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Eu indico |
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Miracolo a Milano (Itália,
1951) |
Uma
mulher adota um bebê abandonado em sua horta. Depois de sua morte, o
garoto é enviado para o orfanato. Ao completar 18 anos, Totó
(Francesco Golisano) vai para Milão, onde passa a morar num terreno
ocupado por miseráveis, mudando a vida de todos com sua bondade.
Após descobrirem petróleo, os moradores são ameaçados pelo
proprietário, que manda a polícia desocupar o local. Quando tudo
parece perdido, Totó recebe uma ajuda dos céus, começando a fazer
muitos milagres. Dirigido por Vittorio de Sica.
Milagre:
Para
começar, o filme é um clássico do diretor Vittorio de Sica, o
mesmo de Ladrões de Bicicletas (1971), que foi um dos primeiros
diretores a usar elementos de neorrealismo nos filmes italianos. Em
“Milagre em Milão”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, é
interessante como o diretor usa elementos de ficção na sua obra, e
ainda mostra uma Itália suja, assolada pela miséria. A história de
Totó é como uma fábula, ele surge no meio de uma plantação, no
quintal da casa de uma senhora. Ela o adota e vemos, assim, a
importância da criação, do exemplo que a mãe dá, mesmo não sendo a
progenitora (não sabemos de onde veio o garoto e ele nem se importa
com isso). Numa bela cena, o garoto derrama o leite na casa, e a
senhora, ao invés de reprimi-lo ou castigá-lo, usa o cenário
formado para brincar com o garoto e ensinar uma lição: “Que
grande lugar é o mundo!”, diz a senhora. Após ela falecer, Totó
vai para o orfanato e só sai quando adulto. Ele não sai revoltado,
desesperado. Pelo contrário, ele abraça a vida que é possível
ter. Se acomodando em um terreno tomado por mendigos, sua maneira de
olhar o mundo, seu comportamento, vai contagiar a todos, com direito
a um acontecimento especial – um milagre – que será concretizado
através do garoto. Na verdade, o garoto em si já é o milagre, sua
forma de encarar a vida, ajudando ao próximo, não se colocando
acima de ninguém e considerando todos importantes. É a figura da
gentileza, da simplicidade, a pregação da igualdade. Diante de
alguém com menor estatura, o garoto se abaixa.
Os
pobres, oprimidos, estão numa situação difícil: terão que
abandonar sua morada por conta de um burguês que anseia pelo local.
Só mesmo um milagre para salvá-los. Quando tudo parece perdido,
Totó recebe uma ajuda dos céus, começando a produzir os milagres.
Cenas engraçadas surgem, com seus efeitos especiais que, para a
década de 50, foi também como um milagre para o cinema. Temos cenas
como a do negro e de uma branca que se aproveitam do milagre para
tentar ficar juntos, outra com soldados que são obrigados a cantar
ópera para não falar o comando de ataque aos pobres moradores,
entre outras. Numa cena, vemos que um garoto é usado como uma
espécie de campainha (preso à uma corda, ele avisa quando alguém
chegou à porta e puxou a corda). Bem engraçado!
Criatividade,
cenas divertidas e muita reflexão. Sem contar o ator Francesco
Golisano, que ficou muito bem no papel de Totó, nos contagiando com
a alegria de viver, em contraste com a vida que leva, como se o maior
dos problemas na verdade nem fosse um problema. O filme trata
simplicidade e prega a verdadeira revolução. Os pobres, em uma
cantoria agradável, mostram o que querem:
“Tudo o
que precisamos
é de um barraco
Para
viver e dormir
Tudo o
que precisamos
é de um pedaço de chão
Para
viver e morrer
Tudo o
que pedimos
é um par de sapatos
Umas
meias e um pouco
de pão
É tudo o
que precisamos
para crer no amanhã
É tudo o
que precisamos
para crer no amanhã.”
Só mesmo
um milagre dos céus para ajudá-los, e uma mensagem de que nós
podemos, com nossas atitudes, ser o milagre da vida. Perante Deus,
somos todos iguais, como diz a frase no filme:
Existe
um reino onde "bom dia"
quer dizer realmente "bom
dia"!
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Fontes: