Neste mês de outubro de 2012 o
meu blog faz 1 ano. Fico contente em ter cumprido a meta pessoal de postar 3
filmes por mês, não somente indicando, mas também pesquisando bastante para
fazer uma postagem com conteúdo, incluindo - da forma mais clara que consegui -
a minha visão sobre cada filme. Como pode-se perceber, avalio com duas
categorias: filmes que gostei (recebem o selo da mãozinha “Eu Indico”) e filmes
que gostei demais (recebe o selo da taça “Favoritos”). É um trabalho gratificante.
Tive a oportunidade de
assistir ao filme "La vida útil - Um conto de cinema" (Uruguai,
2010), em uma de minhas salas de cinema preferidas (o Cine Vivo, no Shopping
Paseo Itaigara). Dirigido por Federico Veiroj, o filme mostra um empregado da
Cinemateca de Montevideo que se vê obrigado a reajustar sua vida depois de 25
anos trabalhando no lugar. Me chamou atenção uma cena onde o diretor da
Cinemateca, em uma entrevista de rádio, faz um discurso sobre a formação do
espectador. Acredito que ver a esta cena foi o meu presente de 1 ano de blog e, reproduzo
aqui, toda a fala do personagem Martínez:
“Vejamos... as pessoas acreditam que, quem sabe
de cinema, é alguém que é capaz de recitar de memória a carreira, a trajetória
de um ator, um diretor, um produtor. Se confunde nesses casos a erudição, o
dicionário com os conteúdos. É provável que sim, que seja importante saber a
trajetória dos grandes autores cinematográficos, mas não como um exercício de
memória... ou de dados supérfluos. Essa é a primeira coisa que, me parece, há
que distinguir. O cinema não é uma coleção de figurinhas, não é uma coleção de
dados. O dado tende a ocultar a realidade. O dado é, em definitivo, consolidar,
cristalizar uma informação e nada mais. É mais difícil de compreender como se
produz o enriquecimento do espectador. Produz-se com certeza através do acesso
e do assistir a obras cinematográficas, obras criativas. Mas como se explicam
as ressonâncias sobre um espectador? Não sei como chamá-lo... se um espectador
formado (não creio que seja esse exatamente o termo)... um espectador alerta...
e sensível. Sei lá... Vejamos então "Alexander Nevsky", filme
de Sergei Eisenstein com música de Sergei Prokofiev: o que há aí é um exercício
que aparentemente é frio e formal, onde as tomadas não têm movimento de câmera e
parece haver movimento, e onde há seis ou sete linhas melódicas, que
correspondem à música de Shostakovich, de Prokofiev, e a relação entre a
composição de cada imagem, a tal ponto que, se sobrepormos a partitura e os
movimentos da partitura e as imagens alinhadas, uma atrás da outra, o movimento
das imagens são coincidentes. Isto para que? Isto para explicar como e porque
se constitui o sentido esmagador que tem toda essa sequência sobre o
espectador. Está explicado aí. Mas quando entram os pífanos, por exemplo, aí o
que há é uma relação de quem são os que estão nesse momento ocupando a imagem e
a atenção do espectador. Sublinham e elevam essa atenção. Tudo isso não é
perceptível a uma primeira vista, como não é perceptível a uma primeira vista toda
a estrutura do "Cidadão Kane", de Orson Welles. Tampouco é erudição
tudo isso, senão simplesmente chamar a atenção sobre certas coisas que são a
estrutura e a forma da própria obra cinematográfica, como há em um romance, em
uma obra plástica, em uma composição musical. Basicamente é isso. Ou seja, um
filme não é o contar um argumento, não é o argumento senão o que ele motiva. Determinadas
expressões cinematográficas que são as que, em definitivo, comovem ou não ao
espectador.”
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