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Eu indico |
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Paris, Texas (França / Alemanha / EUA) |
Travis (Harry Dean Stanton) é um homem que, depois de
estar desaparecido por mais de quatro anos, é reencontrado pelo
irmão Walt num hospital na região desértica do Texas, próximo à
fronteira com o México. Maltrapilho e com amnésia, é levado por
Walt para a sua casa em Los Angeles, onde reencontra Hunter, seu
filho de sete anos que foi abandonado pela mãe, Jane (Nastassja
Kinski). Inicialmente estranhos, Travis e Hunter iniciam uma
reaproximação que culmina numa grande amizade e também no desejo
secreto de reencontrar Jane e reconstruir sua verdadeira família.
Dirigido por Wim Wenders.
Travis,
Jane e Hunter:
Nem
só de blockbusters o cinema viveu nos anos 80. Este aqui é um drama
familiar de peso, provavelmente a maior realização de Wim Wenders.
Possui um formato com momentos que lembra os road movies e é uma
produção conjunta entre a França e Alemanha, porém foi filmado
nos Estados Unidos.
Parecem
ser características de Win Wenders: coprodução entre dois países
- como feito no documentário O Sal da Terra (2014), coprodução de
Brasil e França – e uma fotografia maravilhosa – como neste último e em Asas
do Desejo (1987).
Neste Paris, Texas, temos tomadas bem abertas, focando a
região desolada do
oeste americano e passando
sensações
de perdição, infinito,
solidão.
Já
as tomadas
fechadas
buscaram
compor, principalmente,
os momentos da
relação entre
os personagens, principalmente com questões familiares.
A
Paris do filme não é a cidade luz, na França. Mas sim um vilarejo,
onde o protagonista adquiriu
um terreno, no Texas. O velho desejo de viver o sonho americano, com uma
família feliz, é provocado através da visão que temos de duas
famílias: a de Travis, que foi quebrada com a separação e abandono
do filho, e a de seu irmão e sua esposa, que passaram a cuidar do
filho de Travis e, dessa forma, passam a sentir pela possível perda
do garoto, já que o filme lida bastante com a questão da
reaproximação de pai e filho (Travis e Hunter). Essa retomada da
relação é mostrada de forma incrível, tudo ao seu tempo,
considerando que o filho mal se lembrava do pai. É algo difícil de
explicar, meio fantástico. Como qualquer laço que se retoma, leva o
seu tempo e se ajeita, se for da vontade de ambos e da permissão de
Deus. O laço é forte, mágico, então os dois se reaproximam e
percebemos que existe essa energia da relação fraternal, mesmo com
o abandono anterior.
A
separação do casal foi um mistério, até eles parecem encarar como
algo subjetivo demais, embora a diferença de idade entre eles chame
a atenção, afinal a personagem Jane é interpretada pela belíssima
Nastassja Kinski, que estava bem jovem na época do filme. Sua
atuação, por sinal, mesmo sendo em poucos momentos, é uma das
melhores no filme, sua
presença é muito marcante e
marca o início do clímax. O filme praticamente ganha cores fortes, quando ela aparece, e o vermelho marcante se destaca.
Travis
é como um errante, um samurai sem o seu senhor, que está tão
perdido após a quebra da família que até fica
com a memória
afetada.
A medida que vai voltando à realidade, ele então decide procurar a
ex mulher e leva consigo o filho, que sente uma falta comovente e
justa da mãe biológica. É mais um daqueles filmes que nossos
preconceitos, julgamentos, vão sendo quebrados aos poucos, e é bem
fácil de se identificar, ao menos, com as aspirações, desejos, dos
personagens. Interessante
como o
diretor vai evoluindo a trama até entendermos melhor os dramas e
escolhas dos personagens. Mas o melhor de tudo é essa possibilidade
de retomada das coisas, quebrando a ideia de que o tempo cura tudo e
por isso podemos sentar e esperar a morte chegar, já se dando por
vencidos. Aqui não somente a esperança é deixada como desfecho,
mas sim o fato em si de que as coisas já começaram a melhorar.
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Fontes:
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