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Toutes nos Envies (França, 2011) |
Casada e
mãe de dois filhos, Claire (Marie Gillain), de 32 anos, é juíza na
cidade de Lyon, na França. Seu agitado cotidiano sofre um forte
abalo: ela descobre que tem um tumor no cérebro e poucos meses de
vida. Claire decide esconder sua morte iminente da família e ajudar
Céline (Amandine Dewasmes), uma moça que pediu dinheiro emprestado
a uma financeira e, sem condições de pagar, está sendo processada.
Para isso, encontra a ajuda do colega de profissão Stéphane
(Vincent Lindon). Dirigido por Philippe Lioret.
Desejamos...
Desejamos
muitas coisas. Amor, saúde, justiça, são apenas alguns exemplos. O
diretor Philippe Lioret assume um filme que é coerente e bastante
maduro na abordagem de temas como estes. Na trama, a jovem juíza
Claire tem câncer irreversível. O filme não fica focado nas cenas
de sofrimento, vai muito além e aborda questões diversas, tendo a
justiça um dos pontos centrais. É um excelente filme de tribunal e
de relações entre pessoas. Interpretado por Vincent Lindon,
Stéphane, juiz veterano e desencantado com a profissão, adquire
rapidamente um afeto muito forte pela colega, talvez por ter se
inspirado com o comprometimento e sacrifício pessoal dela, mesmo na
situação delicada em que a mesma se encontra. A similaridade de
ambos, indignados com a situação de Céline, e em busca da
verdadeira justiça, acaba aproximando os dois nos últimos dias de
vida de Claire. Isso fica claro no cuidado que ele passa a ter com
ela e quando a presenteia com o símbolo da justiça. O significado
dessa busca pela justiça pode dar um sentido a mais na vida da
protagonista que possui pouco tempo de vida, e ao invés de se
entregar a um tratamento invasivo, que só prolongaria um pouco sua
vida e ainda com sofrimento, ela se entrega ao seu trabalho e a este
ideal. Ambos os personagens são casados e felizes com suas famílias
e a vida em família também é abordada no filme de forma bem
singela, assim como a forte relação entre duas pessoas que a
princípio eram somente colegas de profissão, uma jovem e um mais
velho e maduro que se confundem entre seus ideais e seus sentimentos
um pelo outro.
A justiça
é discutida pelas suas facetas do que é justo e do que, de fato, é
legal. A briga entre empresas grandes e pessoas desfavorecidas pode
ter um resultado raro, a favor dessas últimas. O filme fala também
de amizade, solidariedade, compaixão pelo outro. As cenas são
delicadas em alguns momentos, como no carinho entre os casais, ou
como na cena do lago, mas também fortes em outros. Entre a doença
terminal e a busca pela justiça, nem sabemos se a personagem vai
viver o suficiente para saber o resultado de sua batalha, pois vemos
o quanto burocrática é a justiça, enquanto o tempo é um fator
determinante para a protagonista. A narrativa é interessante quando
nos mostra a passagem do tempo, pois inicia numa segunda, 13 de
setembro, e vai até uma sexta, 14 de janeiro. Muitos detalhes podem
ser detectados no filme, como quando Claire presenteia Céline com o
mesmo perfume que sempre usou, o mesmo que o seu marido Christophe
adora sentir nos seios da esposa. Ela mesma faz Céline usar o
perfume nos seios, mesmo sabendo que a mesma viverá mais do que ela.
Tudo o que desejamos está lá, tratado com realismo e mostrando
algumas lições de humanidade.
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