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L'Atalante (França, 1934) |
Jean (Jean Dasté), jovem capitão de uma barcaça a motor chamada de Atalante, casa-se com Juliette (Dita Parlo), filha de camponeses. Mal a cerimônia acaba e os dois vão viver embarcados, navegando pelos canais de Paris. Há uma crise entre os dois, Juliette foge para a vida noturna parisiense, e Jean mergulha numa profunda depressão causada pela ausência da amada. O velho lobo do mar Jules (Michel Simon), ajudante de Jean, percebe a situação e sai em busca de Juliette. Dirigido por Jean Vigo.
Atalante:
Apesar de
ter vivido menos de 30 anos e dirigido poucos filmes, Jean Vigo é
considerado um cineasta que pensava bem à frente do seu tempo.
Dirigiu dois filmes que marcaram o cinema francês e mundial: Zero de
conduta (Zéro de Conduite, 1933) e O Atalante (L'Atalante, 1934).
Este último teve que passar por restaurações para ficar disponível
nos dias de hoje. Desde sua criação em 1934,
se submeteu a diversas mutilações
e tentativas de restauração,
e
a versão
resultante parece que ficou bem fiel à original.
Neste
filme, podemos conferir uma grande realização do diretor, que sai
da mesmice de romances clássicos para deixar sua marca: realismo,
naturalidade. Na trama, um casal com uma forte ligação física, vão
passar a lua-de-mel em um pequeno espaço (interior do barco
denominado Atalante), já dando uma ideia de que uma relação pode
acabar com a liberdade do outro. Logo a moça é seduzida pela cidade
grande e acaba fugindo para descobrir os prazeres desta vida. Aqui
temos a presença marcante do ator Michel Simon, como o père Jules
que, junto com seu assistente, fará de tudo para encontrar a garota
e restabelecer o relacionamento dos dois. Estes dois empregados que
cuidam da embarcação, a princípio se mostram atrapalhados, como
pode ser visto na recepção do casal no barco; porém, diante de uma
situação séria, mostram seu bom coração e maturidade para ajudar
o casal. O personagem Jules, além de bem interpretado, surpreende
numa cena onde tira a camisa e mostra várias tatuagens exóticas no
corpo, e seu quarto cheio de objetos diferenciados também mostra um
pouco da sua personalidade, excentricidade e maturidade.
O
ambiente um pouco sombrio do filme casa com a temática principal
apresentada (o casamento), forma pela qual o diretor decidiu se
expressar. A difícil situação econômica e social da década de 30
também é mostrada numa cena onde Juliette tem que encarar uma fila
de desempregados nas ruas de Paris. Auxiliado pela fotografia de
Boris Kaufman com seus tons de iluminação escura e nebulosa, ainda
mais com o fato de ser um filme em preto e branco, culmina com a
atmosfera da cidade grande, pessoas perdidas e desiludidas, sem rumo
e sem opções.
A
felicidade parece, a princípio, se resumir aos prazeres físicos e a
abundância, assim Juliette tenta se desfazer da submissão do marido
autoritário. Aceitar a realidade e libertar o outro depois de sentir
o verdadeiro amor é cruel para Jean. Vemos um pouco disso numa cena
que mistura fantasia e realidade, quando Juliette diz acreditar que o
rosto da pessoa amada pode ser visto debaixo d’água, e
posteriormente Jean enxerga Juliette embaixo d’água, tendo assim
uma visão do diretor sobre o verdadeiro amor. Apesar da versão
recuperada ter alguns problemas com o som, a trilha de Maurice
Jaubert, compositor de Jean Vigo e Marcel Carné, mostra uma das
primeiras tentativas bem sucedidas de usar efeitos sonoros além da
música.
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Fontes:
http://www.revistacinetica.com.br/oatalante.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Vigo#Filmografia