|
O Homem Duplicado (Canadá/Espanha, 2013) |
Ao
assistir um filme, Adam (Jake Gyllenhaal), um professor
universitário, se dá conta que um dos atores é idêntico a ele.
Intrigado com a estranha coincidência, ele passa a perseguir
obsessivamente este homem a fim de desvendar o mistério. Dirigido
por Denis Villeneuve.
Inimigo:
Adaptar
um romance de José Saramago, com uma temática voltada para a
identidade e cheio de metáforas, não deve ser um trabalho simples.
Mas o diretor canadense Denis Villeneuve fez um ótimo filme que pode
ser acrescentado aos seus excelentes Incêndios (2010) e Os Suspeitos
(“Prisoners”, 2013). Este último tem uma postagem no blog:
http://eueatelona.blogspot.com.br/2013/10/os-suspeitos-prisoners-2013.html.
A partir
da premissa acima, o filme aborda várias situações e cria uma
ótima atmosfera de suspense. A noção de perda da identidade
individual, tema central, é focada numa pessoa, interpretada por
Jake Gyllenhaal em um de seus melhores papéis, este que mostrou
também, no filme "Os Suspeitos", grande interpretação e
que ainda é a minha preferida. Quando vemos os dois personagens que
ele interpreta em O Homem Duplicado, percebemos novamente a
maturidade de sua atuação, fazendo com que enxerguemos mesmo, nos
detalhes, duas pessoas diferentes.
David
Lynch é outro diretor que possui filmes parecidos e trata também
dessa questão da identidade. Rapidamente me recordei de dois filmes
dele que gostei bastante e, acreditem, foram ainda mais difíceis de
entender e interpretar: A Estrada Perdida (1997) e Cidade dos Sonhos
(“Mulholland Drive”, 2001). Essa temática foi tratada em muitos
filmes, mas poucos deram essa profundidade metafórica e criativa que
Villeneuve e Lynch conseguiram.
Com muita
metáfora, mas também bastante normal em termos de situações que
qualquer um poderia enfrentar, o filme pode nos confundir a ponto de
demorarmos a perceber a intenção da trama, em algum ponto podemos
confundir qual dos dois personagens está na cena em questão, embora
na maioria das vezes o diretor faz questão de mostrar quem está
ali. Pela personalidade forte e até óbvia de cada um, vamos
acompanhando bem as cenas, mas para chegar a uma explicação,
inclusive depois do desfecho, não posso garantir que seja para
todos. Neste ponto, o site Cinedica revelou uma explicação
embasada, mas não li a obra para saber se está de acordo. Reproduzo
no final dessa postagem.
Seriam
gêmeos perdidos? Um erro de Deus ao criar a mesma pessoa duas vezes
em contextos diferentes no mundo? A mesma pessoa com alucinação ou
esquizofrenia? E que tal um clone ou até o encontro com o seu duplo
de outra dimensão paralela? E que tal uma viagem no tempo permitindo
o encontro dos dois? Independente da ansiedade em desvendar este
mistério, já é por si só interessante presenciar as cenas de
interação entre os dois e a transformação que vão passando a
medida que o clímax se aproxima. Detalhes como a chave, os sonhos,
as aranhas e o papel relevante dos personagens coadjuvantes são
utilizados para dar mais pistas, conteúdo e coesão com a proposta
do escritor ou diretor. Também temos frases que se encaixam com a
proposta, tais como “A história se repete, a primeira vez como
tragédia e a segunda como farsa” ou "O caos é uma ordem por
decifrar", assim como a trilha sonora densa e a fotografia com
um visual bem trabalhado da cidade.
Adam e
Anthony, ao se deparar com esta realidade duplicada, mostrarão seus
desejos por respostas, seus conflitos e suas ações surpreendentes,
diante de respostas que não são simples. Chegam a ser quase como
inimigos, quando claramente percebemos que ambos estão insatisfeitos
com sua vida e isso vai influir em suas ações independente do
impacto no outro. Mas isto é só uma entra as várias dimensões
desta teia de aranha criada por Saramago e Villeneuve.
__________________________________
Fontes:
SPOILER
– Explicação no site Cinedica:
A
história acompanha Adam, um professor que vive em uma monótona
rotina. Tudo muda quando ele recebe uma indicação de filme de um
colega de trabalho. O homem acaba alugando o filme e o assiste,
descobrindo algo curioso na fita. Um dos atores era idêntico a ele.
Assustado e ao mesmo tempo curioso, Adam busca pelo homem na internet
e descobre seu nome, Anthony, e sua curiosidade o faz procurar o
ator.
Esse
encontro entre os dois cria um verdadeiro caos. E essa tempestade
surge na verdade dentro da cabeça do próprio Adam. Nunca houve dois
deles, Anthony na realidade não existe, mas representa o lado mau de
Adam, que possui um emprego estável, e mesmo com alguns problemas
(como sua mania por controle), ele era um homem bom. Ao contrário de
Anthony, o lado ruim do homem que insistia na carreira de ator, mesmo
depois dela não ter dado certo, e tinha uma compulsão por sexo além
de um medo enorme por compromisso, o que o fazia trair sua
companheira.
Portanto,
no momento em que Adam descobre da existência do ator (que era ele
mesmo), ele tem seus dois lados duelando dentro de sua própria
mente. E fica nítido que ele sofria de algum distúrbio psicológico.
O final, chocante e surpreendente, vem através daquela enorme aranha
mostrar que após Adam ter se livrado de seu lado mau, no acidente
fictício em sua mente, e ter encontrado a chave para o clube de
sexo, todo o processo estava se repetindo, como ele mesmo cita no
início do filme, em uma aula (que as coisas são um ciclo e se
repetem duas vezes... a primeira vez é uma tragédia e a segunda uma
farsa cômica). Então após abrir a carta, com a chave dentro, Adam
volta a cair na tentação de trair a mulher, por medo de
comprometimento com ela e com a família que eles estavam gerando. E
a aranha que surge no final, representa simbologicamente o sexo
feminino, sendo a esposa dele a que surge no quarto. E a esposa,
assim como a aranha na cena inicial que esta prestes a ser esmagada,
temia ser esmagada pelo marido, temia que seu relacionamento fosse
esmagado.