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Eu indico |
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Hearts in Atlantis (EUA, 2001) |
Após a
morte de um amigo, Bob Garfield visita sua cidade quando era uma
criança e começa a relembrar seu passado. Nessa época, quando
tinha apenas 11 anos, apareceu em sua vida um senhor misterioso
chamado Ted Brautigan. Entretanto, é com a amizade e atenção de
Ted que Bobby aprende a ter uma outra visão de seu falecido pai, bem
como as possibilidades que a vida lhe oferecia na época. Escrito por
William Goldman e dirigido por Scott Hicks.
Corações
na Atlântida:
Stephen
King não somente escreve livros e contos de terror, mas também
possui suas histórias dramáticas. Este filme tem como base dois
contos do livro “Hearts in Atlantis”, os contos “Low Men in
Yellow Coats” e “Heavenly Shades of Night are Falling”. A
história tem suas pitadas de ficção e suspense, quando trata da
questão da paranormalidade, mas é essencialmente um bom drama.
Existem outros bons exemplos de filmes inspirados em suas obras, que
não são de terror: “Conta Comigo” (“Stand by Me”, 1986), “À
Espera de um Milagre” (“The Green Mile”, 1999) e meu preferido
“Um Sonho de Liberdade” (“The Shawshank Redemption”, 1994). A
amizade entre protagonistas é um tema em comum entre esses filmes,
assim comum uma pequena dose de suspense ou ficção.
A amizade
entre o garoto Bobby Garfield (Anton Yelchin) e um estranho senhor,
Ted Brautigan (Anthony Hopkins), que chega à pacata cidade do
primeiro, é a chave da trama. O garoto sente a falta de um pai que
mal conheceu e isso fica mais forte quando sua mãe se preocupa com
futilidades e somente com si mesma, enquanto que o personagem de
Hopkins se mostra uma pessoa que teve uma infância sem muitos
amigos, provavelmente por conta de seu dom que faz com que o governo
fique à sua procura para se aproveitar dos “poderes” e combater
comunistas (quase que uma lenda urbana da época, anos 60). A
participação de Anthony Hopkins, como de costume, é um
diferencial, tão bom que este parece mesmo não enxergar bem, e
percebemos isso antes do personagem assumir que possui a visão
prejudicada.
O garoto
fica fascinado inicialmente com o aspecto enigmático de Ted,
protegendo seu grande segredo, mas é o cuidado e as orientações do
senhor que vão causar ao garoto uma verdadeira admiração,
levando-o a perceber detalhes ao seu redor, principalmente nas
questões pessoais. Ted dá a dica a Bobby para aproveitar aquele
verão com seus inseparáveis amigos, a experimentar um verdadeiro
amor de infância e a conhecer características boas de seu falecido
pai. Também aprende a perdoar e a repassar a bondade, como visto nas
últimas cenas, onde ele entrega à filha de Carol Gerber a foto da
mãe da garota, ainda pequena, o que deve trazer sensações positivas da filha
em relação à mãe que ela não deve ter conhecido bem. A atriz
Mika Boorem interpreta mãe e filha.
Tudo se
passa rapidamente pelas lembranças do bem-sucedido fotógrafo Bob
(David Morse), quando visita sua antiga cidade. O diretor Scott Hicks
mencionou que o “11″, marcado na janela de Bobby, significa que
todas as lembranças se passaram em questão de segundos na mente do
personagem adulto. Isso fica evidente por causa da condensação na
janela que evapora. Esses detalhes especiais no filme são reflexo do
roteiro escrito pelo veterano William Goldman, autor de roteiros
consagrados como “Butch Cassidy” (1969), “Todos os Homens do
Presidente” (1976) e “Chaplin” (1992). O monólogo de Anthony
Hopkins sobre o jogador de futebol que retorna da aposentadoria é do
romance Um Passe de Mágica (Magic), do próprio William Goldman, que
também escreveu o roteiro da adaptação de seu romance, no qual
Hopkins também foi protagonista.
Com uma
dose de sensibilidade, o diretor Scott Hicks (do excelente “Shine:
Brilhante”, de 1996), mostra a trajetória deste menino de 11 anos e a forma
como ele projeta no carismático Ted a presença de um pai que mal
conheceu. O filme também usa músicas consagradas dos anos 60, como
“Only You”, “Smoke Gets in Your Eyes” e “The Twist”.
“Às
vezes, quando somos pequenos, temos momentos de tal alegria que
achamos que estamos vivendo num lugar tão mágico como deve ter sido
Atlântida… depois crescemos e os nossos corações se partem em
dois.”
“Eu
não trocaria nem um minuto. Por nada nesse mundo.”
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Fontes: