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Eu indico |
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O Espião que Sabia Demais (Reino Unido / França / Alemanha, 2011) |
No final do período da Guerra
Fria, George Smiley (Gary Oldman), um dos veteranos membros do Circus, divisão
de elite do Serviço Secreto Inglês, é chamado para descobrir quem é o agente
duplo que trabalhou durante anos também para os soviéticos. Todos são
suspeitos, mas como também foram altamente treinados para dissimular e
trabalhar em condições de extrema tensão, todo cuidado é pouco. George precisa
indicar o espião e não pode errar.
Funileiro, alfaiate, soldado, espião:
Após leitura da obra de mesmo
título e no clima do Oscar 2012, assistir O Espião que Sabia Demais foi uma
grande satisfação. Ambientada no início dos anos 70, a trama tem todo o clima
da Guerra Fria, um elenco singular, um visual com coisas marcantes da época e
uma ótima trilha sonora. Recebeu indicações para melhor ator (Gary Oldman),
melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora original (Alberto Iglesias). O
personagem principal, George Smiley, tem características marcantes, é quase um
idoso, muito reservado, com uma quieta intensidade e inteligência, abdicando de
qualquer diálogo que seja desnecessário, um cavalheiro respeitoso e com toda
calma e expertise de um espião experiente. Outros atores também se destacaram na atuação, como Colin Firth (Bill Haydon) e Mark Strong (Jim Prideaux), personagens cumprindo papéis bem importantes na trama, sem contar com as poucas aparições de Simon McBurney (Oliver Lacon), também excelente.
Bem nas primeiras cenas, logo
após a primeira aparição de Smiley, passam-se alguns minutos sem que o mesmo fale uma
palavra, todo um momento - acompanhando de uma bela trilha sonora - desde que o
mesmo é despedido do Circus, passando pelas salas com suas escrivaninhas antigas,
escadas, até o velho porteiro diante da catraca do prédio. Mas ao invés de
deixar seu legado, o mesmo acaba sendo chamado para descobrir quem é o
“toupeira” (no livro o termo é usado com mais freqüência, para indicar um
infiltrado do inimigo). A disciplina de Smiley fica bem exibida, como a atenção
aos detalhes, o exercício de natação matutina, o comprometimento com a missão e
a organização com o trabalho. Muito interessante também ter apresentado o lado
humano e um pouco falho do personagem que, ao se embriagar, começa a falar
sobre o seu sofrimento com a traição da ex-esposa.
O roteirista Peter Straughan
afirmou que tentou criar as situações com o mínimo de diálogos possível,
obrigando o espectador a ser atento à linguagem corporal e aos olhares dos
personagens, e até a imaginar cenas de tensão que não são mostradas (em algumas
delas, só vemos o desfecho). Existe um jogo por trás dos panos, um inimigo que
até usa o provável ponto fraco de Smiley, que é a lembrança de sua mulher, Ann,
que o persegue e, ao contrário do que foi apostado, também o ilumina. Um
inimigo que também usa como arma a sedução (introduz também a questão da homossexualidade). Existem muitos espaços fechados
e close nos rostos. A consumação da guerra causa um certo alerta do perigo nas
poucas cenas de violência do filme (um homem mata uma coruja na sala de aula,
uma mulher é executada diante de um homem que não a conhece).
Deixando de lado a proposta de
outros filmes de agentes e espiões, que apelam para perseguições, tiroteios e
explosões, aqui temos como predominante transações às escondidas, diálogos
buscando um fio da verdade e o intelecto, tendo à disposição dos agentes
aparelhos antigos e sem uma tecnologia de ponta. Muitos terminarão de ler o livro ou ver o filme desejando não ser um agente secreto; afinal, aqui um espião é meramente comparado a um funileiro, alfaiate, soldado ou até mendigo (no livro este último é atribuído a George Smiley). E bem nas cenas finais temos uma grande jogada em introduzir a música “Beyond the Sea” interpretada em francês.
John le Carré – Escritor, espião,
produtor:
Praticamente uma autoridade no
assunto de espionagem, antes de se consagrar como escritor, John Le Carré atuou
no serviço secreto britânico nos anos 50 e 60, inclusive a serviço de Vossa
Majestade. Isso explica o realismo de seus romances de espionagem, já que o
mesmo sabe do que está escrevendo. Também participou da produção do filme, para
garantir uma fidelidade alta à sua obra. A sua experiência nos serviços
secretos terminou repentinamente, quando um agente duplo britânico denunciou a
identidade de dezenas de espiões compatriotas ao KGB.
Assim como no filme, o livro
mantém o clima frio e silencioso, um casamento do drama com o suspense numa
atmosfera melancólica. Expõe honra e mentiras, segredos e traições, disputas de
poder, intrigas e jogos duplos. Tem espaço até para afetos secretos e
sacrifícios pessoais. Seguem dois trechos retirados do livro:
"A traição, de um modo
geral, é uma questão de hábito, concluiu Smiley"
"Smiley afastou todas aquelas idéias, desconfiado como sempre das formas
padronizadas dos motivos humanos"
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Fontes: