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A Espuma dos Dias (França / Bélgica, 2013) |
Colin, um
jovem rico, quer se apaixonar. Com a ajuda de seu cozinheiro Nicolas
e de seu melhor amigo, Chick, ele conhece Chloe, com quem se casa.
Mas logo após seu casamento, Chloe fica doente. Ela tem um lírio de
água crescendo em seu peito. Arruinado por despesas médicas, Colin
recorre a métodos cada vez mais desesperados para salvar a vida da
amada. Dirigido por Michel Gondry.
Fábula fantástica:
O diretor
Michel Gondry, de “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”
(2004), decidiu nos apresentar a um mundo surreal e fantástico,
parecido com o nosso, sendo que através das semelhanças ele faz
suas críticas à Revolução Industrial, Igreja, filosofia,
capitalismo, entre outros, chegando até os sentimentos humanos,
principalmente em relação à fragilidade do amor. Desde o início
do filme, onde conhecemos o exótico ambiente de Colin, sabemos que o
estilo, adaptado da obra de Boris Vian, autor do livro “A Espuma
dos Dias”, é de um universo surreal, com comportamentos inventados
e engenhocas fantásticas. Após duas adaptações, uma francesa de
1968 (“'A Flor da Vida”,
dirigido por Charles Belmont) e outra japonesa de 2001 (“Kuroe”,
de Gô Rijû), chega agora às telas essa nova versão.
O
cineasta francês parece gostar de explorar os limites da tecnologia
e do surreal. Com direito a um piquenique com sol e chuva (ao mesmo
tempo), objetos loucos como uma campainha que se move como um
despertador pirado (que deve ser destruída toda vez), mesas móveis,
comida que dança, um cozinheiro que orienta um aprendiz de dentro do
fogão e da geladeira, um ratinho-homem que ajuda em várias
atividades, e até um “pianocktail”, um piano que faz as bebidas
de acordo com a nota musical e a intensidade com que ela é tocada.
Brincando com imagens, sons, músicas, palavras e tudo o que existe,
temos uma obra visual cheia de alegorias e todo um mundo em
movimento.
Mas tudo
isso é uma desculpa, não somente para criticar algumas questões da
vida, mas principalmente para mostrar uma história de amor, que vai
desde o seu surgimento meigo, interessante e alegre, até o seu
estado de sofrimento por conta de uma fatalidade. Colin (Romain
Duris) e Chloé (Audrey Tautou) se apaixonam e decidem viver juntos.
Tudo vai bem até que a moça fica com uma grave doença após
ingerir uma flor, que passa a crescer em seu pulmão. A situação em
si é tão trágica e rara, como vários aspectos do filme. A partir
desse fato, o filme ganha uma grande nebulosidade, as cores que eram
vivas se perdem, a escuridão aparece, as engenhocas divertidas vão
sumindo aos poucos, ou definhando junto com os personagens. O
personagem Nicolas, fiel amigo, cozinheiro e faz-tudo de Colin,
interpretado pelo carismático Omar Sy, de
“Intocáveis” (2011),
nos momentos de dor e sofrimento, reage com um envelhecimento
desnatural.
A
fotografia é fantástica, seja na primeira parte do filme (cores
vivas e muita alegria), seja na segunda (cores ausentes e tristeza),
onde tudo muda de tom e as pessoas são afetadas junto com o
ambiente. O amor faz renascer, mas também pode fazer desabar toda
uma vida, neste caso paulatinamente, mas com a sensação de
efemeridade, como uma espuma que vai sumindo com os dias, e como se
nos afundasse, enfim, num pântano sujo e escuro. Não deixa de ser
uma fábula fantástica sobre a vida, o amadurecimento, os momentos
bons e ruins e o preço do sentimento e do apego.
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Fontes:
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