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A Coleção Invisível (Brasil, 2012) |
A família
de Beto (Wladimir Brichta) é dona de uma tradicional loja de
antiguidades que está passando por uma crise financeira. Para
tentar solucionar este problema ele se lança numa viagem até a
cidade de Itajuípe, interior da Bahia, atrás de uma coleção
raríssima de gravuras que foi adquirida há 30 anos por um antigo
cliente, o colecionador Samir (Walmor Chagas). Entretanto, logo ao
chegar Beto enfrenta uma forte resistência da esposa dele e de sua
filha Saada (Ludmila Rosa). Dirigido por Bernard Attal.
Filme
baiano, sensível e bem contextualizado:
Baseado
no contro do austríaco Stefan Zweig (1881 – 1942), este é o
primeiro longa-metragem dirigido por Bernard Attal, francês
radicado na Bahia. Foi o último trabalho do ator Walmor Chagas no
cinema, que faleceu neste ano de 2013. A ideia de existir uma rara
coleção de gravuras de Cícero Dias (pintor do modernismo
brasileiro), na mão de um fazendeiro no sul da Bahia, assim como
todo o mistério que ronda a região e a reação da esposa e da
filha em não cooperarem com o protagonista Beto, já apresenta uma
característica de conto. Beto se mostra preocupado com o próprio
problema, mas encontra uma realidade dura na pequena cidade de
Itajuípe e, a partir dos acontecimentos, vai se transformando
gradativamente. Desde o momento em que chega a cidade, fica sabendo
da “bruxa”; essa praga famosa, a “vassoura de bruxa”, na
década de 1920, destruiu milhares de plantações de cacau na Bahia,
acabando com a economia de muitas cidades e levando pessoas da
fartura à pobreza, em pouco tempo. Este retrato da destruição que
a praga deixou na região, junto com o mistério da trama e a
transformação pessoal de Beto, tornam o filme algo bem
contextualizado, ao mesmo tempo simples e sensível. Vemos até a
luta que ocorre na atualidade, através da filha do casal,
interpretada por Ludmila Rosa, quando esta se mostra uma batalhadora
vendendo cacau que colhe da própria fazenda, e defendendo a natureza
das famosas queimadas que também caracterizam bem nossa realidade. O
filme ficou com o prêmio de júri popular no Festival de Gramado.
A trama
começa no ambiente urbano, onde Beto sofre a perda de amigos num
acidente de carro, na cidade grande de Salvador. Pressionado pela
sensação de culpa e pelas dificuldades financeiras, ele vê na
coleção de gravuras uma oportunidade boa de melhorar sua situação.
É a primeira vez que o baiano Vladimir Brichta atua como
protagonista dramático, e ele passa um realismo bacana em sua
interpretação, quando lembra de seus traumas e quando encara novas
vivências.
A atriz
Clarisse Abujamra passa a dor e a revolta da situação que vive,
como esposa do fazendeiro colecionador, em poucas cenas e poucas
falas, mas com uma atuação madura, tendo assim uma premiação
merecida (melhor atriz coadjuvante no Festival de Gramado). Mais
ainda o ator Walmor Chagas (melhor ator coadjuvante), que já estava
com a visão prejudicada durante as filmagens, mostrando um
fazendeiro já decadente que mantém uma paixão pela sua coleção
de gravuras de Cícero Dias. Porém temos outros personagens que
acrescentam bastante, como o motorista de táxi (Frank Meneses) e o
radialista da cidade (Paulo César Pereio), além de crianças
locais, que servem de guias para Beto. Representam bem a realidade
social da cidade e, o pouco convívio que Beto tem com eles, acaba
sendo um dos principais motivos de sua transformação.
Revelações
no final da trama nos pegam de surpresa, da mesma forma que pegam o
personagem, e assim podemos nos sentir tão transformados quanto ele.
O nome “invisível” do título remete à coleção (e
colecionador) esquecidos, assim como àquelas raras pessoas da
cidade, esquecidas (quase invisíveis para o mundo). Gente invisível,
gente esquecida. A trajetória de redescobrimento de Beto é o ponto
forte do filme, por ser bem construída e por deixar a mensagem de
que, muitas vezes, nos resta oferecer uma atitude humilde e uma
amizade. Oferecer um abraço para um garoto, no final no filme, tem
profundo significado, tão simples e tão raro que até causa
estranheza ao garoto.
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Fontes:
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