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Anna: Ot shesti do vosemnadtsati (Rússia, 1993) |
O diretor
Nikita Mikhalkov mostra a evolução de sua filha Anna dos 6 aos 18
anos – e, paralelamente, a história da União Soviética durante
esse período. Uma vez por ano, ao longo de 12 anos, ele filma a
filha e lhe pergunta o que ela mais ama, o que ela mais odeia, o que
ela teme, etc, gerando um documentário sobre os últimos anos do
império soviético até a sua explosão.
13
anos de Rússia:
Foram 13 anos para completar este documentário. O
diretor Nikita Mikhalkov e sua filha Anna são os personagens reais
que acompanhamos através de trechos rodados ao longo deste tempo,
tempo no qual ocorreu o fim da União Soviética (de 1980 a 1991). A
cada ano quem está à frente da câmera é a sua filha, desde a
infância até a juventude, e através de suas respostas e dos
comentários do diretor, se constrói uma narrativa bem realista
sobre a ex-União Soviética, com uma crítica severa à própria
nação.
Projeto pessoal de grande valor e originalidade,
considerando também que a filmagem foi clandestina, os rolos de
filmes e equipamentos eram obtidos no mercado negro e a edição
tinha algumas limitações, mas o resultado é grande para um
documentário. A narrativa nem fica cansativa. Para quem gosta de
História, é essencial.
Durante a narrativa, o diretor nos apresenta um de seus
filmes anteriores, no qual um garoto vivencia o velho império russo,
servindo então de comparativo com a vida real de sua filha Anna, que
vive parte do império soviético. Anna começa sendo entrevistada
numa época de grande censura, e logo aos 7 dá uma resposta
interessante ao questionamento “o que você mais deseja?”,
dizendo: “conseguir dar boas respostas”. Já em outro momento ela
responde sobre o que mais odeia: “discussões em família, ou de
qualquer tipo... uma discussão pode levar o mundo à guerra”. O
filme passa também pela época da “Perestroika”, uma política
introduzida na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas por
Mikhail Gorbachev, em 1985, dando uma ideia de reestruturação
(abertura) econômica. A reação da menina acaba sempre espelhando a
realidade do país.
Apoiado por Sergei Miroshnichenko no roteiro, Nikita
Mikhalkov explora muitas cenas com os encontros oficiais dos líderes
comunistas, muita referência a Lênin, Stálin, Brejnev, Chernenko, Gorbachev, Yeltsin, entre outros, mostrando as falhas, incapacidades
ou descaso deles, mesmo diante das crises que assolavam a economia. É
interessante perceber que a Rússia de hoje é fruto desta conjuntura
histórica e que gera tantas decepções, podemos até conferir isso em outro filme
russo, do diretor Andrey Zvyagintsev, favorito ao prêmio do Oscar
desde ano, para a categoria de melhor filme estrangeiro: Leviatã
(2014), que já levou o Globo de Ouro. Este é um drama que trás uma
visão atual e sem filtros da corrupção e injustiça em torno do
Estado Russo.
Muito
pertinente, também, logo na introdução, a clareza em mostrar que o
país perdeu
a ligação com Deus. Em muitos momentos as palavras do diretor
expressam sua decepção e dão um grande significado ao contexto,
como
na passagem abaixo:
“Nosso
potencial aumentou muito, e
portanto,
aparentemente, nosso
conhecimento também.
Contudo,
a ausência de Deus tornou
este potencial
e este conhecimento
destrutivos.
Perdemos o respeito pela vida e pela morte.
Transformamos a vida em seriado de TV, a morte em jogo
de computador
e a aquisição em destruição.”
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Fontes: