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Boyhood (EUA, 2014) |
O filme
conta a história de um casal de pais divorciados (Ethan Hawke e
Patricia Arquette) que tenta criar seu filho Mason (Ellar Coltrane).
A narrativa percorre a vida do menino durante um período de doze
anos, da infância à juventude, e analisa sua relação com os pais
conforme ele vai amadurecendo. Dirigido por Richard Linklater.
Mason
dos 6 aos 18:
A
inevitável passagem do tempo... passagem esta, carregada de momentos
fortes (bons ou ruins) e até alguns extraordinários, vividos por
poucos. Experiências que marcam o amadurecimento, o crescimento
humano. Filmado durante 12 anos (começou em 2002), este filme é um
retrato dessas experiências, da infância até a juventude, focada
na vida de um garoto. O diretor Richard Linklater manteve os mesmos
atores durante os 12 anos de produção, cada ano reunia a todos e
filmava um pouco mais.
Assim,
naturalidade e uma pequena sensação de documentário marcam o
filme. Mas a naturalidade não veio somente disso, os atores foram
excelentes, com destaque para os conhecidos Patricia Arquette e Ethan
Hawke, assim como o protagonista (ator novato) Ellar Coltrane e a sua
irmã no filme, a atriz Lorelei Linklater, todos extraordinários na
interpretação, parecendo mesmo uma família de verdade.
O filme
abre com uma música do Coldplay (“Yellow”) e contém outras
trilhas bacanas. As músicas em si ajudam o espectador a se situar no
tempo – para quem está preocupado com isso – junto com muitos
elementos da narrativa mencionando fatos históricos nos EUA, como a
candidatura de Obama. Outros, criativamente, nos situam mais
facilmente: o sucesso da série Harry Potter e qual livro está sendo
adaptado para os cinemas, os diálogos entre garotos que dizem quais
os 3 melhores filmes do ano (“Trovão Tropical”, “Batman” e
“Segurando as Pontas”, todos de 2008), um clipe de Lady Gaga e
até o advento das redes sociais. Numa conversa surge a
possibilidade de um novo filme de "Guerra nas Estrelas", o
que dá mais uma pista. Para quem
conseguir prestar atenção, o momento atual do filme é revelado
constantemente. A trama só corre para a frente, o tempo vai passando
e vamos percebendo, também, pela mudança física dos personagens,
juntamente com o seu amadurecimento. O mais importante, contudo, é
admirar como as mudanças na família são naturais, não assustam
muito, sendo cheias de momentos simples e singelos. Acostumamos com
as
diferenças na relação dos garotos com o pai, regada de diversões,
e com a mãe, com quem eles moram e com quem menos se divertem, já
que ela é uma batalhadora na vida profissional para sustentar os filhos e recordista em
relacionamentos que não dão certo.
Momentos
comuns, simples, como descobertas da infância, tédio da
adolescência, o primeiro amor, os conflitos em família, as mudanças
de escola e até os cortes de cabelo. Diálogos inteligentes e
realistas, que já é marca do diretor se lembrarmos de outros filmes
dele, como Antes do Amanhecer (“Before Sunrise”, 1995), na
verdade parte de uma trilogia que tem o Ethan Hawke discutindo a
relação. Amigos
de longa data, Richard Linklater e Ethan Hawke cresceram com pais
divorciados que trabalhavam no ramo de seguros, que parece ser a
carreira que o personagem de Ethan Hawke assume neste filme.
Do ponto
de vista cinematográfico, é raro, mas não totalmente original, se
lembrarmos do filme russo “Anna dos 6 aos 18”, um documentário
de 1994, onde o diretor Nikita Mikhalkov fez uma série de perguntas
a sua própria filha, de 1979, quando ela tinha seis anos, até 1991,
apresentando assim um interessante panorama dos jovens que cresceram
durante a derrocada da União Soviética. Por sinal, Lorelei
Linklater, que interpreta Samantha, é a própria filha de Richard
Linklater (e quase desistiu no meio das filmagens). Tanto ela,
quanto Ellar Coltrane estão formidáveis, principalmente este último
que, se não cumprisse bem seu papel, poderia levar o resultado do
filme por água abaixo, já que o foco é no seu personagem.
Sem
mudar o elenco, com sua fotografia e montagem impecáveis e criativo
na forma de nos mostrar a passagem do tempo e transformações dos
personagens, este é um forte candidato ao próximo Oscar. Sua
maratona de 2 horas e 45 minutos é regada de sensações.
O
tempo, as atitudes, a magia e as mudanças – SPOILER:
Em um momento, a mãe (Patricia Arquette) aconselha um
imigrante que trabalha numa obra de encanamento de sua casa (porque
ele se mostra inteligente, mesmo sem falar bem a língua local);
futuramente, ele vira um dos gerentes de uma grande restaurante, e
agradece a ela pelo conselho que o fez seguir o caminho dos estudos.
Em outra passagem, a existência de magia no mundo é
questionada pelo protagonista, quando criança. O garoto, mais velho,
recebe um conselho de sua professora, antes de entrar na faculdade,
quando ele se mostra empolgado e aterrorizado. A professora fala: “Será bom.
Loucamente bom. Gostei muito mais da faculdade do que da escola. Você
encontrará sua turma na faculdade, sabia? Você ficará bem. Tem um
bom coração, só precisa segui-lo. Boa sorte. Não esqueça de
passar fio dental.”. Na faculdade, ele chega encontrando
sua turma, fazendo amigos e conhecendo uma garota que combina com
ele. Na troca de sorriso entre os dois, um momento mágico, uma
perspectiva de que, de fato, tudo vai ficar bem e será loucamente
bom. A magia ainda existe nos momentos simples e singelos.
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Fontes: