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Coraline (EUA, 2008) |
O filme conta a história de
Coraline Jones, uma menina que se muda com sua família para uma enorme casa.
Entediada, a garota descobre uma porta secreta que dá para outra dimensão,
bastante similar a sua, só que tudo aparenta ser melhor. Porém, Caroline logo
descobre que há algo de errado com seus pais alternativos.
Dois mundos:
Bonecas de pano com botões
costurados no lugar dos olhos, circo de camundongos, gato preto, vizinhos
estranhos e portas que levam para outro mundo são algumas características dessa
animação em stop-motion, dirigida por Henry Selick. No stop-motion, criam-se
bonecos e coisas tangíveis que são fotografadas, de tal forma que o filme é
projetado com no mínimo 24 fotogramas por segundo.
O roteiro foi baseado na obra "Coraline",
de Neil Gaiman, lançada em 2002. Este autor, também conhecido pela série
Sandman, tem em boa parte de suas histórias uma influência de contos de fada,
com boas doses de suspense, deixando a coisa meio arrepiante. No caso de
Coraline, existe uma variação entre o mundo real e este outro que ela descobre,
dando à animação uma série de simbolismos, resultando num interessante drama
familiar, carregado de suspense e aventura. O universo infantil fica bem
retratado com essa possibilidade de uma outra família, mostrando como muitas
crianças estão insatisfeitas com a sua própria, desejando outros tipos de pais,
que possam sempre adivinhar e atender às suas vontades. Desta vez a animação
está bem direcionada aos adultos, principalmente pelo clima que a história tem.
Os botões nos olhos de cada personagem não só trazem um simbolismo, mas também criam
um clima aterrorizante.
Como característica nas obras de Neil
Gaiman, há uma preocupação importante com os detalhes, como por exemplo no
comportamento dos pais de Coraline: a mãe vive mal humorada, mas percebe-se que
ela sustenta a casa enquanto o pai vive o sonho de realização profissional (ela
usa um laptop na sala, ele um computador ultrapassado no quarto, e uma das
poucas vezes que a família está junta é na hora do jantar). Com os pais sempre
ocupados, a insatisfação reflete na vida da filha, que também está com saudade de
seus amigos (repare no porta-retrato), e assim ela fica encantada com a boa
recepção do outro lado da porta secreta, e resolve explorar este novo mundo. Outro
detalhe é que a casa nova é chamada de “castelo rosa”, sendo que no outro mundo
acaba se tornando uma espécie de castelo dos horrores.
Outros personagens colaboram com
a trama, como o estranho Wybie, que ganha a antipatia imediata de Coraline (facilmente
pensamos mal de alguém que cruza nosso caminho). Os animais são interessantes e
divertidos, como o gato preto e os cachorros das duas velhinhas - que já foram
atrizes, assim como os camundongos do “grande” Bobinsky, um treinador de circo falido
e sonhador. A princípio, podemos ser levados a pensar que são pessoas
excêntricas demais, porém com o aprofundar da trama, criamos uma simpatia para
com eles, que transbordam solidão e toda uma tristeza, nos remetendo à
realidade de muita gente. Ninguém escolhe os vizinhos que vai ter, porém todos podemos
conviver bem, todos somos humanos, falhos, e precisamos ou um dia precisaremos de
afeto e da paciência dos outros.
Neil Gaiman afirmou que sua
motivação ao escrever o livro era “expressar que, certas vezes, as pessoas que
nos amam podem não nos dar toda a atenção que precisamos, e certas vezes
aqueles que nos dão toda a atenção necessária podem não nos amar de maneira
saudável”. Coraline, após viver aquele sonho que se transforma em pesadelo, percebe
que as pessoas que aparentemente não eram tão encantadoras, eram as que a
estavam protegendo, e que de fato, a amavam.
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Fontes:
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