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Eu indico |
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Depois da Chuva (Japão, 1999) |
Misawa é um samurai que não
consegue encontrar emprego, mas que é um gênio da arte de lutar. Ao lado de sua
mulher, ele é obrigado a parar em uma pequena hospedaria por causa de uma
enchente. Vendo as péssimas condições do local, ele parte em busca de alimento
para o povo, logo despertando a desconfiança de sua mulher, que não gosta que
ele lute por dinheiro. Mesmo sem a conduta real de um samurai, é contratado
para treinar as tropas do feudo local, despertando a inveja dos outros
lutadores.
Akira Kurosawa e os samurais:
Akira Kurosawa é a grande
referência quando se trata de cineastas japoneses. Foi o introdutor do gênero
samurai no cinema, mas também explorou diversos enredos. Dos seus filmes mais
conhecidos e que tive a oportunidade de ver, recomendo "Ran" (1985), homenageado
no Festival de Cinema de Cannes e considerado sua obra prima,
"Sonhos" (1990), que reúne várias situações como lendas japonesas
antigas e mitos do folclore oriental, e o clássico "Os Sete samurais"
(1954). Tive que escolher um para a postagem e optei por este interessante
filme "Depois da Chuva", seu último trabalho no cinema. Embora tenha
feito somente o roteiro deste, o seu discípulo e fiel assistente de direção, Takashi
Koizumi, concretizou a obra dirigindo o filme, logo após o falecimento de Kurosawa,
como uma forma de homenagem ao mestre.
É um filme de samurai leve,
contemplativo, poético e harmônico... assim como a chuva do título. A idéia é
acompanhar a jornada de um Samurai, Misawa, na verdade um Ronin, pois não
possui senhor algum para servir, já que seus empregos anteriores deram errado e
vamos entender o porque. Possuindo grande habilidade na espada e na arte de lutar,
além de uma bondade e humildade raras, ele acaba enfrentado o dilema de usar seus
dons para boas causas, mesmo que isso fira o código do Samurai, de não lutar
por dinheiro. Misawa e sua esposa estão de passagem, mas por conta da forte
chuva eles ficam alojados em um tipo de pensão local, habitado por muitas
pessoas pobres. Convivendo com eles, Misawa fica sensibilizado com a situação. Uma
marca de Kurosawa é focar na injusta situação dos pobres.
O caráter do personagem é o que
mais agrada no filme, pois ele não se apega a rituais, é livre e independente,
mas também extremamente responsável, justo e defensor dos fracos, abrindo mão do
próprio conforto. E sua verdadeira honra é conquistada ao alegrar os pobres e
menos favorecidos no lugar onde ele está. O extremo valor dado à tradição dos
Samurais acaba perdendo valor real para Misawa, e posteriormente a esposa
também reconhece que vale a pena usar dons para boas causas.
“Dizem que a espada de um
guerreiro é o seu espírito”. Simbologias são tratadas no filme, como a própria chuva,
a travessia do rio e o símbolo da espada que representa o espírito do samurai.
O som e o cenário trazem detalhes da natureza, as águas, bosques, rios e
cachoeiras.
Para quem gosta de cenas de luta, temos uma bela cena onde o personagem
fica cercado por 8 homens e, apesar de evitar, é obrigado a se defender do
grupo todo. Muito interessante não vermos aquelas lutas inacreditáveis, com
saltos e malabarismos, coreografadas e em câmera lenta e rápida; temos aqui o
realismo de como uma luta de espadas provavelmente acontecia, onde o que conta
é a habilidade, experiência e frieza, o controle emocional, o foco e a calma
que ajudam nos reflexos do samurai. Também percebemos a importância do treino, em
algumas cenas onde Misawa se
dedicava a exercitar-se um pouco com a espada. Tudo é como uma frase no filme:
“Nenhuma verdade a não ser os fatos”.
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