Apresentação

Como cheguei aqui

Sempre gostei de indicar filmes e compartilhar informações, sensações e opinião pessoal sobre eles. A atividade cinematográfica é uma das minhas paixões. Optei aqui por indicar 3 filmes por mês, manifestando a minha opinião como um simples espectador, compartilhando algumas informações sobre os filmes selecionados. Espero que o resultado seja agradável para quem visitar.

Enquanto for interessante, estarei por aqui...


Cinema Paradiso (Itália/França, 1988)

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Síndromes e um século (Tailândia, 2006)

Favoritos
Sang Sattawat (Tailândia/França/Áustria, 2006)

Retrato da modernização da Tailândia e as síndromes do século, através de situações em um hospital, dividido em duas partes, uma no campo e uma na cidade. Roteiro e direção de Apichatpong Weerasethakul.

A transição e as síndromes:
Situações aparentemente insignificantes ganham um grande significado nesta obra cinematográfica do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul. A reflexão cuidadosa sobre as partes e sobre o todo do filme deixa uma sensação de felicidade sobre a vida, onde é colocado como primeiro plano as pessoas com suas diversidades. O mundo é coadjuvante. As pessoas, protagonistas.
Estruturado em duas partes, uma no campo e uma na cidade, mas usando os mesmos personagens e ambiente - um hospital - e mantendo uma pequena semelhança entre elas, podemos imaginar que são manifestações de duas realidades distintas, duas vidas, com forte conexão entre si. As síndromes manifestadas pelas pessoas é a ligação entre essas duas partes. Os personagens são os mesmos... e não o são, já que caminhos e decisões diferentes foram tomadas. Os diálogos e as imagens são os grandes pontos fortes do filme. São simples e, ao mesmo tempo, importantes demais. Uma boa dose de humor pode ser vista nas conversas, principalmente na primeira parte, como se a leveza da graça fosse reduzida na segunda, assim como as relações (um amor platônico na primeira é substituído por um namoro firme e sexualmente intenso na segunda). Algumas conversas são divertidas a ponto de causar muito riso e, dessa forma, conquistar o espectador logo no início. Ainda assim, não prejudica a seriedade do filme.
O cenário de um hospital na Tailândia, em ambas as partes do filme, é palco perfeito para mostrar as relações. Na primeira, ele está no meio da selva, em época de guerra, já na segunda ele está no meio da cidade desenvolvida, a capital Bangkok, dando a entender que está numa época posterior. Pessoas desconhecidas passam a interagir, cada uma com suas crenças, seus vícios. Personagens e situações se repetem, mas existem pequenas mudanças nos diálogos e nas reações. Em ambos os momentos, percebemos fortemente a realidade tailandesa onde se manifestam o budismo e a medicina tradicional. A segunda parte só não repete, de fato, a primeira, porque mostra outras percepções, mas lá estão as mesmas síndromes.
Uma doutora atende um velho monge budista, que está em busca de remédios para se livrar de seus pesadelos, mas acaba que, no meio da conversa, o paciente oferece à médica algumas ervas, para ela fazer um chá de cura e restauração. Cada um ajuda o outro da maneira que sabe, tratamentos distintos para as mesmas síndromes. Existe uma amizade entre um médico e um monge, e este último confessa ao médico que queria ser DJ. Na segunda parte, a relação entre o médico e o monge é tão fria que não existe diálogo, o dentista atende ao monge sem falar nada, fechado em sua máscara antisséptica.
A bela imagem de um eclipse vai marcar a transição entre as duas partes do filme, mas o que vai mais impactar é perceber as diferenças em torno das mesmas síndromes. Amor e vidas passadas aparecem em boas doses, mas as relações mudam. A experiência de vida do diretor, que passou a infância em um hospital da província de Khon Kaen, garante a fidelidade ao trazer as situações para contemplarmos a magia da vida através das cenas. Dizem que há uma semelhança com um de seus filmes anteriores, “Mal dos Trópicos” (2004), muito recomendado pelos críticos.

__________________________________
Fontes:

quarta-feira, 13 de maio de 2015

A Outra Terra (Another Earth, EUA, 2011)

Eu indico
Another Earth (EUA, 2011)

Rhoda Williams (Brit Marling) é uma estudante de astrofísica do MIT. John Burroughs (William Mapother) é um famoso compositor. Na noite em que um novo planeta é descoberto, Rhoda comete um acidente na estrada e acaba batendo no carro de John, resultando na morte de sua esposa grávida. Depois dela cumprir pena, os dois se encontram e iniciam um relacionamento, ao mesmo tempo em que é lançado um concurso, onde o vencedor poderá conhecer o novo planeta, que é uma cópia do Planeta Terra. Dirigido por Mike Cahill.

Planeta à vista:
Imagine a situação na qual surge um outro planeta, extremamente parecido com o nosso, próximo à nossa vista. Olhamos para ele com uma distância como se fosse a lua cheia, mas ele é azul. Lá existe uma versão idêntica de cada pessoa, que pode ter os mesmos segredos, medos e personalidade, mas que pode ter tomado outro rumo na vida. Essa é a interessante proposta deste filme. Entretanto, não somente de ficção vive o mesmo, pois temos uma história paralela, que ocorre na nossa terra, focada no drama gerado pela situação que foi resumida na sinopse acima.
Juntando a ficção e o drama, temos uma mensagem legal sobre se redimir, algo como reconquistar aquilo que se havia perdido, ou compensar um erro. Atitudes que podem ser tomadas quando o universo nos dá a oportunidade de uma segunda chace, sendo que no filme isto ocorre em meio a uma realidade que foi drasticamente alterada para o mundo inteiro, já que a existência sobre o novo planeta - e sobre as cópias das pessoas - é compartilhada com todos. O filme levou dois prêmios no Sundance Film Festival de 2011, um deles foi o prêmio especial do júri. Uma boa conquista para uma produção independente.

Palpite sobre o final - SPOILER:
No final do filme, aparentemente a Rhoda que vive na “Outra Terra” também ganhou a passagem. Entretanto, ao invés de fazer o que a Rhoda da nossa Terra fez (doar o prêmio para John), ela resolveu fazer a viagem para a nossa Terra e acabou que as duas se conheceram de qualquer forma. Na "Outra Terra", a Rhonda não cometeu o acidente que acabou com a família de John, então ela pôde vir sem remorso e acabou que o John daqui teve a oportunidade de conhecer a cópia de sua família na “Outra Terra”.

__________________________________
Fontes:

sexta-feira, 8 de maio de 2015

A Greve (Stachka, Rússia, 1925)

Eu indico
A Greve (Rússia, 1925)

Em 1912, durante o governo do Czar, a greve dos operários de uma fábrica é brutalmente reprimida pela polícia. Dirigido por Sergei M. Eisenstein.

A revolução no cinema russo - SPOILER:
Muitas produções cinematográficas soviéticas foram usadas como propagandas políticas, denunciado o governo anterior à Revolução de 1917, quando se criou a União Soviética. O próprio Estado tinha interesse em distribuir os filmes, que mostravam prioritariamente a força do proletariado russo contra o regime vigente. Podemos conferir isso em filmes de Sergei M. Eisenstein, como este “A Greve”, um de seus primeiros trabalhos como diretor. Outro exemplo, um de seus mais importantes trabalhos, é “O Encouraçado Potemkin”, um grande filme de 1925.
Em “A Greve” (“Strike”, na tradução americana), um operário de uma fábrica russa comete suicídio, após ser injustamente acusado de roubo, e isso se torna a motivação inicial para uma greve. Uma pessoa grita, numa cena, “Stop work!”, e tudo começa. Dividido em 6 partes, o filme apresenta o seu primeiro capítulo como “TUDO ESTÁ CALMO NA FÁBRICA”. De fato, o começo da greve é motivante para os empregados, as reivindicações são discutidas, colocadas numa pauta escrita e encaminhadas para negociação. Logo vemos que elas são negadas com desdém, numa boa cena onde um dos donos da fábrica usa o papel - com as reivindicações - para limpar o sapato. Assim, a greve vai se intensificando e a polícia é chamada para conter a classe de trabalhadores. Mas o que acontece é um ataque às pessoas, a ponto de parecer um cenário de guerra.
A proposta mostra um processo revolucionário, ascensão da classe trabalhadora sobre o capitalismo. Mas a revolução também ocorre na parte técnica do filme, numa montagem e direção que conduziu muitos figurantes, muito movimento nas cenas, e não dá para saber como se conseguiu isso com os poucos recursos da época. O som de tambores e acordeon acompanha e caracteriza este.
Metáforas mostram como as pessoas são tratadas como animais (cenas que se alternam entre o abate de um boi e as pessoas sendo massacradas por policiais em cavalos) e a postura dos empresários (membros do czarismo), bebendo uísque, comendo, fumando charutos e se divertindo no meio daquilo tudo, em seu canto protegido e esbanjando riqueza. Numa cena, um deles mostra uma máquina de espremer fruta para fazer suco, logo muda para outra que mostra trabalhadores sendo maltratados por policiais. Demandas minimamente necessárias foram exigidas, como uma redução para jornada de 8 horas por dia, sendo 6 para menores de idade. A violência chega a tal ponto que, em outra cena, uma criança pequena é jogada do terceiro andar de uma moradia.

Foto famosa do diretor Sergei M. Eisenstein

Na própria abertura do filme, uma frase de Lenin já resume a ideia:

A força da classe operária é a sua organização. Sem organização de massa o proletariado é nada. Com organização, é tudo.”

Outra frase de Lenin é usada no início do grande filme “O Encouraçado Potemkin”:

Estar organizado significa unidade de ação, a unidade da atividade prática.
A Revolução é Guerra. É a única das Guerras que consideramos legítima e justa.
Realmente a maior dentre as guerras que a História conheceu.
Na Rússia ela foi começada e declarada.”
(Lenin, 1905)

__________________________________
Fontes: