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Eu indico |
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Perfect Sense (Reino Unido, 2011) |
Susan
(Eva Green) é uma estudiosa epidemiologista em crise com o amor. Ao
conhecer o sedutor Michael (Ewan McGregor), um talentoso chefe de
cozinha, tenta resistir, mas logo acaba rendendo-se. No entanto,
enquanto a paixão do casal aumenta, uma misteriosa pandemia se
espalha pelo mundo. Dirigido por David Mackenzie.
Sentidos
e
sentimentos:
Ao se julgar um filme pela capa e, neste caso, também
pelo título, muitos desistiriam de assisti-lo por achar que se trata
de mais um filme meramente romântico. Apesar de que, sim, existe um
romance, uma relação entre duas pessoas que vai crescendo, o amor e
a paixão florescendo, a busca por alguém para dividir a vida;
porém, aqui, o romance é importante, mas não primário. Ao mesmo
tempo em que nosso casal principal vai crescendo como parceiros, o
mundo inteiro enfrente uma epidemia curiosa. Após um ataque
incontrolável de choro, as pessoas perdem totalmente o sentido do
olfato. E isso é só o começo...
A premissa pode lembrar algumas histórias do renomado
escritor José Saramago, como “Ensaio sobre a cegueira”, que teve
um filme lançado em 2008. Mas, ao contrário da reação maléfica
que a humanidade mostra diante da perda da visão nesta história de
Saramago, aqui, neste “Sentidos do Amor”, temos uma linda lição
de como o ser humano pode se adaptar aos obstáculos e limitações
que a vida pode trazer, mesmo quando isso envolve algo no qual ele
está acostumado, como nossos sentidos. Claro que o filme não é
romântico e otimista demais a ponto de só mostrar boas reações,
até porque vemos como as pessoas se dividem em dois grupos: os que
reagem com violência e maldade, destruindo; e os que se adaptam e
servem de exemplo para os demais. Umas das cenas mais belas é quando
um grupo de jovens está numa mesa de restaurante, conversando em
libras e sorrindo, depois da perda da audição. A vida continua.
Perdeu-se o cheiro, o sabor, mas podemos contemplar o designer, as
cores e os formatos. O ambiente do restaurante foi propício para
mostrar essas mudanças. As pessoas, mesmo sem sentir o sabor da
comida, podem sentir o ambiente, as amizades, as vibrações! Até os
críticos gastronômicos continuaram o seu trabalho.
O
filme é um romance que vem junto com um ensaio sobre a humanidade.
Ela se
adapta de
uma forma incrível à nova realidade.
Tem
uma
narração belíssima e,
em algum momento, ela reforça:
“eles voltaram
a fazer
aquilo que sabiam fazer”, porque precisavam. Também
levanta a questão de que nossas
memórias estão ligadas a cheiros. E
ainda temos esse momento anterior a
perda de um dos sentidos, como
uma raiva incontrolável que faz com que digamos tudo aquilo que
guardávamos de rancor, nos deixando sinceros demais e, ao mesmo
tempo, tão capazes de machucar os sentimentos do outro, já que
nossa opinião vem com um machismo ou feminismo internalizados e
ideias preconcebidas.
A
cena final do filme é linda...
segue
a linha apocalíptica,
mas deixa
uma mensagem incrivelmente sensível e, claro, é romântica no
melhor sentido dessa palavra. E a estratégia das cenas
estarem
alinhadas com as
falhas nos
sentidos ficou
perfeita, pois assim a gente presencia
a
situação de forma mais realista.
“Mas antes os momentos de luz.
Uma hesitação compartilhada do lóbulo temporal.
Uma apreciação profunda do que significa estar vivo.
Mas, acima de tudo, a vontade de alcançar o outro.
De oferecer calor.
Compreensão.
Aceitação.
Perdão.
Amor.
Está escuro agora, mas sentem a respiração um do
outro...
e sabem tudo que precisam saber.”
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Fontes: