na Segunda Guerra, sendo assim um país muito julgado, assim como a figura de Jirô Horikoshi, que foi de fato o criador do modelo que foi usado pelos Kamikazes para destruir a base naval americana Pearl Harbor. O filme tenta humanizar personagens reais. Desde garoto, Jirô admira o lendário designer italiano Caproni, criador do modelo que se tornou conhecido como Ghibli (palavra líbia que designa o vento do deserto, e que virou o nome da empresa produtora de Miyazaki), tentando então realizar seu sonho de criar algo belo e útil, mesmo se atormentando com a tendência da marinha em utilizar seus aviões como armas de guerra. Isso fica claro quando ele explica que o peso das armas vai influenciar negativamente no projeto, e mostra sua vontade - junto com Caproni – de criar um meio de transporte útil, para o máximo de pessoas possíveis.
Ao mesmo tempo, ele conhece o amor de sua vida, garantindo muitas cenas singelas e românticas. A forma como Jirô e Naoko se conhecem e se reencontram, anos mais tarde, é simplesmente poética e apaixonante. Mas junto com isso vem a doença da garota, que sofre de tuberculose e tenta a cura num hospital na montanha. Os aviões matam assim como a doença, o corpo da amada sofre junto com a alma do designer, que precisa conviver com a expectativa de perda de sua amada, junto com as atrocidades da guerra. O romance “The Wind Has Risen” (1937), de Hori Tatsuo, que se passa em um sanatório para tuberculosos em Nagano, no Japão, serviu de base para contar o relacionamento de Jirô e Naoko. São muitas inspirações para o filme, inclusive o próprio Miyazaki, quando garoto, viu a mãe morrer de tuberculose. Ele tinha parentesco com pequenos industriais ligados à aeronáutica e os aviões foram sua primeira paixão.
É um desenho para adultos por se tratar de um tema sério, mas também para crianças que precisam amadurecer, inclusive trazendo conhecimentos da história do Japão e da história mundial no contexto da segunda grande guerra. O grande terremoto que devastou Tóquio em 1923, por exemplo, pode ser contemplado no filme. Outros detalhes, como a inspiração que o designer usou para criar o formato do avião (uma espinha de peixe), assim como as metáforas que usam o vento o tempo todo, permeiam a trama. O título em francês, “Le Vent se Lève”, vem de um poema de Paul Valéry e a citação completa é feita em francês mesmo, pelo protagonista e sua amada: “Le vent se lève, il faut tenter de vivre” (O vento se ergue, é preciso tentar viver). Esta é a grande lição do filme, já que junto com a criatividade e inteligência humanas, vem a lamentação com a nossa capacidade de usar a ciência para destruição, de maneira que devemos estar cientes, mas também saber seguir em frente com nossas vidas.
Também precisamos destacar a parte técnica e artística, já que as cores, profundidade, desenho das cidades, aviões, trens e todo o cenário são impecáveis. Junto com efeitos sonoros e uma trilha musical predominante, tudo se complementa com facilidade. A trilha é de Joe Hisaishi, que trabalhou com o diretor em “Princesa Mononoke” e “A Viagem de Chihiro”.
É essencial conferir este filme de animação do diretor e desenhista japonês Hayao Miyazaki, que anunciou sua aposentadoria para o cinema recentemente (esta pode ser a sua última contribuição para a sétima arte). É comum este diretor receber prêmios no Japão de melhor filme de animação: “A Viagem de Chihiro” (2001) levou a estatueta do Oscar e, em 2004, “O Castelo Animado”, minha animação preferida, foi indicado. Normalmente lidando com o desenho na sua forma tradicional, sem uso de muitos efeitos especiais, suas animações possuem tanto a parte da arte impecável, quando uma bela e profunda dramatização, sempre com uma crítica ou mensagem, deixando este diretor como um dos mais famosos no gênero. Mesmo humanizando um personagem que criou aviões que foram usados para devastar, não impediu que o filme “Vidas ao Vento” recebesse uma indicação como melhor animação neste Oscar mais recente. Talvez a mensagem tenha sido compreendida, a mensagem de paz (também tratada na animação “O Castelo Animado”), seja a paz mundial, seja a paz de espírito. O vento se ergue, é preciso tentar viver.

_________________________________
Fontes:

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Tolerância (Brasil, 2000)

Eu indico
Tolerância (Brasil, 2000)

Júlio e Márcia são um casal que se permite viver possíveis atividades extraconjugais. Ele é seduzido pela amiga de sua filha enquanto passavam um fim de semana na sua casa de campo. Ao mesmo tempo, sua esposa, uma advogada sempre fiel, envolve-se com um cliente e confessa isso a Júlio. Dirigido por Carlos Gerbase.

Surpresa nacional:
O diretor gaúcho Carlos Gerbase pertenceu à Casa de Cinema de Porto Alegre, a empresa que contém nomes como Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, entre outros cineastas brasileiros importantes. Em 2011, juntamente com Luciana Tomasi, criou a produtora Prana Filmes. É também professor de cinema na PUCRS, escritor e músico, tendo sido membro da banda Replicantes. Com um roteiro inteligente e criativo, o diretor nos presenteia com esta ótima produção nacional.
No filme, o casal de protagonistas é interpretado por Roberto Bontempo e Maitê Proença, ambos excelentes em suas atuações, sendo que o primeiro levou o Prêmio Lente de Cristal de Melhor Ator, no Festival do Cinema Brasileiro de Miami, EUA. Maitê Proença não fica para trás e, obviamente, está linda.
Existem três boas características neste filme. Uma delas é a forma como tratou a temática de relacionamento flexível, onde o casal se permite, em algum momento, ter outras relações. A regra é não mentir, mas claro que isso pode gerar consequências na relação e, neste caso, situações interessantes e surpreendentes. Pitadas de sensualidade e sedução se misturam a esse aspecto principal do filme pois, apesar de sua vida normal, em família, o casal tende a praticar esse “acordo” de alguma forma.
O segundo ponto que chama a atenção é a vertente do suspense, pois se trata de uma trama bem elaborada, com reviravoltas e um final bem criativo, no nível de alguns dos melhores filmes com gênero suspense ou policial americanos.
E o terceiro é a abordagem de temas diversos e interessantes, que servem como uma trama paralela, como a questão agrária que envolve a advogada e seu cliente, assim como os conflitos vividos pelo casal de protagonistas: ela, uma advogada que acabou cedendo à realidade e agindo de forma a convencer o júri e ganhar a causa de qualquer forma, mesmo tendo sido uma ativista quando jovem; ele, jornalista, acabou tendo que trabalhar numa revista para homens, vivendo em contato visual com imagens de corpos nus femininos, sendo que na década de 70 sonhava em fazer imagens que mudariam o mundo. A realidade, o nascimento da filha e o mundo mudou tudo.
Júlio (Roberto Bontempo) confessa para a esposa Márcia (Maitê Proença) que gostaria de ir para a cama com uma mulher que conheceu. Ele se comunica com ela pela Internet e o processo de sedução chega a um ponto intolerável. A esposa, cansada de mentir no tribunal, deseja ser sincera em casa e confessa que foi para a cama com outro homem, um cliente dela. Cada um terá que exercitar a sua tolerância, principalmente quando Júlio começa a ser seduzido pela amiga da filha. A garota é nova e bonita e ele a deseja muito. A partir disso a trama vai mostrar as mudanças na vida dos personagens e a tolerância de cada um será testada.

__________________________________
Fontes: