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Eu indico |
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Stranger on the Third Floor (EUA, 1940) |
O
repórter Mike Ward (John McGuire) é peça chave de uma
investigação, única pessoa a presenciar o acusado, Joe, no local
onde o dono de um restaurante foi encontrado morto. Não há mais
provas e o seu depoimento acaba condenando Joe à morte. Mike,
instigado pela noiva, Jane (Margaret Tallichet), passa a refletir
sobre o assunto e iniciar um processo de arrependimento.
Dirigido por Boris Ingster.
E
que Deus tenha piedade de sua alma:
A
condenação que é seguida da frase acima é o estopim para a trama
deste filme, que segue aquela ideia: “se arrependimento
matasse...”. O
repórter,
arrependido por prejudicar alguém, tenta se justificar consigo
mesmo
e até desfazer este mal, mas
acaba se envolvendo numa situação complicada e
se depara com uma figura misteriosa (Peter Lorre).
A consciência de Mike pesa, ele entra em delírio e tem algumas
alucinações. Seus sonhos refletem seu sentimento de culpa e a sua
narração passa uma boa ideia do que está se
passando
em sua consciência.
Neste filme, fica clara a crítica à falha do sistema
jurídico, que escancara numa cena mostrando um jurado que pegou no
sono, no meio do julgamento, e um juiz que teve que ser chamado a
atenção para dar um sermão neste jurado.
Este é um filme bom e curto, possui somente 63 minutos
de duração e não precisa, então, de nenhuma enrolação para
passar toda sua ideia, prender bem a atenção e apresentar um
fechamento legal, apesar de que os filmes neste estilo normalmente
não terminam com um final feliz.
Quando lançado, recebeu críticas negativas do New York
Times, da Variety. A principal alegação foi a comparação com
filmes russos e franceses. Anos depois, no entanto, foi considerado o
primeiro filme do cinema noir (mais abaixo uma explicação deste
estilo de filme).
Temos a feliz presença do ator Peter Lorre, na pele da
figura misteriosa, que se tornou figura única no cinema antigo
(1929 a 1964), principalmente no papel de vilão, dada sua aparência
e com seus “olhos esbugalhados”. Mais uma vez, ele aparece em
poucas cenas, mas conquista o público. De fato, sua aparência se
tornou a base para o título deste filme no Brasil. O ator, de origem
húngara e ascendência judia, trabalhou em “Casablanca” (1942),
“Relíquia Macabra” (1941) e “M” (1931, dirigido por Fritz
Lang). Fez também o papel do vilão Le Chiffre, no telefilme
“Cassino Royale”, de 1954, sobre o Agente James Bond.
Estilo
noir:
A atmosfera do filme o classifica como um thriller
psicológico, no estilo noir. Para quem não sabe, este estilo foi
inventado por críticos franceses, e muitos filmes o seguiram como um
repúdio aos primeiros filmes de comédia romântica que perderam
força após as duas grandes guerras (que influenciaram muito o
estilo noir). O estilo, predominante nos anos 40 e 50, é carregado
de ambientes escuros, com muito jogo de sombras, personagens
desiludidos, narração em off, toda a atmosfera do submundo do crime
e da justiça falha e, em muitos casos, uma personagem tipo “dama
fatal”. Imperou nos filmes franceses e americanos após a Segunda
Guerra. Ou seja, noir é um estilo, não é um gênero. Gênero pode
ser: comédia, drama, ação, ficção. Então podemos ter um drama
noir, terror noir, assim como uma ficção noir. Por exemplo, o
grande clássico de ficção “O Dia em que a Terra Parou (1951)”,
dirigido por Robert Wise, chegou a ser considerado por alguns
críticos como um filme noir.
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Fontes: